MasterChef, Cake Boss e a Fazenda segundo o gato de Schrödinger | JUDAO.com.br

No Brasil, a imprensa de TV se preocupa menos em criticar programas e mais com a proximidade dos produtos a seu gosto pessoal, isso quando não se reduz ao campo da fofoca e de botar água no chope do espectador.

A reta final do MasterChef me trouxe uma sensação de gato de Schrödinger. De um lado, o espectador apaixonado, vivo, compartilhador de memes; de outro o operário criativo que assina contratos de confidencialidade quando trabalha com reality shows, morto no sentido de estar encerrado em meu silêncio contratual.

Não tenho nada a ver com esta edição do MasterChef, que foi a coisa mais gostosa de acompanhar pela TV dos últimos tempos, mas já fiz alguns realities grandes, como A Fazenda 6 (aquela que teve Andressa Urach, Bárbara Evans, a Musa da CPI, Oliver do Teste de Fidelidade, etc) e Batalha dos Confeiteiros Brasil, apresentado por Buddy Valastro, o Cake Boss, que estreia dia 30 de setembro.

Saber o que vai acontecer, no caso d’A Fazenda, se referia apenas a datas e mecânicas de provas, que mudam bastante, e dinâmicas pré-elaboradas, muitas delas criadas no próprio dia da gravação, mas de resultado sempre imprevisível, uma vez que nada, absolutamente nada, não importa o que digam por aí, realmente nada é COMBINADO. Na verdade, falar isso é tratar como lixo o trabalho de gente como eu, que passa 24 horas do dia criando formas de transformar o imponderável em entretenimento pra quem está em casa.

Já no caso da Batalha dos Confeiteiros, temos boa parte do programa gravado, e não há esforço em esconder isso, assim foi com a celebrada recente edição do MasterChef. Obviamente, como dito, todas as provas tiveram resultados acima de qualquer suspeita e a real é que fazer reality show dá muito trabalho, porque não dá pra saber como as pessoas que estão competindo vão reagir, independente do que atestam psicólogos e médicos antes do participante ser aprovado. A pressão em cima deles é forte, do nível de um atleta durante uma competição ferrenha. O resultado de cada prova é uma incontestável surpresa.

Saber o que vai acontecer pode ser um poder, dependendo de quem olha, ou um fardo, se você gosta de ser popular. Para mim, é parte do cotidiano da profissão, acho muito tranquilo, não falo e pronto. Desde que era roteirista do VMB, na já antiga MTV Brasil, ficava sabendo com antecedência dos shows que iam rolar na premiação e segurava a informação por meses sem nem mesmo comentar que a possuía.

Tenho sérias dúvidas sobre até onde um “colunista” que vaza informações como finalistas ou mesmo o vencedor, como supostamente rolou com o MasterChef, contribui para o espetáculo. Isso faz sentido numa sociedade onde estar certo, no caso, saber antes, é mais importante do que estar junto, curtir com a galera, e eu odeio essa ideia.

A real é que a vencedora foi anunciada ao vivo mesmo e, curiosamente, na primeira edição do MasterChef eu estava no estúdio quando o mesmo aconteceu. Dirigia o Gustavo Mendes, que tinha a missão de receber a vencedora ali no meio da celebração e levar ao estúdio do Agora é Tarde, que eu coordenava.

No geral, o público não sabe o trabalho e o custo para uma emissora que é fazer um ao vivo desse porte, o quanto de foco estratégico é necessário para se realizar algo assim, quanta gente dá o sangue e aposta alto pessoalmente para fazer o negócio virar, o que dá vazão a criação de assunto e babaquices diversas por parte da imprensa de TV, que, no Brasil, se preocupa menos em criticar programas e mais com a proximidade dos produtos a seu gosto pessoal, isso quando a pessoa não se reduz ao campo da fofoca e de botar água no chope do espectador.

Agora, na boa, entre estar certo e vivo ou errado e morto, eu prefiro a segunda opção, na melhor vibração Días de Los Muertos mexicana, com muita tequila, bagunça e, o mais importante, sem fazer a menor ideia do que vem a seguir.