HQs pra ler DEPOIS de ver Pantera Negra | JUDAO.com.br

Gibis que, de alguma forma, inspiraram o que você viu no cinema ou que se relacionam com o que foi contado no filme. Um guia pra você que não sabe por onde começar a ler as HQs do herói. :)

SPOILER! Você já sabe: estreia um filme baseado em histórias em quadrinhos, lá vem a gente fazendo aquela lista de HQs pra ler depois de assistir ao filme, pesquisando em décadas de cronologia o que é que pode ter inspirado os roteiristas e o diretor, além de algumas outras que ajudam a entender melhor algo ou alguém.

Inclusive, talvez seja o caso de você ir lá no Catarse.me/JUDAOcombr e apoiar a gente, pra garantir que todos os milhões de filmes que estão vindo por aí ganhem o devido tratamento. Porque, né, sabe como é... :)

No caso do Pantera Negra, a missão é duplamente importante. Porque não apenas estamos falando de um personagem que está vivendo um momento igualmente incrível nas HQs e que muito mais gente deveria estar lendo, mas sim também porque o monarca de Wakanda sempre foi um herói icônico, com décadas de histórias inigualáveis, mas desconhecido do grande público e eclipsado pelos Homens-Aranha, Homens de Ferro e Capitães América da vida.

Esta é a hora de T’Challa. E assim como a gente acha que você tem MUITO que ver o filme dele nos cinemas, seria sensacional se você também deixasse um pouco os medalhões óbvios de sempre e lesse um pouco do que se passa por trás dos portões da Cidade Dourada. Vai valer a pena. Opção é o que não falta!

Divirta-se!

A Primeira Aparição

Criação da dupla Stan Lee e Jack Kirby, o personagem deu primeiro as caras como mero coadjuvante nas edições 52 e 53 de Fantastic Four, lá no ano de 1966. Só que, em meio ao cenário político da época, um ano depois da morte de Malcolm X, pensa na força que teve este recado?

Tamos falando aqui do surgimento de um herói negro, vindo de uma nação africana altamente tecnológica, um sujeito com a mente analítica tão afiada quanto as suas próprias habilidades de guerreiro, encontrando jeitos de derrotar um a um os integrantes do Quarteto. O objetivo? Testar seus poderes para saber se eles seriam dignos de saber o segredo do vibranium e, portanto, ajudá-lo a deter o avanço do explorador Ulysses Klaw em busca do raro material.

Aqui no Brasil, dá pra encontrar estas duas histórias juntinhas na edição 26 da coleção Os Heróis Mais Poderosos da Marvel, da Editora Salvat, dedicada integralmente ao Pantera Negra.

A Luta pelo Trono

Embora, no filme, M’Baku seja um personagem e tanto, nas HQs ele é um vilão BEM merda. Parte de um culto renegado a um certo Gorila Branco, ele quer destronar T’Challa para retornar Wakanda ao seu estado mais primitivo. E aí ele MATA um gorila branco, se banha com seu sangue e come sua carne, ganhando poderes físicos sobrehumanos e adotando este nome BOSTA de Homem-Gorila (percebam o quanto isso é bizarro em diversos níveis diferentes).

Sua primeira aparição foi em Avengers Vol. 1 #62, de março de 1969. Criação de Roy Thomas e John Buscema, ele tenta tomar o lugar de seu maior inimigo enquanto o regente está fora em uma de suas muitas missões. Mas quando T’Challa leva os seus parceiros heroicos para ajudar a deter uma ameaça congelante (?) em seu reino, o sujeito que ainda por cima tem a cara de pau de vestir uma pele de gorila como uniforme recebe os Vingadores na base da bala.

No fim das contas, claro, apesar de uma batalha épica (cof cof) na frente da imensa estátua do deus-pantera Bast, M’Baku leva a pior. Mas ele, obviamente, voltaria. Mas ah, se voltaria...

A história foi publicada no Brasil na edição de número 42 da revista Heróis da TV (Editora Abril), de dezembro de 1982.

