Gibi da IDW Entertainment escrito pelo talentoso herdeiro de Stephen King quase virou série outras duas vezes — e também teve aquela outra em que por pouco não virou filme pra cinema. Será que agora vai?
A galera do Netflix obviamente tá bem ligada que, ok, a Marvel tá ganhando um monte de dinheiro nos cinemas, legal ter séries com personagens deles no catálogo de originais... mas será que, assim, não tem coisa legal rolando TAMBÉM em outras editoras fora deste circuitão Marvel/DC e que possam gerar boas produções? Mas Ô se tem. Até por isso, né, todo o acordo com o Mark Millar, vamo lá.
E aí que, além de visitar o mundo de Archie pós-sucesso de Riverdale com as histórias sobrenaturais da bruxinha em Chilling Adventures of Sabrina e de fazer a adaptação de The Umbrella Academy, o gigante do streaming foi lá e garantiu mais uma HQ pra fazer brilhar na sua telinha: Locke & Key.
A publicação da editora americana IDW Publishing, que desde 2008 vem lançando arcos de história fechados geralmente em minisséries de seis edições, tem arte do chileno Gabriel Rodríguez e roteiro de Joe Hill, aquele de quem muita gente ainda lembra primeiro como “o filho do casal Tabitha e Stephen King” — mas que chegou a ser premiado, em 2011, com o Eisner Award de “melhor roteirista” justamente pelo elogiado trabalho com este gibi de horror/fantasia.
O que é mais curioso, no caso de Locke & Key, no entanto, é que estamos diante da TERCEIRA tentativa de transformar a obra em uma série de TV, com direito a piloto pronto e tudo mais. Se levarmos em conta que, no meio do caminho, ainda rolou um ambicioso plano de fazer uma trilogia pros cinemas, igualmente abandonado, além da jornada ser cheia de percalços, ela nos faz ficar pensando se, finalmente, a coisa vai acontecer, mesmo com o pedido do Netflix sendo de straight-to-series — o que significa na prática “nem precisa de piloto, já produz isso aí e é nóis”.
Na trama, depois do brutal assassinato do pai, os irmãos Tyler, Kinsey e Bode Locke se mudam para a ancestral mansão da família, apropriadamente batizada de Keyhouse, em Lovecraft, Massachusetts. Resumidamente, eles acabam descobrindo que a casa tem chaves mágicas que abrem as portas para uma série de poderes sobrenaturais. Tão sobrenaturais, aliás, quanto o demônio antigo que quer os artefatos para si mesmo e não está disposto a ser detido por nada e nem por ninguém.
A história de idas e vindas do gibi com Hollywood começou quando a Dimension Films comprou os direitos de TV e cinema do primeiro arco, Welcome to Lovecraft, tendo em mente a realização de um longa-metragem e pans, com o veterano John Davis (Quando um Estranho Chama) na produção. Mas os caras demoraram pra fazer acontecer e os direitos acabaram indo parar nas mãos da Dreamworks, com a dupla dinâmica Alex Kurtzman e Roberto Orci (uma palavra: Transformers) assinando pra fazer a parada acontecer de fato — e em 2010, quando Steven Spielberg entrou no barco como produtor, a ideia já mudou de cinema pra série de TV. A Fox deu sinal verde pra produção de um piloto, com roteiro de Josh Friedman (Terminator: The Sarah Connor Chronicles), que também seria showrunner e tudo mais.
E, bom, o piloto REALMENTE aconteceu, com Sarah Bolger, Nick Stahl, Miranda Otto e o cantor Jesse McCartney no elenco. Com direção de Mark Romanek (conhecido especialmente por sua carreira à frente de videoclipes icônicos como o de Hurt, versão de Johnny Cash pro Nine Inch Nails), o episódio inaugural chegou a ser exibido na Comic-Con (a de verdade, de San Diego) de 2011, sendo bem recebido pelo público e a porra toda. Mas aí a Fox decidiu que, hum, não, não queria ver aquilo virando série e abriu mão. “A parte mais frustrante é sentir que a Fox passou adiante porque o piloto ficou assustador demais”, afirmou, anos mais tarde, o próprio Hill em entrevista ao Collider. “Enquanto isso, seu canal irmão, o FX, tava se preparando para lançar American Horror Story, que agora é enorme para eles”.
