Não, ela não precisa daquele decote. Mas eis um palpite sobre PORQUE ele ainda existe.
A gente já se acostumou: nos quadrinhos, os super-heróis lutam com armaduras, roupas especiais, escudos e totalmente cobertos. As super-heroínas, no entanto, parecem quase sempre estar usando uma variação de roupa de banho. Como se tivessem planos de ir a uma festa na piscina depois de salvar o dia ou sei lá — e mesmo as que estão de colãs e macacões sempre parecem ter ALGO MAIOR a ser ressaltado do que seus músculos.
Essas imagens integram nossa cultura e tornaram-se parte do que definimos como uma mulher bonita. Mas, de uns tempos pra cá, temos discutido bastante sobre esse tal padrão estético e suas consequências em nossas vidas. Falar sobre isso anda gerando bons resultados, e em Vingadores: Guerra Infinita, as fantasias de várias heroínas aparecem BEM mais condizentes com o contexto de PORRADARIA COMENDO SOLTA.
Menos pele aparecendo, mais proteção contra seus agressores, mais PINTA de quem tá indo à luta... menos para a Feiticeira Escarlate.
Elizabeth Olsen, que interpreta a personagem no Universo Cinematográfico da Marvel, deu uma entrevista à Elle e falou um pouco sobre o decote em seu figurino: “eu gosto de corpetes, mas gostaria que fosse um pouco mais fechado. Todas têm peças que cobrem mais o corpo — Tessa Thompson tem, Scarlett tem. Eu gostaria disso, também. É engraçado porque de vez em quando eu olho em volta e penso ‘uau, eu sou a única com decote’, e isso virou uma piada constante, já que eles não evoluíram tanto as roupas da minha personagem.”
Elizabeth tem razão. No meio de tantos perigos, armas e lutas corporais, ter o tórax e um pouco dos seios à mostra não parece algo muito seguro. Assim, tá que a PRIMEIRA aparição dessa personagem foi só de maiôzinho, capa e uma headband, mas mesmo com tanta coisa mudando, ainda há muito a se adequar. E talvez exista uma explicação para manter esse decote por mais tempo.
Essa onda de reformulações de personagens tão presentes na cultura pop gera também um forte movimento de aversão. A internet vira palco de INÚMEROS comentários que, de maneiras esdrúxulas, procuram provar que mudar personagens para que sejam mais coerentes é algo ruim. Nessa semana, inclusive, saiu o trailer do novo filme do ~universo Scooby-Doo~, Daphne & Velma. Lá, vemos as duas personagens adolescentes, mais novas, mas CLARO que alguém tinha que dizer “o feminismo estragou até Scooby-Doo”.
Boa parte do público masculino é MUITO relutante em perceber que há necessidade de representar as mulheres de outras maneiras. Deixar de enxergar nossos corpos como objeto, nossas mentes como vazias e existência como mero enfeite vai contra TUDO o que lhes foi ensinado até agora. Culpa de Hollywood, dos escritores, dos produtores de televisão, sim, mas DESSES caras também, que se negam a reconhecer progresso por medo de mudanças nesse mundo tão confortável que é o dos homens.
De qualquer maneira, vamos torcer pra uma melhor versão do figurino da Feiticeira Escarlate. E de todas as outras. Podem continuar ~xingando muito no Twitter, reclamando pros amigos, arrumando desculpas esfarrapadas para justificar machismo. A INDIGNAÇÃO provocada pela falta de fetichização em mulheres na mídia só prova o quanto isso é necessário mesmo. ;)
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