O vencedor do Oscar 2016, Spotlight, trouxe à tona um interesse renovado por produções cinematográficas sobre a nobre (e um tanto esculhambada nos dias de hoje, é verdade) arte da apuração e investigação
Num mundo em que o lugar no qual o Caetano Veloso estacionou o carro ou o celular que a Grazi Massafera carrega na mão depois que sai da academia se tornaram sinônimos do que é o jornalismo contemporâneo, dá pra entender porque Spotlight chamou tanto a atenção. Justamente por se tratar de um filme que mostra que aqueles profissionais que buscam a verdade a qualquer custo não estão tão extintos quanto a gente imaginava...
O jornalismo e o cinema, contudo, sempre andaram de mãos dadas, desde um tal de Cidadão Kane, sabe? Não são raros os exemplos de tramas em que somos convidados a visitar os bastidores das grandes redações de jornais, de estações de TV, de rádio. Ou então nas quais acompanhamos o andamento (e as AGRURAS) de um repórter mergulhando nos detalhes de uma história difícil, cheia de nuances. Também temos filmes que levantam importantes discussões ao questionar os limites éticos do jornalismo, o poder que certos setores da imprensa podem usar para a manipulação (alô, Quarto Poder!).
Geralmente são dramas – ou talvez thrillers. Podem ter até aquela dose de ação. Mas também podem ser comédias, por que não? Que o digam os imortais Jack Lemmon e Walter Matthau. ;) Muitos deles, aliás, são praticamente documentários pra gente, porque refletem o nosso próprio dia a dia de veículo independente de mídia (é, sim, aqui a gente faz jornalismo, sabia?).
Fizemos aqui uma seleção de filmes sobre e com jornalismo de todos os tipos, formas e tamanhos. Escolha os seus, faça aquela maratona e divirta-se. =D
Adorável Vagabundo
Citizen Kane, 1941 Em todas as discussões sobre “o melhor filme da história do cinema”, este está sempre no meio. Baseado na história do magnata das comunicações William Randolph Hearst, mostra a saga de jornalistas tentando descobrir o significado da última palavra dita por ele, em seu leito de morte.
Meet John Doe, 1941 Como última coluna antes de sua demissão, uma jornalista (Barbara Stanwyck) forja a carta de um desempregado que promete se jogar do alto da Prefeitura na véspera de Natal. A história comove a cidade e, pra continuar a farsa, ela encontra um ex-jogador de baseball que virou mendigo (Gary Cooper) – tudo aproveitado como parte de uma campanha sensacionalista para favorecer um político corrupto.
Ace In the Hole, 1951 Clássico do diretor Billy Wilder. Vindo da cidade grande, um jornalista (Kirk Douglas) está frustrado com o trabalho no jornalzinho de uma cidade do interior. Quando ele começa a trabalhar na história de um homem preso numa caverna para tentar dar um novo salto em sua carreira, as coisas saem de controle e tudo se transforma num verdadeiro circo midiático.
Deadline USA, 1952 O jornal do editor Ed Hutcheson (Humphrey Bogart) está prestes a fechar. Mas ele é um idealista que se recusa a cair – e, antes da falência, quer porque quer completar a investigação que pode desmascarar o gângster Tomas Rienzi.
Todos os Homens do Presidente
The Front Page, 1974 Outra obra certeira de Billy Wilder. O brilhante jornalista Hildebrand ‘Hildy’ Johnson (Jack Lemmon) está cansado das loucuras da redação do jornal no qual trabalha e resolve largar tudo para casar. Mas o editor Walter Burns (Walter Matthau) está desesperado para mantê-lo na ativa – e o caso de um zé mané condenado à morte por ser considerado “comunista” parece a chance perfeita.
All The President’s Men, 1976 Dá pra dizer, quase sem erro, que este é O grande filme sobre jornalismo desta lista. Bob Woodward (Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman) são dois jornalistas do Washington Post que vão fundo na investigação do escândalo Watergate, aquele mesmo que levou Richard Nixon a sair do poder.
