O maior perdedor da história do Emmy | JUDAO.com.br

Cê acha que a maior premiação da TV americana vive esnobando aquela sua série favorita? Deixa a gente te contar a história deste cara aqui…

Em um papo com a Variety em 2015, a dupla Robert Carlock e Mike Schur, ambos showrunners de Unbreakable Kimmy Schmidt, brincou um pouco a respeito das muitas indicações ao Emmy que Amy Poehler recebeu, sem nunca ter ganhado nada — fosse por Parks and Recreation, fosse por suas participações no Saturday Night Live ou mesmo pela apresentação do Globo de Ouro ao lado da amiga Tina Tey (este último acabaria garantindo a tão sonhada estatueta para a atriz no ano passado, depois de 17 indicações diferentes desde 2008).

“Isso é muito maluco. Ela e o Jon Hamm, aliás, fizeram uma coisa alguns anos atrás — uma festa para os perdedores do Emmy, anunciada antes mesmo de descobrirem os vencedores de cada categoria, porque ambos tinham certeza de que iam perder”, conta Schur, lembrando ainda que Hamm tinha sido indicado outras 15 vezes antes de faturar, em 2015, como o Don Draper de Mad Men.

“Você só podia ir na festa se tivesse perdido. Se fosse um vencedor e mesmo assim quisesse entrar, tinha que deixar o troféu na porta com os seguranças e ainda fazer uma doação para a WWO (Worldwide Orphans). A Julia (Louis-Dreyfus) foi e fez uma baita doação, porque naquele ano ela tinha vencido por Veep“. Se a gente lembrar que ela vem papando Emmy atrás de Emmy anualmente desde 2012, a tal festa poderia ter sido em qualquer momento nos últimos cinco anos.

“A Amy e o Jon são muito ruins neste negócio de atuação”, brincou Schur. “Cara, eles são uma merda. É vergonhoso, não sei porque eles não desistem”, completou Carlock, dando continuidade à sacanagem. Se a história da festa é verdadeira a gente não sabe. Mas que a dupla de anfitriões nos perdoe, porque os números deles são impressionantes, só que não tem perdedor maior nesta história toda de Emmy do que Bill Maher.

Até 2014, considerando sua carreira não apenas como apresentador de talk show (primeiro do Politically Incorrect With Bill Maher, na ABC, e depois do atual Real Time With Bill Maher, na HBO), mas também como comediante de especiais de stand-up e ainda como roteirista e produtor, Maher vinha perdendo de 32 a 1. Sim, isso mesmo que você leu. Bill Maher foi indicado 32 vezes e só ganhou UMA, e mesmo assim como produtor executivo da série de documentários da Vice. “Eu não aceitei. Não vou levar um prêmio por um programa que não é o meu”, afirmou, ano passado, para o podcast Awards Chatter, do THR.

À frente de seus próprios programas, no entanto, ele vem apanhando desde 1995, perdendo direto pra caras como Jay Leno, David Letterman, Conan O’Brien, Stephen Colbert e Dennis Miller.

De 2014 pra cá, foram mais cinco indicações e nenhuma vitória – considerando que, no Emmy deste ano, ele concorre tanto como produtor dos documentários da Vice quanto como apresentador do Real Time, concorrendo como “best variety talk series” com Full Frontal With Samantha BeeJimmy Kimmel Live!Last Week Tonight With John OliverThe Late Late Show With James CordenThe Late Show With Stephen Colbert.

Maher não é do tipo que gosta muito de falar sobre o assunto, mas em um vídeo de 2008 para o canal GoldDerby, o jornalista Tom O’Neil aproveitou que tava conversando com o cara sobre o documentário Religulous, que ele escreveu e protagonizou, para abordar o tema. Na época, o placar ainda tava 21 x 0. “Por que eu nunca ganhei um Emmy? Bom, eu uso isso como uma medalha de honra. Porque eu sou um gangsta, então não espero que eles deem um pra mim”.

Depois de tirar onda e tentar sair por cima, no entanto, o apresentador quis deixar claro que se orgulha de tamanha quantidade de indicações. “Isso é muito bom. Cê sabe, tem centenas de pessoas que gostariam apenas de ser indicadas. Então, tento enxergar sob esta perspectiva”.

Muitos especialistas consideram uma surpresa a indicação do programa de Maher este ano — primeiro porque a competição está muitíssimo mais acirrada, ainda que ele mesmo defenda que caras como Colbert e Jon Stewart “emprestaram” seu formato original mas não dizem nada que desafie o seu público. “Não tem culhão em fazer isso. Isso é só puxar saco, falar apenas o que os liberais que te assistem aplaudiriam. Eu sei fazer isso. Eu poderia fazer isso, sei o que eles querem ouvir. Não é o que eu quero fazer”. Hummmmmmmmm. Sei.

Mas além disso, pouco antes da votação do Emmy efetivamente começar, Bill se meteu em uma controvérsia envolvendo uma palavra racista, que fez com que parte do público pedisse a sua cabeça para a HBO e ele fosse considerado carta fora do baralho pra premiação este ano. Em entrevista com um senador do Nebraska, Ben Sasse, Bill foi perguntado “você gostaria de vir trabalhar no campo com a gente?”, e aí respondeu: “Senator, I am a house nigger”. A expressão é referência direta aos negros escravos que trabalhavam na casa dos homens brancos, tratados de maneira diferente dos escravos que trabalhavam na lavoura.

No programa seguinte, Maher se desculpou, na entrevista com o apresentador de rádio e professor de sociologia Michael Eric Dyson: “Eu fiz uma coisa ruim. Para os meus amigos negros, isso causou dor. Não importa se não foi dito na maldade. Machucou as pessoas e por isso me desculpo. Não sou este tipo de babaca”. Só que, depois, no mesmo episódio, o entrevistador esteve frente à frente com Ice Cube... que não deixou barato. “Algumas vezes você soa como um caminhoneiro caipira. Esta palavra é como uma faca. Você pode usá-la como uma arma ou como uma ferramenta. Ela foi usada durante muito tempo como uma arma pelos brancos. Mas não vamos mais deixar isso acontecer. Esta palavra é nossa, agora. E vocês não podem mais pegá-la de volta”.

Na real, nem foi a primeira vez que Bill Maher usou a expressão em rede nacional, já que em 2010, em um episódio do Larry King Live, partiu em defesa de Barack Obama contra o historiador e escritor Newt Gingrich, que afirmava que o presidente dos EUA à época tinha uma “visão de mundo queniana anticolonialista”. E foi ai que Maher soltou: “pra ele, queniano é uma outra palavra para nigger”.

Justamente por isso, caras como Nick Cannon (ex-apresentador do America’s Got Talent), o músico Chance the Rapper e o líder do movimento #BlackLivesMatter, DeRay McKesson, vinham ativamente pedindo pro cara ser mandado embora e seu programa ser cancelado.

A indicação, mais uma delas, acabou vindo. E não, o programa não será mandado pelos ares, já que HBO renovou a parada até 2020. Mas adivinha só se Bill Maher não vai ter mais um risquinho no placar para ampliar o seu recorde na fila? Pois é.