A Fúria do Pantera

O ano era 1973 e finalmente o Pantera Negra ganharia uma chance de ser protagonista da porra toda, ainda que dentro do título Jungle Action, originalmente herdado da Atlas Comics. Só que, na época, o gibi era apenas uma coleção de histórias estereotipadas diretamente dos anos 50, com aventureiros brancos salvando ou lutando contra a ameaça africana. Coube a Don McGregor a missão de trazer o Pantera, que já tinha se tornado integrante dos Vingadores, de volta aos holofotes... e a Wakanda.

Depois de algum tempo salvando o mundo com os Maiores Heróis da Terra, ele volta ao seu reino e o descobre ameaçado por uma revolução (a primeira de muitas, aliás), comandada por um inimigo de nome Erik Killmonger. O grandalhão, com uma surpreendente força física e LADEADO por camaradas como Venneno e Rei Cadáver (nem pergunta...), na verdade se chamava N’Jadaka e era filho de um homem forçado a ajudar Ulysses Klaw e seus mercenários em sua primeira invasão. Com a derrota do vilão, o pai de Killmonger foi morto e o garoto exilado nos EUA, onde nutriu um imenso ódio pela família real. E aí começou a tramar sua vingança...

No fim das contas, o arco A Fúria do Pantera, que durou do número 6 até o 18, ao longo de dois anos e mais de 200 páginas, é considerado a primeira graphic novel da Marvel, uma trama fechada com começo, meio e fim. E se você quiser ler, você acha a história completa no encadernado de número 102 da coleção de graphic novels da Salvat.

The Client

Uma coisa é preciso admitir: com todo o respeito aos roteiristas que passaram antes e mesmo depois pelo Pantera Negra, nunca vai existir alguém que foi tão marcante e importante para o herói como o conhecemos hoje, principalmente nesta versão cinematográfica, do que Christopher Priest. Em 1998, ainda dentro do selo Marvel Knights (aquele dedicado aos heróis urbanos da Casa das Ideias, com mais liberdade no que dizia respeito à violência, por exemplo), ele abriu os trabalhos com um arco de histórias que ajudou a redefinir todo o mito de Wakanda.

A arte brutal de Mark Texeira só ajuda a tornar este Pantera, investigando uma trama de corrupção numa de suas instituições filantrópicas em pleno coração dos EUA (e deixando as sementes de um golpe de estado para trás), mais assustador e imponente, digno de respeito. Definitivamente, foi a partir deste momento que o herói começou a ser chamado, em tom de brincadeira, de “Batman da Marvel”.

Também foi só aqui que acabamos sendo apresentados ao esquadrão de guerreiras de elite conhecidas como Dora Milaje, as fieis protetoras do Reino de Wakanda, assim como aos Cães de Guerra (ou Hatut Zeraze), a polícia secreta do exército wakandano, a Nakia (que nos gibis é uma jovem integrante da corte real que se torna obcecada pelo Pantera Negra e, anos mais tarde, torna-se a vilã Malice) e ao irmão adotivo de T’Challa, Hunter, que mais tarde se tornaria o Lobo Branco.

Ah, claro, é aqui que também dá as caras pela primeiríssima vez um certo Everett K. Ross, funcionário do Departamento de Estado da Terra do Tio Sam que tem que servir de cicerone para o monarca de Wakanda e que, de alguma forma, se torna um de seus melhores amigos e também recurso cômico recorrente em suas histórias.

Por motivos que simplesmente não dá pra entender, dada a quantidade de porcarias publicadas na época, esta fase permanece inédita por aqui. Mas aí, bom, a gente nem precisa te dizer, né? ;)

Quem é o Pantera Negra?

Em 2005, o diretor, roteirista e produtor, Reginald Hudlin, na época presidente do canal BET (Black Entertainment Television), foi convocado a ajudar a recontar a origem do Pantera Negra numa linguagem bem cinematográfica e com uma roupagem ainda mais pop — tudo com o traço marcante de ninguém menos do que John Romita Jr. Embora este arco de histórias esteja longe de ser uma unanimidade, trata-se de um excelente ponto de partida para quem quiser entender o personagem: toda a coisa da tradição do manto do Pantera, Wakanda se mantendo escondida dos olhos do restante do mundo, os exploradores gananciosos tentando roubar o vibranium...

