Nem reza brava consegue salvar A Freira | JUDAO.com.br

Pra você que reclama de Annabelle, saiba que o spin-off de Invocação do Mal 2 é, disparado, o pior filme do CONJURINGVERSE de James Wan

Os fãs dos filmes de terror são divididos em dois grupos: aqueles que adoram Annabelle e fazem parte da impressionante soma de 3,6 milhões de espectadores que a transformou na MAIOR bilheteria de um filme do gênero no Brasil; e os que detestam com todas as forças o spin off caça-níquel do tal universo de Invocação do Mal de James Wan.

Aqueles que detestam, parte na qual esse humilde escriba se inclui, o faz por desprezar toda a fórmula mainstream prosaica e conceito esquemático do filme, o roteiro repleto dos mais puros clichês, a obviedade, o maniqueísmo carola, o jumpscare exacerbado como recurso pobre de susto, e o terror tratado como um subproduto enlatado feito apenas para render alguns muitos dólares.

Com a evolução cinemática desse universo interligado iniciado pelas desventuras paranormais do casal Warren, aos moldes dos recentes “filmes de super-heróis”, sempre houve a impressão de que o primeiro longa da Boneca do Capiroto seria o mais fundo do poço que a franquia alcançaria, tendo em vista que até Annabelle 2: A Criação do Mal é superior ao seu predecessor.

Isso até A Freira chegar aos cinemas.

Disparado o pior filme do Conjuringverse, a empreitada que conta as origens de Valak, o demônio-freira, o MARQUÊS DAS SERPENTES, que arrepia os pêlos da nuca de Lorraine Warren em Invocação do Mal 2, é das coisas mais vexatórias que o gênero poderia produzir em tempos. Eu juro por tudo quanto é mais sagrado que ficava a todo momento pensando como alguém pode escrever um roteiro mequetrefe daqueles AINDA MAIS depois de escrever It: A Coisa, dos meus filmes preferidos do ano passado.

Sabe quando alguém resolve pegar absolutamente TODOS os simbolismos e clichês possíveis e imagináveis oriundos de filmes com freiras, possessão, catolicismo, conventos, exorcismos, demônios e o que mais o valha, e colocar em uma avalanche desenfreada, um seguido do outro? Isso resume bem A Freira.

Chega a ser revoltante a preguiça com que aquela história foi escrita, como seus personagens são rasos, como aquele encosto é chinfrim, a construção de atmosfera não funciona e não existe um único momento de horror que se preze. Nem o jumpscare funciona. Annabelle ainda tem a memorável cena do depósito do prédio com o Mochila de Criança aparecendo no elevador. Aqui, só o sangue de Jesus salva!

Pior que isso é o potencial absurdamente desperdiçado, afinal a trama se passa em uma abadia isolada na Romênia rural, onde as freiras vivem uma vida de clausura e silêncio, e uma força maligna foi libertada, culminando no suicídio de uma das beatas. O ocorrido une um padre-exorcista-investigador-do-Vaticano-padrão-sisudo (porém piadista quando convém), a noviça personagem da Taissa Farmiga que ainda não fez os votos – e tem lá suas dúvidas a ponto de questionar o criacionismo – e um morador franco-canadense da aldeia local, alívio cômico dos mais patéticos, a se verem às voltas com Valak naquele recinto profano e esquecido por Deus.

Algumas sequências, diálogos, piadas, explicações esdrúxulas, saídas fáceis de argumento (a das palavras cruzadas e da estátua de Maria são INDEFENSÁVEIS) e a forma que a trama se resolve, não dá para aguentar nem com reza brava. Mas isso é fruto do ventre de um produto criado apenas pelo e para o marketing, a fim de espremer o bagaço da fruta enquanto ainda dá, somente como mais um terror mercadológico com a assinatura de James Wan na produção.

Outra coisa que entristece demais é a direção de Corin Hardy, cujo debute, A Maldição da Floresta, é excepcional. É bastante esforçada, assim como a fotografia escura, a ambientação lúgubre, o design de produção e todo misé-en-scene, que são incríveis. A imagética do filme é fantástica, diga-se de passagem, em momentos que remetem a Mario Bava e até Lucio Fulci, e o visual da freira satânica, à la Marilyn Manson, também, criado sob medida para entrar no imaginário do horror e logo virar de tatuagem à fantasia de Halloween. Por isso fez tanto sucesso em Invocação do Mal 2 e ganhou o anúncio de seu filme solo poucos dias depois da estreia.

Mas, como diria o poeta: quem nasceu para ser Valak, nunca será Paimon!