Do ódio ao insosso impostor do DCEU à possibilidade do diretor de Kingsman nos salvar do Supersnyderman
O Superman é um alien. Como leitor de quadrinhos e consumidor ávido de animações da DC desde que me conheço por gente (não faz tanto tempo, então isso tá longe de ser uma ~carteirada), precisei meio que repetir isso pra mim mesmo umas várias vezes, até decorar, porque, apesar de sua origem Kryptoniana, Kal-El é tipicamente o mais humano (no uso idealista da expressão, focado na nossa melhor versão) do panteão de personagens da Distinta Concorrência. Não à toa, é o líder da Liga da Justiça, a referência, e o primeiro a ser subvertido na hora que pensam em criar um “what if” realmente marcante, tipo um Injustice da vida.
É por isso, inclusive, que o Supinho funciona tão bem em contraste do Batman – o outro mais humano dos personagens (no uso cínico, negativista e focado nas falhas da palavra). Um é a maior luz que nós podemos almejar, enquanto o outro é a sombra que todos podemos vir a carregar.
Tal conceito, antes (virtualmente) imutável, sumiu da forma mais mainstream do personagem duns anos pra cá. Desde que ressurgiu em O Homem de Aço, o Superman tornou-se a personificação do conceito por trás da palavra alien: um ser distante, SEPARADO, do mundo à sua volta, da humanidade e principalmente do seu público.
Claro, ele arruma um teco de empatia para desencalhar um navio aqui, outro pra salvar uma galera dum incêndio ali, mas logo tá olhando para o próprio umbigo, socorrendo a Lois acima de tudo e todos, mandando aliança pelo correio e chorando como um bebê pela sua mãe.
O Superman dos cinemas é frio, distante, inseguro de si e dos outros, filho de um pai humano covarde e uma mãe conivente, guiado à vida adulta malemal por um pai-programa-de-computador-fantasma que não faz o menor sentido, bem como não faz diferença alguma para o caráter omisso e sociopata de Kal. Não é o Superman. E também não é uma desconstrução inteligente do personagem. É uma ofensa à essência de um ícone da Cultura Pop.
O atual Superman dos cinemas é uma ofensa à essência de um ícone da Cultura Pop
“O Superman é sobre cor e diversão, ou DEVERIA ser, ao menos para mim”, disse Matthew Vaughn, diretor de Kick-Ass, X-Men: Primeira Classe e Kingsman lá em 2010, em entrevista à MTV. Na época, rumores davam conta de que o cineasta e o insano roteirista escocês Mark Millar (amigo do peito, com quem vinha trampando nos últimos anos) teriam se reunido com a Warner Bros. para bater umas idéias sobre o gestante projeto de rebootar o herói nas telonas.
Segundo o próprio, tudo não se tratou de mais que “uma conversa de 30 segundos que virou uma coisa enorme”. Como reza a história, dela originou-se absolutamente nada; a Warner, aparentemente já bem decidida, tocou seu barco azul e vermelho com os capitães David S. Goyer, Christopher Nolan e Zack Snyder, e dali nasceu O Homem de Aço – e, dele, o sombrio, monocromático e plenamente CHATO Universo Estendido da DC.
Lá se vão sete anos. :D
Nesse meio tempo, enquanto a Warner e Snyder (Nolan e Goyer logo caíram fora, né? Mas guardo suas responsabilidades nesse trem de merda bem fundo no coração) nos brindaram com poços de cor e sorrisos na forma dos formidáveis Batman vs. Superman e Esquadrão Suicida, Vaughn foi de diretor do curioso Stardust e do surpreendente Kick-Ass para o homem que conseguiu restaurar a boa vontade de público e crítica com os X-Men, e explodir cabeças linda e literalmente com o FODEROSO Kingsman.