O ponto é que Orci e Kurtzman não desistiram e acionaram todos os seus contatos nos bastidores para enfim poder anunciar, na SDCC de 2014, que Locke & Key iria para os cinemas, em uma trilogia de filmes produzida pela Universal Pictures, em parceria com a própria produtora deles, a K/O Paper Products. Gritos, berros, celebração, aquela festa. Só que, desde aquele momento, nada tinha acontecido DE FATO. Até que, em 2015, novamente Hill teve que ser o portador das péssimas notícias quando contou que, não, não ia ter mais três filmes. Que, na verdade, não ia ter nem UM filme. Mas que as chances de voltarmos à ideia original da TV estavam de pé.
Então, em 2016, a IDW seguiu o que as concorrentes do mundo dos gibis tavam fazendo, virou IDW Entertainment ao invés de apenas Publishing e foi cuidar diretamente da expansão de seus títulos rumo a outros mercados. No caso de Locke & Key, Ted Adams e David Ozer, respectivamente CEO e presidente da empresa, anunciaram uma parceria com a Circle of Confusion (empresa de representação de times de produção cujas equipes desenvolveram, entre outros projetos, nada menos do que The Walking Dead) e correram atrás de uma emissora pra dar vida à visão de Joe Hill. Depois de negociações que envolveram FX, HBO e Netflix, eles então fecharam com o Hulu. Tava tudo certinho, com o próprio Hill escrevendo o roteiro, Carlton Cuse (Lost) como produtor e showrunner e Andy Muschietti (It – A Coisa) substituindo Scott Derrickson (Doutor Estranho) na direção do piloto.
E, senhoras e senhores, sim, mais um piloto foi produzido, com novo elenco e tudo, agora com gente como Frances O’Connor, Jack Mulhern, Megan Carpentier, Jackson Robert Scott e Nate Corddry envolvida. Tudo muito legal mas, de acordo com fontes do THR, o VP sênior Craig Erwich e o novo chefão da área de conteúdo, Joel Stillerman (que lançou The Walking Dead no AMC) amaram. Mas quando chegou no novo CEO do Hulu, Randy Freer, novo facão. Por mais que já tivesse até um time de roteiristas trabalhando, com pelo menos sete roteiros prontinhos pros próximos episódios, nada feito.
Acometidos do melhor espírito Joseph Climber, os caras da WME, empresa de agenciamento de talentos que representa Cuse e Muschietti, enfiaram o piloto do Huli debaixo do braço e trataram de buscar outra casa para acolher o projeto. Passaram pela Amazon e, enfim, voltaram ao Netflix. Trato feito, ainda que a empresa de Los Gatos evite comentar oficialmente até que tudo esteja REAL e OFICIAL no papel, assinado como se deve. Tudo leva a crer, contudo, que é mera formalidade e questão de tempo para que posts engraçadinhos comecem a aparecer nas redes sociais.
Mas esqueçamos o piloto do Hulu, que é OUTRO que vai pro lixo, viu?
A ideia é escalar todos os personagens de novo e filmar tudo OOOOOOUTRA vez. E, ainda que Cuse e Hill continuem envolvidos, vão ter achar outro diretor, já que Muschietti tá ocupadaço com It – A Coisa 2 e não tem tempo pra refazer o trampo. Mas pelo menos o crédito de produtor executivo, segundo consta, ele deve manter.
Oficialmente, com o arco Alpha & Omega, que acaba reunindo cinco edições de Omega e duas de Alpha, a série Locke & Key foi encerrada no finalzinho de 2013. Aqui no Brasil, o primeiro arco, Bem-vindo a Lovecraft, chegou a ser lançado no final do ano passado pela editora Geektopia, selo do Grupo Novo Século. Ainda não se tem notícias de outros volumes, por enquanto.
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