E, claro, o reencontro de T’Challa com Ulysses Klaw, o homem que matou seu pai anos atrás — e que, descobrimos aqui, é herdeiro da linhagem de Klaue, líder racista de um grupo de soldados brancos que, depois de fazer das suas na África do Sul, acabou tentando invadir Wakanda. TENTANDO, é claro. Porque, no fim, sempre teve um Pantera Negra por lá.

Além da reimaginação de um confronto entre o Capitão América enquanto ícone da Segunda Guerra Mundial e um dos antepassados de T’Challa, aqui somos apresentados a uma personagem que se tornaria fundamental na mitologia do Pantera: Shuri, a irmã do rei.

Se quiser saber Quem é o Pantera Negra?, as edições de 1 a 6 deste Black Panther (Vol. 4) estão compiladas no encadernado de número 36 da coleção de graphic novels da Salvat.

A Noiva do Pantera

Em 2006, ainda à frente do título, Hudlin resolveu retomar um antigo relacionamento de T’Challa, tratado como o grande amor de sua vida — que, não, nos gibis não é a Nakia, mas sim uma certa Ororo Munroe, a mutante dos X-Men conhecida como Tempestade. E aí que entre as edições 14 e 18 de Black Panther, não apenas o rei-herói descobre o quanto ainda a ama como... a pede em casamento. E o mais legal: ela aceita!

Chamado sem exageros pela Marvel de “Casamento do Século”, o relacionamento entre os dois durou bons seis anos, fazendo inclusive com que a Guerra Civil entre Capitão América e Homem de Ferro fosse provisoriamente interrompida para que todos pudessem ir à cerimônia em que Ororo se tornou rainha. O casal funcionava perfeitamente, de maneira equilibrada, fazendo inclusive com que muitas vezes a senhora dos trovões ajudasse a baixar a bola do monarca irritadinho. A decisão de separá-los foi uma imensa cagada editorial, do tipo “ah, os fãs estão com saudades da Tempestade nos gibis dos X-Men”. Sei. Como se o Wolverine participar de 47 equipes diferentes ao mesmo tempo fosse aceitável mas ela se dividir entre dois gibis, não. CLARO.

Aqui no Brasil, esta fase do noivado/casamento saiu nas finadas revistas Marvel Action, da Editora Abril, nos números de 5 a 8, entre os meses de Maio e Agosto de 2007.

Conheça Wakanda e Morra

Toma aqui, por exemplo, uma destas ÓTIMAS histórias de T’Challa com a Tempestade — e que, ao mesmo tempo, é a prova de como Wakanda é um reino que sabe MUITO bem se defender sozinho, sem precisar da ajuda de um bando de justiceiros fantasiados.

Estamos no meio da Invasão Secreta, 2008, aquela iniciativa skrull de ter operativos infiltrados na nossa sociedade (incluindo a dos heróis) durante muitos anos enfim chegando ao seu ápice. E aí que um destacamento destes alienígenas que mudam de forma resolve tomar conta de um paraíso de tecnologia chamado Wakanda. Os planos de dominação têm que seguir em frente, não? Pois é. Mas eles vão descobrir o abismo que existe entre “querer” e “poder” quando o Pantera Negra e uma das pupilas mais badass do Professor Xavier provarem que estão dispostos a TUDO para proteger o seu povo.

O roteiro de Jason Aaron é cheio de pequenas surpresas e com uma virada final que...WOW.

Esta história foi publicada em Black Panther Vol. 4 #39-#41 e também está na edição 26 da coleção Os Heróis Mais Poderosos da Marvel, da Editora Salvat, aquela da capa vermelha.

