Claramente diferente do disco de estreia, pode causar um certo estranhamento para os fãs. Mas que funciona, ah, isso funciona
Formado em 2011 na Suécia, o Blues Pills surgiu como uma jaia rara aos ouvidos. A razão para isso foi o autointitulado disco de estreia do quarteto, lançado em julho de 2014 pela Nuclear Blast. Trazendo uma sonoridade vintage inspirada na tradição setentista e tendo a vocalista Elin Larsson como figura principal, a banda foi super bem acolhida pelo público e pela crítica, obtendo reconhecimento imediato de ambos.
Agora, dois anos depois, o Blues Pills retorna com o seu aguardado segundo disco. Lady in Gold saiu no dia 5 de agosto e tem produção de Don Alsterberg, com quem a banda também trabalhou em seu debut.
O álbum marca a estreia em estúdio do novo baterista, André Kvarnström, substituto de Cory Berry. Completam o time o guitarrista Dorian Sorriaux e o baixista Zach Anderson.
Em relação ao primeiro CD, percebe-se uma incursão mais forte pelo soul e um certo afastamento do hard cru apresentado anteriormente. As influências de Janis Joplin agora ganharam a companhia da inspiração de Aretha Franklin, com Elin soando como uma espécie de Adele nascida em New Orleans. A estética empoeirada segue como protagonista, e é adornada por uma presença maior do órgão Hammond, tornando a música do Blues Pills, em certos aspectos, até mesmo um tanto sombria.
Todos esses ingredientes dão mais profundidade à sonoridade da banda e tornam possível a exploração de novos horizontes, como já fica claro na abertura com a ótima faixa-título.
Ainda que o apego exagerado a elementos do rock dos anos 1970 às vezes soe cansativo e um tanto monocromático em alguns momentos, principalmente pela sensação transmitida pela própria banda de que é capaz de alçar vôos maiores se tiver a coragem de se libertar dessa característica, é fácil apontar acertos neste segundo trabalho do Blues Pills.
Burned Out é um deles, com seu groove viajante que remete ao Jefferson Airplane. Bad Talkers é outro, com a banda encarnando o Big Brother and The Holding Company, banda solo de Janis. You Gotta Try é um soul blues delicioso, e reforça o clima predominantemente contemplativo do disco.
A dobradinha I Felt a Change e Gone So Long, propositalmente colocadas lado a lado no tracklist, funciona como uma longa suíte onde a banda escancara o seu flerte com o soul. Ambas as composições destacam em sua plenitude o excelente vocal de Elin Larsson, e são uma espécie de exercício futuro de como Adele soaria se optasse por uma produção menos grandiosa e incorporasse influências da música norte-americana em suas composições.
Lady in Gold é um álbum claramente diferente da estreia do Blues Pills, e isso pode estranhar um pouco os fãs do primeiro trabalho. Mas, superado o susto inicial, o que temos é um disco muito bem feito e composto, que mostra uma banda com coragem suficiente para sair de sua zona de conforto e evoluir a sua música. Um belo segundo capítulo de uma carreira que promete entregar vários passos interessantes para quem persistir com eles.
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