Network, 1976 Howard Beale (Peter Finch), o âncora do principal programa de notícia da rede UBS, descobre que vai perder o emprego por causa da queda frequente na audiência. Sem saber o que fazer, ele pira e anuncia, no ar e ao vivo, que a vida não tem sentido e vai se suicidar. A audiência sobe como nunca e, então, os executivos resolvem começar a explorar um pouco mais da vida do sujeito...
Salvador, 1986 Dirigido por Oliver Stone, conta a história de Richard Boyle (James Woods), fotojornalista americano que vai cobrir a guerra civil em El Salvador. Os guerrilheiros da esquerda querem que ele publique seu lado do conflito na imprensa internacional – enquanto os militares que estão no poder começam a pressioná-lo para ter as fotos que o jornalista tirou dos rebeldes.
Ausência de Malícia
Absence of Malice, 1981 O revendedor de bebidas Michael Gallagher (Paul Newman) acorda um dia e descobre que está na matéria principal de um jornal, dizendo que está sendo investigado pelo desaparecimento do representante de um sindicato local. Logo, ele acaba procurando a responsável pelo texto, a repórter Megan Carter (Sally Field), e ambos começam a descobrir que tem algo de podre naquela história toda...
The Year of Living Dangerously, 1982 Um jovem repórter australiano (Mel Gibson) é enviado para cobrir o clima político turbulento da Indonésia durante o governo do Presidente Sukarno. Mas ele acaba, no meio da loucura, se envolvendo com Jill Bryant (Sigourney Weaver), representante da embaixada da Inglaterra.
Killing Fields, 1984 Um fotógrafo acaba ficando preso no Camboja justamente durante o chamado Ano Zero do ditador Pol Pot – uma sanguinária “campanha de limpeza” que deu cabo de cerca de 2 milhões de civis “indesejados” no país. Morreram minorias, artistas, intelectuais... :(. Baseado, infelizmente, numa história real.
Broadcast News, 1987 Estamos em Washington. Jane Craig (Holly Hunter) é uma produtora de TV neurótica, que só pensa em trabalho. Seu melhor amigo, o repórter Aaron Altman (Albert Brooks), é apaixonado secretamente por ela e ainda tem a ambição de trabalhar na frente das câmeras. Mas eis que pinta Tom Grunick (William Hurt), âncora bonitão que era de esportes e foi para notícias. Bem-vindo ao triângulo amoroso.
O Quarto Poder
The Paper, 1994 Olha o Michael Keaton como jornalista outra vez – aqui, ele é Henry Hackett, editor de um tabloide de Nova York. Ele ama seu trabalho, mas as jornadas de longas horas e com pagamento reduzido o estão fazendo repensar a vida. Ele até começa a considerar uma proposta de um jornal maior e com mais grana. Mas uma pauta quentíssima surge no caminho e faz ele ter que encarar uma decisão complicada...
Mad City, 1997 Sam Baily (John Travolta), segurança de um museu, está puto por ter perdido o emprego e acaba transformando em reféns a molecada de uma excursão escolar. O ponto é que o jornalista Max Brackett (Dustin Hoffman) estava no lugar certo e na hora certa e, lá dentro, começa a criar uma relação com o sequestrador. A história se espalha e ganha cobertura global. Mas Max tem seus próprios interesses neste caso...
The Insider, 1999 Um ex-pesquisador da indústria dos cigarros (Russell Crowe) começa a sofrer ataques pessoais e profissionais quando toma a decisão de dar as caras no programa 60 Minutes, do produtor Lowell Bergman (Al Pacino), com duras acusações sobre as maiores empresas que comercializam tabaco. Baseado na história real de Jeffrey Wigand.
Live from Baghdad, 2002 Olha aí o Michael Keaton de novo como jornalista, gente! Este filme é uma produção que foi diretamente para a TV, baseada na história real do produtor da CNN, Robert Wiener, e sua experiência com a equipe que cobriu a Guerra do Golfo, em 1991, em pleno solo iraquiano durante os bombardeios comandados pelos EUA.
