HQs pra ler DEPOIS de ver Shazam! | JUDAO.com.br

Gibis que, de alguma forma, inspiraram o que você viu no cinema ou que se relacionam com o que foi contado no filme. Um guia pra você que não sabe por onde começar a ler as HQs do herói. :)

SPOILER! Já é tradição: estreia um filme baseado em histórias em quadrinhos, lá vem o JUDAO.com.br fazendo AQUELA lista de gibis pra você ler depois de assistir ao filme, com uma pesquisa de décadas de cronologia pro que é que pode ter inspirado os roteiristas e os diretores, além de algumas outras que ajudam a entender melhor algo ou alguém.

Semana passada estreou no mundo todo Shazam! e sobre esse filme que falaremos dessa vez. Mas, ao contrário de outros tantos como Liga da Justiça, Batman vs Superman e Mulher-Maravilha pela DC e Capitã Marvel, Vingadores: Guerra Infinita, Pantera Negra, Thor: Ragnarok, Homem-Aranha: De Volta ao Lar, Doutor Estranho Capitão América: Guerra Civil e Homem-Formiga na Marvel, Shazam! também ganhou uma lista de gibis pra serem lidos ANTES de assistir ao filme.

David F. Sandberg, o diretor, foi questionado no Twitter por um fã que queria saber o que ler antes do Billy Batson chegar aos cinemas — e o cineasta respondeu. Mas agora que o filme já saiu (e nos divertimos horrores com ele), a gente foi lá e fez a nossa compilação de histórias que inspiraram o filme em algum momento, as tramas que ele referencia, as origens deste ou daquele personagem em específico... O que não vai faltar é oportunidade pra sair gritando “Shazam!” por aí.

Divirta-se!

Apresentando o Capitão Marvel!

Em 1938 a DC Comics colocou no mercado um tal de Superman, que funcionou bem direitinho e caiu no gosto do público. Aí, a Fawcett Comics resolveu, no segundo número de sua antologia de heróis Whiz Comics, em 1940, meter em destaque uma criação de Bill Parker e C.C. Beck. A imagem principal lembrava claramente uma certa edição icônica da Action Comics, mas o homem forte com uma capa nos ombros não apenas levantava um carro acima da cabeça como também o jogava na parede.

A origem que vimos nos cinemas está lá, pelo menos na essência: do alto de seus 10 anos, o entregador de jornais Billy Batson segue um estranho sujeito pelo metrô, vai parar num lugar misterioso, tão lá os Sete Pecados Mortais aprisionados, Billy descobre ser o escolhido, grita Shazam! e aí ganha um pacotão de superpoderes, além de um corpo adulto novinho em folha. A sua primeira missão? Impedir que um cientista maluco chamado Doutor Silvana cumpra a ameaça de tirar todas as emissoras de rádio dos EUA do ar caso não receba 50 milhões de dólares.

Aliás, vale uma correção aqui — na real, apesar de ser numerada como 2, esta Whiz Comics é a 1 de verdade, já que a primeira edição foi publicada em P&B e com poucas cópias só para garantir o nome em termos de direitos autorais e também chamar atenção dos anunciantes. Mas o nome “Whiz”, que veio da revista de humor Captain Billy’s Whiz Bang, surgiu de última hora, já que a ideia era chamar Flash Comics. Mas adivinha qual editora já tinha este nome registrado? :)

A história foi republicada no número 28 da coleção de graphic novels da Eaglemoss, como uma história extra na segunda parte de Justiça, de Alex Ross & Jim Krueger.

Capitão Marvel conhece o Senhor Cérebro

A primeira cena pós-créditos do filme talvez tenha deixado muita gente que não acompanha os gibis do herói com a pulga atrás da orelha: mas gente, o que é aquilo falando com o Doutor Silvana? É uma larva, uma minhoca, sei lá? Pois é, bem por aí mesmo. No caso, um bichinho alienígena de grande intelecto e poderes telepáticos chamado Senhor Cérebro.

A larvinha — que usa uma espécie de alto-falante pendurado no peito pra amplificar a sua voz — já vinha sendo mencionada pelo nome desde a edição de número 22 da revista Captain Marvel Adventures, descrita como o líder do grupo de supervilões conhecido como Sociedade dos Monstros, o equivalente ao Sexteto Sinistro ou a Galeria de Vilões pro Shazam: uma reunião de alguns de seus maiores antagonistas, incluindo Silvana, Adão Negro, Ibac, Capitão Nazista...

Mas só no número 26 é que a gente vai descobrir a sua verdadeira face como aquela criaturinha diminuta e esquisita. Ele aparecer no final do filme quer dizer MUITO, porque ao lado do Silvana, pode ser que tenhamos uma versão da Sociedade a caminho pra uma eventual continuação.

