Marvel Comics dá indícios de um novo reboot. Provavelmente é um alarme falso, mas DEMOROU pra editora zerar tudo
16. DEZESSEIS. Esse foi o número de teasers diários da Marvel pra divulgar a edição 2015 de Guerras Secretas, o próximo crossover épico da editora. A maioria com retornos de sagas antigas com novos detalhes, encontros inusitados ou até explorando um possível FIM do Universo Ultimate.
Mas aí veio o último teaser: “TUDO TERMINA”. E com data pra PRIMAVERA de 2015 dos EUA, ou seja, entre março e junho – e antes das outras imagens, programadas para o Verão.
Será um reboot do Universo Marvel 616, aquele mais conhecido e adorado por todos? Hm... Se me permite dizer, não ACHO que seja pra tudo isso – inclusive porque tudo terminaria ANTES de Guerras Secretas. “Nós respeitamos o nosso passado”, também disse o editor-chefe Axel Alonso na San Diego Comic-Con de 2012, quando o mercado ainda digeria o resultado positivo do reboot da DC no ano anterior. Mas, quer saber? Já PASSOU da hora da Marvel começar tudo novamente. POR RESPEITO ao próprio passado.
Fato: Stan Lee foi a mente motora do Universo Marvel lá nas origens. Claro, Jack Kirby, Steve Ditko, John Romita e outros grandes artistas deram o toque de arte, de criatividade para a Casa das Ideias. Mas foi Lee que deu o universo coeso, que fazia o quebra-cabeça se encaixar – seja na mesma história do mesmo personagem, seja entre inúmeras histórias de diversos personagens. Esse universo coeso foi o grande trunfo da editora – e, hoje, é o grande trunfo da Marvel Studios.
E, veja bem, eles fizeram um bom trabalho com esse legado até os anos 80. A partir daí, ficou difícil manter todas as conexões, todas as histórias. A origem do Homem de Ferro não é a mesma dos anos 60 – não que tenha sido desconsiderada, mas simplesmente teve que ser atualizada. Guerra do Vietnã, Coreia, Iraque. Em outros casos, como o Magneto, não há jeito: o vilão tem a origem no Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. Quantos anos ele teria hoje? 85? Aí, tiveram que inventar uma bobagem sobre ele envelhecer e rejuvenescer novamente... A emenda ficou pior do que o soneto, sempre fica.
Não é só isso: se é difícil pro leitor habitual entender tantas sagas, tanta cronologia, tantas mudanças, imagina pro novato, pro cara que saiu do cinema AGORA e quer comprar uma revistinha? É impossível. Por isso a Marvel passou a investir em relaunchs. Basicamente, de tempos em tempos, relança as revistas da casa com numeração zerada e status quo novo pro personagem – ou com outra pessoa por baixo da máscara. Nos últimos meses o Homem-Aranha passou por isso DUAS vezes. A mesma coisa com o Homem de Ferro. Thor e Capitão América tiveram as identidades trocadas. E são apenas alguns exemplos, tem muito mais.
A DC, por outro lado, provou que um reboot pode facilitar as coisas. As histórias começam do zero, tanto para o novo leitor quanto para o antigo. Só erraram, no caso, ao dizer que ALGUMAS das histórias antigas ainda contam. Foi um “soft-reboot” em alguns casos (sendo o mais notório o dos Lanternas Verdes).
Oficialmente, o “Tudo termina” não tem explicação. O que se sabe é que Guerras Secretas de 2015 trará um novo Battleworld (na tradução, Mundo Bélico) – só que, diferente da saga de 1984 (quando eram heróis e vilões do Universo Marvel 616), teremos versões de diferentes personagens vindos de universos alternativos e realidades paralelas da Casa das Ideias. Vários Homens de Ferro, Thors, essas coisas.
Já o teaser em vídeo, divulgado depois das imagens, revela que algo irá juntar essas realidades diferentes – todas elas baseadas em sagas ou elementos importantes do passado recente. Uma galera ficará no mesmo planeta e, provavelmente, lutando entre si. Talvez tenhamos um novo Beyonder? Não a entidade, mas alguém assumindo o seu papel como elementos agregador, do tipo “juntem-se aí e batalhem como se não houvesse amanhã apenas para o meu deleite?”. Provavelmente, sim.
Outro detalhe que o trailer deixa escapar, principalmente quando temos as Terras “colidindo”, é a tal da Incursão. Quem está acompanhando a saga cósmica Infinito, atualmente publicada no Brasil, sabe bem do que estamos falando. Enquanto a ancestral raça conhecida como Os Construtores mobiliza não apenas os maiores guerreiros do nosso planeta, mas sim todos principais impérios do universo para impedir a onda de destruição que eles iniciaram, caminhando em direção à Terra (sempre ela...), algo vai misteriosamente acontecendo ao mesmo tempo, nas sombras, sem que o restante da comunidade heroica desconfie.