O Tempo se Esgota

Mais do que uma admirável e carismática garota com um gênio científico ainda maior do que o de Tony Stark, Shuri, a irmã mais nova de T’Challa, assumiu um papel de destaque ainda maior nas HQs. Quando seu irmão é atacado pela Cabala, um conselho de supervilões presidido pelo Doutor Destino, e acaba ficando em coma, Ororo nomeia Shuri como a nova regente de Wakanda. Ela então se torna também uma Pantera Negra — que, meses mais tarde, mesmo quando irmão retorna, permanece tomando conta do trono, encarando de queixo erguido tentativas de invasão de Morlun (o vampiro energético que se alimenta de avatares-aranha AH É ISSO MESMO ACEITA VAI) e da Latvéria, além de declarar guerra contra a Atlântida de Namor durante a confronto entre Vingadores e X-Men.

Estamos diante de uma Wakanda devastada, com a Cidade Dourada prestes a cair diante dos soldados de Thanos, na fase das incursões entre as Terras, quando T’Challa e seus parceiros dos Illuminati tentam descobrir se têm coragem o suficiente para apertar o botão e simplesmente explodir uma outra Terra paralela, com seus bilhões de habitantes, em nome da salvação da nossa. E é neste momento que vemos um outro lado de T’Challa e, claro, também outro lado de Shuri.

“Nós lutamos por uma coisa. Pela ideia do que poderíamos ter sido. Do que existiu um dia. Mas que agora é nada”, diz ela para o irmão, com o rosto cheio de lágrimas, ao avisar que decidiu ficar e enfrentar sozinha a implacável Próxima Meia-Noite, da Ordem Negra de Thanos. E neste momento, Shuri morre, num sacríficio de guerreira que só mostra o quão foda, em muitos níveis, é a personagem.

Não apenas esta história, mas também a sua ressurreição (que é MUITO legal e leva Shuri para um outro nível), pode ser lida no segundo encadernado de Uma Nação Sob Nossos Pés, lançado recentemente pela Panini.

Uma Nação Sob Nossos Pés

Quando a Marvel escolheu Ta-Nehisi Coates, jornalista da revista The Atlantic que nunca escreveu uma única HQ na vida, para mostrar uma nova faceta do Pantera Negra para o mundo, depois que o personagem deu as caras com toda a pompa e circunstância em Capitão América: Guerra Civil, houve quem desconfiasse. Pura bobagem: já nas primeiras páginas de Uma Nação Sob Nossos Pés, o roteirista mostra que entendeu MUITO BEM que este novo mundo pede um novo jeito de enxergar um de seus principais heróis negros.

Afinal, T’Challa não é apenas um herói, mas também um rei, um chefe de estado — portanto, será que, depois de todos estes anos de tradição, não apenas o manto do Pantera Negra mas também o seu “mandato” não seriam, de alguma forma, dignos de contestação? Ah, mas seriam sim. E eis que uma rebelião surge. Ou melhor: duas, incluindo um novo território que começa a se tornar independente graças à ação de duas Dora Milaje dissidentes.

É a hora de T’Challa enxergar os seus erros e também aqueles de seus antepassados, repensando Wakanda, uma nação altamente tecnológica mas ainda presa a questões ancestrais de reis e rainhas enquanto parte de seu povo pede por justiça e tratamento igualitário. Te parece um tema atual ou não?

Uma Nação Sob Nossos Pés foi publicado recentemente em três volumes encadernados pela Panini Comics.

Rise of The Black Panther

Atualmente, está saindo nos EUA esta série que dá pra chamar muito bem de Ano Um do Pantera Negra — coescrita por Evan Narcisse e Ta-Nehisi Coates.

“Tamos falando essencialmente da história do primeiro ano de T’Challa como rei, que é quando ele decide acabar com séculos de um segredo muito bem guardado e permite que o mundo saiba que Wakanda está mesmo no mapa”, explica o próprio Narcisse. “É uma escolha que deixa um monte de gente em Wakanda puta da vida e atrai obviamente a atenção da comunidade global sobre eles”. Sabe o FINAL do filme do camarada? POIS É.

Tanto quanto Quem é o Pantera Negra?, este é um ótimo ponto de partida para novos leitores, porque além de estar bem conectado com o que rola atualmente em sua cronologia corrente, também apresenta todos os principais elementos de sua mitologia só que de um jeito mais moderno, contemporâneo, atual.

Vale recorrer ao ComiXology ou QUETAIS.