Com pouca regularidade, a saga completa do surgimento da Sociedade dos Monstros seria publicada por aqui apenas na lendária revista Gibi Mensal, da editora Globo, que o Shazam dividia com o Namor, Príncipe Submarino da Marvel (POIS É). Mas estas publicações são de 1946, então... boa sorte. :D

O Tigre Falante

Para quem prestou bastante atenção, o filme do Shazam tem uma porrada de referências a tigres — da ilustração na mochila de Billy Batson ao bicho de pelúcia no parque de diversões que ele pedia pra mãe e que, muitos anos depois, ele dá de presente pra uma criança numa situação especial, o felino está em todas as partes.

Na real, trata-se de uma homenagem a um personagem marcante da mitologia do personagem: Tawky Tawny, que, em português, virou o Senhor Malhado (algumas vezes, traduzido como “Seu Malhado”).

Criado em 1947 por Otto Binder e C.C. Beck, surgido na revista Captain Marvel Adventures #79, tamos falando de um tigre humanoide que veio da Índia pros Estados Unidos para tentar se integrar à sociedade. Ele fala. Ele anda em duas patas. Ele usa um paletó quadriculado, calças compridas e um chapéu. Ah, é não dá pra esquecer da bengala.

Tudo isso é BEM sério. Quer dizer, era na verdade bem divertido. Mas claro que, conforme os anos passaram, o personagem foi sendo modificado para fazer mais sentido com o mundo de hoje e, no final, virou apenas um tigre DE VERDADE no zoológico.

Esta história saiu aqui no Brasil só lá atrás, em 1976, dentro da revista do Shazam que era publicada pela antiga Ebal. Ou seja... já sabe como encontrar, né? ;)

O Novo Começo

Embora não seja mais considerada parte do cânone graças ao gibi do qual falaremos a seguir, esta série em quatro partes escrita pelo casal Roy e Dann Thomas e com arte de Tom Mandrake foi responsável por reintroduzir o Shazam na cronologia da DC pós-Crise nas Infinitas Terras, a arrumação de casa quintessencial que a editora aprontou nos anos 1980.

Esta continuidade tem algumas peculiaridades interessantes, a começar pelo fato de que os pais de Billy morrem num acidente de carro e ele é criado então por seu tio, um cientista chamado Silvana... que na verdade causou a morte dos Batson para descolar o seguro de vida que iria pro moleque e então custear seus experimentos malucos. Experimentos estes, aliás, que trazem o Adão Negro de uma outra dimensão, aquelas coisas, né. Mas a principal diferença aqui, e que mesmo com muitas novas origens que se seguiriam, então seria mantida, é a personalidade do Shazam.

Anteriormente, o herói era escrito de maneira que, quando Billy dizia a palavra mágica, ele REALMENTE se tornava um adulto. Billy Batson e Shazam eram personalidade separadas e bem distintas. Nesta série, pela primeira vez vemos o herói com uma cabeça de criança, fazendo coisas de criança e cometendo erros de maneira infantil, bem do jeito que se esperaria. O humor típico dos primórdios no fim acabaria sendo mantido graças a este recurso narrativo. Talvez a fase do Johns não fosse o que foi se os Thomas não tivessem arriscado esta pegada aqui...

Esta minissérie não chegou a ser publicada aqui no Brasil — pelo menos, não que a gente saiba, mas lá fora saiu em 2017, num belo encadernado batizado de Shazam!: The New Beginning, para celebrar os 30 anos de sua publicação original.

O Poder de Shazam!

A primeira das três grandes reinterpretações modernas do alter-ego de Billy Batson, pós-anos 1990, inicialmente concebida por Jerry Ordway na graphic novel de mesmo nome, publicada em 1994, e que daria origem ao seu novo gibi mensal também usando este título. Por aqui, esta GN saiu pela Editora Abril, em 1997, com o nome de Shazam! – A Origem do Capitão Marvel.

Ordway opta por uma parada de super-herói mais clássica, numa mistura com um quê de aventura histórica e de escavação, tipo Indiana Jones. Os pais de Billy, por exemplo, estavam numa escavação no Egito quando encontraram alguns interessantes artefatos mágicos... mas acabaram traídos por seu amigo, um certo sujeito de nome Adam (sacou quem é?).

Graças a um medalhão em forma de escaravelho, ele consegue grandes poderes, mas nenhuma responsabilidade, coisa que o menino Billy, agora órfão, tem que aprender desde cedo enquanto tenta ganhar a vida vendendo jornais nas ruas da cidade grande. Aí aparece um mago no metrô e sabemos como a coisa termina...

O estilo de pintura do autor é lindíssimo — e é interessante ver que o seu Adão Negro é menos The Rock style, galã fortão e estiloso, e beeeeeem mais uma espécie de monstro clássico dos pôsteres de filmes antigos da Universal Pictures, sabe?

