A falta de diversidade na crítica | JUDAO.com.br

A importância do cinema não mora só nas tecnicalidades, nunca morou. Já passou da hora de vermos a diversidade que tanto pregamos na crítica também.

Passou o natal, o ano novo já tá aí na esquina e pra quem acompanha esse MEIO audiovisual, já sabe: está chegando AQUELA época do ano, a das premiações. É Globo do Ouro, BAFTA, SAG, Oscar... E a gente precisa falar sobre isso.

No comecinho do ano rolou aquele problema com Rubens Ewald Filho. Quando Frances McDormand, que venceu o Oscar de melhor atriz por Três Anúncios Para Um Crime, subiu ao palco, ele disse que era “interessante que essa senhora não é exatamente bonita, deu um show de bebedeira no Globo de Ouro e, de repente, o filme é um sucesso”. E como se essa bela ESTUPIDEZ não bastasse, ele coroou a transmissão ao afirmar “essa moça na verdade é um rapaz” ao ver a atriz e mulher trans Daniela Vega no palco. O clima ficou estranho, a TNT tentou dar aquele talento no Twitter falando que ela era uma mulher SIM, mas a merda já tava feita e o restinho de necessidade de ter o cara lá evaporou — e isso ficou claro quando o nosso texto sobre o assunto foi um dos mais lidos de 2018.

Lá pra Março, o crítico resolveu se defender em uma nota, dizendo que havia “confundido termos técnicos”. Mandou o já conhecido “tenho amigos que são”, falando sobre sua relação com Phedra de Córdoba, e terminou dizendo que esperava que “tudo isso que aconteceu sirva para se falar ainda mais sobre o assunto, para se promover ainda mais esta causa. Que pessoas leigas com os termos técnicos, e me coloco neste caso, aprimorem seu vocabulário nesse sentindo”. Bonitinho, ele. Mas nenhum “A” sobre a Frances, né? Um gerenciamento de crise de cada vez, por favor.

Neste ano, aprendemos também um fato curioso: existem duas vezes mais críticos de cinema HOMENS. Feito pela Universidade Estadual de San Diego, nos EUA, esse estudo mostrou como essa maioria acaba impactando MUITO a crítica e recepção de filmes com protagonistas femininas ou diretoras no comando. O estudo revelou, inclusive, que mulheres eram, inclusive, as que mais usavam os NOMES das profissionais ao falar sobre suas obras. Pois é, a coisa tá nesse nível mesmo.

Como apontado no nosso texto, a gente tá acostumado a ter um ~especialista comentando premiações junto com a tradução simultânea. Explicar detalhes e a importância de certos momentos pra todo mundo que assiste é uma ideia legal, mas mal executada há tempo demais. Zé Wilker acabou virando piada recorrente e, mais recentemente, Gloria Pires e seu “não sou capaz de opinar” deixaram as pessoas constrangidas e se perguntando, afinal, qual era o critério para integrar um time de comentaristas.

Existem alguns rumores sobre, após essa história toda, ele deixar de integrar oficialmente as transmissões da TNT a partir do ano que vem. Falaram sobre escanteio total, sobre comentários previamente gravados… enfim. Nada confirmado. Mas se a ideia de ter comentaristas é pra esclarecer, que escolham pessoas que compreendam não só coisas sobre planos, fotografia e montagem, mas que tenham noção do seu contexto histórico social. A importância do cinema não mora só nas tecnicalidades, nunca morou. Já passou da hora de vermos a diversidade que tanto pregamos na crítica também.