Aliás, falando da franquia mutante e da detonação de MOLEIRAS, quem mais poderia entender de cor e diversão que o cara que pôs fim aos uniformes de couro dos filhos de Xavier e orquestrou um terceiro ato de filme de espião em que miolos tornaram-se fogos de artifício a la Reveillon de Copacabana? Tivesse a Warner, lá em 2010, escalado Vaughn para a missão de REAVIVAR o Superman nos cinemas, talvez teríamos ALGUM Superman nos cinemas, afinal.
Pois parece que, depois de todo esse tempo, alguém na Warner concorda com isso.
Segundo o Collider, desde a saída de Greg Silverman da chefia do Estúdio da Caixa D’Água, em Dezembro do ano passado, seu substituto Toby Emmerich e outros executivos tEm corrido atrás de fortes nomes para os futuros projetos do DCEU. Teria sido esse o caso com Matt Reeves e o Filme Até Agora Conhecido Como The Batman e seria o caso, agora, com Matthew Vaughn sendo ligado à direção de um novo filme solo do Superman. :D
“Ah, uma sequência para O Homem de Aço”, seria o pensamento lógico, principalmente porque Zack Snyder saqueou o filme que deveria ser a sequência do herói e entregou ao Batman (ou à sua versão distorcida dele). Só que é aí que a coisa fica realmente empolgante.
De acordo com o io9, a Warner não só quer mesmo Matthew Vaughn para o projeto (ou qualquer outro filme – aparentemente eles querem o cara e PRONTO :D), como deixou em aberto a possibilidade do filme deixar O Homem de Aço de lado e ser uma espécie de soft reboot (aquele tipo que não mostra penetração explícita que basicamente é o mesmo que um reboot, mas muito provavelmente preservando ao menos o elenco principal).
Há esperança para a Casa Esparançosa de El, sim, mas nada é certo. Segundo a reportagem do io9, assinada por Germain Lussier, Vaughn tem interesse na bagaça e está avaliando. Aliás, eu diria que é o mesmo interesse de antes, mantido vivo durante todos esses anos, já que ele seguiu batendo no estilo DC pós-Nolan até 2015, pelo menos. “Pessoas querem diversão e escapismo. Olha o sucesso de Guardiões da Galáxia”, disse ao Hollywood Reporter. “Eu acho que Nolan começou um estilo muito sombrio, ERMO de escapismo super-heróico, e acho que as pessoas tiveram o bastante dele”.
Se perguntassem para mim, eu diria que não há melhor momento para o cara assumir as rédeas do personagem do que este. O Superman de Snyder morreu pelas mãos de seu próprio criador (ou pelas de um Apocalypse/Troll de Senhor dos Aneis horroroso, ok) e deve renascer brevemente em Liga da Justiça – espero que não por tempo suficiente para que seja cagado outra vez. Redefini-lo enquanto personagem no filme sequinte e justificar tudo em seu retorno da terra dos pés juntos é uma forma perfeita de explicar as eventuais mudanças sem deliberadamente cagar em cima, narrativamente, dos milhões que foram investidos nos filmes errados do passado.
Não que a gente se importasse, mas né?
O Superman é sobre cor e diversão, ou DEVERIA ser, ao menos para mim
Cor e diversão não significa falta de profundidade emocional – que o diga a abertura do próprio Guardiões da Galáxia, ou a morte de Harry Hart, ou as poderosas interações entre Xavier, Magneto e seus fantasmas vindos da opressão nazista. A cor só brilha com contraste, assim como só se nota a profundidade da escuridão com luz. E num universo em que Batman e Superman se confundem, fica clara a deficiência nesse setor.
Vai, Warner, corteja direito esse cara. Puxa, lambe, chupa o saco e o que mais precisar. E, se não der, ao menos vai atrás de alguém que tenha a mesma visão que ele. Aproveita, alia o útil ao agradável e pega um Grant Morrison da vida como consultor. Precisamos dum Superman que tenha cor e diversão; que sorria, que chore, que SINTA. Que seja capaz de salvar uma vida com palavras, um abraço e um sorriso. Porque ele É super.
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