Boa Noite e Boa Sorte
Shattered Glass, 2003 Antes de ser o Anakin, Hayden Christensen interpretou o jovem jornalista Stephen Glass, que na casa dos 20 anos de idade se tornou uma estrela da revista The New Republic. Mas eis que então que se descobriu que, das 41 matérias dele que foram publicadas, 27 eram parcialmente ou totalmente inventadas. Procurando o caminho mais curto pra fama, ele inventou fontes, aspas, situações, a porra toda.
Good Night, and Good Luck, 2005 Um puta filme com um puta elenco. Todo em P&B, conta a história do radialista Edward R. Murrow (David Strathairn) e sua saga para derrubar o senador Joseph McCarthy – responsável pela chamada “caça às bruxas”, uma cruzada anticomunista paranoica em plena Guerra Fria, que acusou uma enorme número de políticos, artistas e intelectuais de serem “espiões soviéticos” infiltrados.
The Hunting Party, 2007 Um jornalista, um câmera e um correspondente de guerra desacreditado embarcam numa missão não-autorizada para encontrar o criminoso de guerra número de Bósnia. Só que o seu alvo acaba se tornando seu próprio caçador e passa a persegui-los. Com Terrence Howard, Richard Gere e Jesse Eisenberg.
Idem, 2008 Sabe o Nixon que os jornalistas ajudaram a derrubar em Todos os Homens do Presidente? Então. Aqui, ele (vivido por Frank Langella) tenta mostrar o seu lado pós-Watergate numa série de entrevistas para o apresentador britânico David Frost (Michael Sheen). E parece que o embate não vai ser fácil pra nenhum dos dois lados...
Uma Manhã Gloriosa
Faces of Truth, 2008 Kate Beckinsale é Rachel Armstrong, uma repórter cheia de conexões em Washington. Mas eis que a moça acaba enfrentando a ameaça real de ser mandada para a cadeia depois de revelar os podres de um agente da CIA e então se recusar terminantemente a revelar as suas fontes.
State of Play, 2009 Stephen Collins (Ben Affleck) é um deputado que tem sua carreira política ameaçada por uma investigação que envolve a morte de sua amante. E quem entra na apuração da matéria é justamente Cal McCaffrey (Russell Crowe), seu ex-chefe de campanha do político e que agora trabalha como jornalista...
Morning Glory, 2010 Rachel McAdams é uma produtora de televisão que aceitou o maior desafio de sua carreira – revitalizar um programa matutino cuja audiência tá lá embaixo. Ela resolve contratar o lendário âncora Mike Pomeroy (Harrison Ford), que fica puto por ser forçado a trabalhar reportando assuntos “mundanos” e leves, entrando em conflito com a outra apresentadora do programa, Coleen Peck (Diane Keaton).
Nightcrawler, 2014 Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) está desesperado por trabalho – e eis que acaba se envolvendo com o jornalismo especializado em crimes da cidade de Los Angeles. Não demora, claro, até que ele comece a ultrapassar a linha fina que o colocava apenas como observador e vá se tornando participante de suas próprias matérias.
Kill The Messenger, 2014 Baseado na história real de Gary Webb, aqui vivido por Jeremy Renner. A história se passa nos anos 1990, quando Webb revelou o papel que a CIA teve na “importação” de grandes quantidades de cocaína para os EUA – vendida para gerar caixa para uma operação militar na Nicarágua. Ao publicar a história, ele passa então a sofrer uma série de ataques para desmoralizá-lo.
The Newsroom
Menção Honrosa E daí que não é filme, mas sim uma série? Dane-se. Se você quer saber mais sobre o mundo do jornalismo, você PRECISA entrar no mundo da equipe liderada por Will McAvoy (Jeff Daniels). Sério. Criação de Aaron Sorkin, com alguns dos diálogos mais ágeis, inteligentes e contundentes da TV americana.