Contanto que isso os faça felizes
O que eu desejo pra vocês é o amor que desmonta a gente, um passarinho cantando na janela e fazendo companhia na noite de insônia, a chuva caindo em suas cabeças. Quero mais é que vocês vejam crianças crescerem, que elas tirem o chão de vocês, que elas não te ensinem nada nem aprendam nada com vocês, que vocês só se amem sem esperar, como dito, nada.
Desejo que tenham uma boca para beijar, uma vida para chamar de sua, alguém que divida um monte de amigos com vocês, um vinho barato, uma cerveja gelada e um queijo bom pra deixar as coisas acontecerem. Quero mais é que a camisinha seja parte do prazer de vocês, que a pizza barata seja também gostosa, que as séries lhes mostrem novos universos, que vocês leiam um monte de livros e gibis, bons e ruins, porque os ruins é que são bons pra passar o tempo.
O que eu não desejo é que vocês odeiem, quero que o respeito não se perca, que aceitem que criticar o sotaque do Wagner Moura é uma forma freudiana de boteco de esconder suas próprias falhas, que preferir Marvel ou DC, PT ou PSDB, punk ou psicodelia, cinema ou teatro, chá ou café, ser ativo ou passivo, ficar ou fugir, enfim, que suas escolhas não te definam, já que a gente não sabe de nada.
No final das contas, eu quero mais é que vocês façam o que quiserem, contanto que isso os faça felizes, mas que parem com brincadeira de mão, de golpe, de tirar mais de uma selfie por dia (acho essa uma cota totalmente dentro dos parâmetros democráticos), de encher a paciência do amiguinho com papo furado de economia, de Uber, sobre como viver a vida, sobre evolução espiritual, fé e autoconhecimento.
No final das contas, no entanto, isso é só o que eu quero, mas gosto de acreditar que o Abujamra e o Brecht concordam comigo.