Um problema no contínuo espaço-tempo, com foco na Terra, dá início a uma espécie de “efeito cascata”, fazendo com que as diversas Terras de universos paralelos se aproximem umas das outras. Isso não seria de fato um grande problema – mas o lance é que elas tentam ocupar o mesmo espaço e, sabemos bem, que dois corpos não ocupam mesmo lugar no espaço (pelo menos desta lição você deve lembrar das aulas de física). A incursão tem um tempo determinado para se completar. E se o processo for finalizado, os dois universos vão se destruir.
Logo, os chamados Illuminati, a ordem formada pelos mais poderosos, inteligentes e influentes heróis da Terra (no caso, Namor, Homem de Ferro, Doutor Estranho, Reed Richards, Pantera Negra, Raio Negro e o Fera – representando o falecido Charles Xavier) descobrem o que está pegando e também percebem que só existe uma forma de salvar nosso planetinha azul. Simplesmente destruindo o outro planetinha azul. Sim. Para salvar o nosso universo e o universo alheio, pelo menos um planeta deve morrer. E que seja o dos outros, certo? Com base neste dilema ético – “para poupar as nossas bilhões de vidas, vamos exterminar os bilhões de vidas do outro lado?” – estes homens brilhantes criam uma espécie de bomba de antimatéria que pode varrer as outras Terras do mapa.
Adivinha só, querido leitor: sabia que isso pode existir DE VERDADE? É o que o cientista Howard Wiseman, líder de um time de estudiosos da Griffith University, na Austrália, garante. Versões múltiplas do nosso universo podem co-existir, se sobrepor e inclusive interagir umas com as outras num nível quântico. Leia aqui para explodir a sua cabeça.
Mas, voltando aos gibis da Marvel: quer saber de uma coisa? Não por acaso, o escritor de Guerras Secretas é o Jonathan Hickman, que adora esta coisa de grandes cenários, várias tramas acontecendo ao mesmo tempo, teorias científicas sobre realidades paralelas e como elas impactam umas nas outras. E Hickman é, bingo, também o escritor de Infinito. Alguém mais vê as peças se juntando aqui?
A Marvel não paga os nossos salários (infelizmente!), mas, se trabalhássemos lá, cumpririamos realmente a promessa de ENCERRAR o Universo Marvel 616 ainda no primeiro semestre de 2015 e usaríamos a nova Guerras Secretas logo como caminho para o reboot. Imagina: temos uma luta épica, Terras colidindo, heróis diferentes lutando...
(Aliás, reparou como isso lembra MUITO Crise nas Infinitas Terras, que gerou o primeiro reboot da DC? Já falamos dessa semelhança no JUDÃO, mas agora tudo fica AINDA mais próximo. Naquela saga, Terras morreram – e, no final, ainda tivemos quatro Terras se juntando, dividindo o mesmo espaço por algum tempo).
As referências às sagas anteriores não seriam apenas algo caça-níquel – mas sim uma homenagem, uma reinterpretação daquilo que mais gostamos nessas décadas e décadas de Universo Marvel. Um RÉQUIEM daquilo que Stan Lee criou nos anos 60.
A essa altura, BOOM, tudo já teria terminado, com as Guerras Secretas sendo apenas o último suspiro. Depois do crossover e da treta resolvida, teríamos uma página em branco. Um novo Universo Marvel, para novos tempos. Não como foi o Universo Ultimate, criado para reinterpretar os super-heróis em paralelo da linha de gibis tradicionais; ou como o Novo Universo, com heróis totalmente novos. Algo no meio termo disso tudo, mas com o pé na genialidade sessentista da Casa das Ideias.
Pra não dizer que não sonhamos esse sonho sozinhos, o vídeo de Guerras Secretas traz no final o logo “All New Marvel”. Antes que alguém diga que já estamos nessa fase, não é bem assim. Atualmente temos o All New Marvel NOW!, novo relaunch com base no relaunch anterior (pois é), o Marvel NOW!. O logo do vídeo é diferente – dando margem pra essas especulações.
Mas, quer saber? Nada disso deve acontecer. O que seria burrice. Se nos permite o atrevimento, Alonso, fazer logo o reboot total da cronologia É respeitar o passado. Principalmente porque finalmente vão parar de ficar retocando esse passado.
E que comece o mimimi. ;)