O Poder da Esperança

Um dos especiais com personagens da Liga da Justiça escritos por Paul Dini e belamente desenhados por Alex Ross, talvez seja aquele com mais coração, na real (e olha que aqui a disputa é dura). Porque vemos o herói outrora conhecido como Capitão Marvel tão atolado em suas atividades heroicas que mal consegue dedicar um pouquinho de tempo à sua vida civil — que, neste caso, é um jovem garoto que tem muita vontade de largar tudo e, quem sabe, apenas sair brincando. Vai que alguém pode tomar conta dos vilões por uma tarde, sei lá...?

Pois é esta mesma brincadeira que bate em seu coração juvenil que permeia uma nova “missão”: na verdade, é um convite para que ele visite um hospital infantil. E lá, diante de um grupo de crianças como ele, mas todas doentes e carentes de atenção, o herói resolve se render e realiza os desejos de algumas delas, como sobrevoar a cidade e visitar um zoológico. Simples, mas diz muito sobre os motivos do Shazam ser tão diferente de seus demais parças de Liga.

No Brasil, a Editora Abril publicou uma edição especial única, em formatão e com lombada quadrada, lá em 2001.

O Primeiro Trovão

A relação entre Superman e Shazam sempre foi, com o perdão do trocadilho, tempestuosa — afinal, deixando de lado toda a disputa nos tribunais, estamos falando do cara que ostenta o título de Mortal Mais Poderoso da Terra e que logicamente é o único por aqui, sem ser um ET, capaz de encarar o Homem de Aço no mano a mano. Então, a dupla Judd Winick e Joshua Middleton resolveu contar a história do primeiro encontro entre os dois... que talvez possa ter sido antes de uma parada para o almoço. :)

Pareciam tramas que não iam, de fato, se cruzar. Afinal, em Metrópolis, o Super tava impedindo que os membros de um culto sobrenatural roubassem uns artefatos antigos do Museu de História Natural. Enquanto isso, em Fawcett City, o Shazam encarava uma epidemia de robôs gigantes espalhados pela cidade. Mas acaba que os caminhos dos dois se cruzam, assim como os das brilhantes e naturalmente calvas mentes de seus arqui-inimigos, Lex Luthor e Doutor Silvana. E então a magia cruza novamente o caminho de Clark Kent, esta coisa que é uma fraqueza tão grande pra ele quanto a kryptonita...

A série completa saiu completa recentemente no Brasil, em volume único, como parte da Coleção de Graphic Novels da Eaglemoss, mais especificamente no número 70.

A Sociedade dos Monstros

Quem conhece o trabalho do Jeff Smith, meio que já sabe o que esperar do cara. Responsável pelo icônico Bone, fácil fácil um dos gibis autorais mais incríveis que você deveria ter lido na vida, ele acabou sendo convocado para dar o seu toque de gênio à origem do Shazam. A escolha não poderia ter sido mais acertada, já que Smith sabe – com seu traço limpo e quase cartunesco – fazer uma fábula moderna como ninguém.

Assim sendo, a jornada infantil de Billy Batson tem a inocência que merece, num mundo de tigres falantes, larvas (ou seriam minhocas?) inteligentes, robôs gigantes e cientistas malucos, mas sem perder um subtexto sério e bastante coerente. No fim, ao mesmo tempo em que respeita o tom do herói em seus primórdios, Smith consegue dar um pontapé no Mortal Mais Poderoso da Terra de vez pro futuro e que Geoff Johns aperfeiçoaria anos depois.

A Panini lançou um encadernado com esta fase completa e que está inclusive sendo reeditado por conta do filme. Vale e muito a leitura.

Com Uma Palavra Mágica...

Se a gente tivesse que dizer pra você ler UM único item desta lista depois de sair do cinema amarradão com o personagem, naturalmente seria este. Afinal, a releitura de Geoff Johns e Gary Frank para o personagem, pós-Novos 52, é praticamente a base completa para o filme.

O visual do uniforme, a manipulação elétrica, a carismática e diversa família de irmãos adotivos, um Billy Batson bem mais contemporâneo e até certo ponto insuportável, a alta dose de humor e, claro, o que eu considero um dos maiores acertos: um Shazam que se comporta REALMENTE como um moleque do alto de seus 13/14 anos, que é o que ele realmente é, afinal de contas, apesar dos músculos de aço.

Sem exagero, acho este um dos grandes acertos da carreira do Johns, ao lado de sua passagem pelo Aquaman (que também inspirou em grande parte o filme com o Jason Momoa) e pelo Lanterna Verde (DC, a dica tá mais do que dada aí, tomara que tenham entendido). E dá pra dizer que foi, a partir daqui, que o personagem foi reinserido de maneira justíssima no restante do Universo DC, mas assim, pra valer MESMO.

Vejam só vocês, a Panini TAMBÉM lançou um encadernado com esta fase completa e que TAMBÉM está sendo reeditado neste momento por conta do filme. <3