No King Kong VS. Godzilla dos bastidores, sobrou até pra Pacific Rim | JUDAO.com.br

Toda a relação entre Legendary, Universal e Warner é mais complicada do que imaginávamos. E adivinha quem é que se fode?

Cinema é negócio. Grandes filmes, de grandes estúdios, precisam de grandes investimentos para serem viabilizados – e, se tudo der certo, há não só um retorno financeiro relativamente interessante, mas é possível trabalhar aquelas personagens das mais variadas formas de licenciamento. Uma lição muito bem ensinada por George Lucas e Star Wars, diga-se.

Só que o dinheiro pra começar todo esse processo não surge do nada. É pra isso que servem os investidores, que não só financiam a brincadeira dos grandes estúdios como, em alguns casos, produzem seus próprios filmes. Tipo a Legendary Pictures e o adorado dinheiro do seu não tão adorado executivo Thomas Tull.

Como já falamos aqui no JUDÃO, a Legendary está tirando Kong: Skull Island da Universal Pictures, com a qual a empresa tem um acordo em vigor, levando o escalador de arranha-céus para a Warner, sua antiga parceira. E, nessa mudança, vão caindo vários pedaços de negociações, pessoal tropeça em sigilos e os deixa quebrar... Amigo, a história é complicadíssima.

Pra começar, a relação entre Legendary e Universal não é tão boa assim.

O acordo entre as partes foi assinado num momento em que o estúdio não tinha tanta bala na agulha pra financiar grandes projetos, o que mudou completamente em 2015, com um ano incrível e inacreditável de bilheteria, apesar da crise. Lá em Universal City, os projetos envolvendo a Legendary passaram a ser vistos como não tão interessantes e/ou rentáveis assim — apenas três dos nove filmes da parceria ultrapassaram a marca dos US$ 200 milhões em bilheterias, por exemplo.

Piora, claro. Do orçamento de Jurassic World, 25% vieram da empresa de Tull, o que se provou uma grande jogada, por conta da bilheteria astronômica de US$ 1,7 bilhões em todo o mundo. Só que o executivo tem o péssimo costume de se dar mais crédito “do que o devido”, e tem feito isso pra beliscar um pouco do sucesso dos dinossauros.

King Kong vs Godzilla

O comportamento, aliás, tá bem de acordo com o histórico da empresa e de seu comandante. Em 2009, quando ainda estava com a Warner, Tull chegou a dar uma entrevista ao The Wall Street Journal dizendo que ele fez Batman – O Cavaleiro das Trevas. Na Comic-Con, ele é o mestre de cerimônias do painel da Legendary e, COSTUMAZMENTE, dá o ar da graça em junkets. Inclusive, o JUDÃO já recebeu recomendação de deveríamos sempre creditar a produção como sendo da Warner E da Legendary, já que eles tinham “desenvolvido, produzido e financiado uma boa parte”.

Ok que, nesse caso específico, a afirmação era verdadeira, mas sabemos como é a briga de egos em Hollywood, um lugar no qual até o Avi Arad exige que o nome dele venha antes de qualquer produtor num filme do Homem-Aranha, por exemplo. São desgastes que vão se somando...

Com todo esse histórico a Universal então resolveu RECUSAR a co-produção e distribuição de Kong: Skull Island, e não o contrário. Eles não se sentiram confiantes em investir 25% de um orçamento estimado em US$ 125 milhões — fora, claro, todo o esforço de marketing, de pessoal, RP, essas coisas. A mudança de estúdio não teria sido, como diz a própria Legendary, movimentada por um desejo que “existia há anos”, de colocar o Gorilão e o Godzilla frente a frente.

Mas aí King Kong, o personagem, é de domínio público — não é só por que tem o filme do Peter Jackson e a atração nos parques que, como todo mundo imagina, ele é mais um dos montros da Universal, não; Godzilla, por sua vez, tem seus direitos atrelados Toho, que tem um acordo de exclusividade com a Warner; o maior sucesso da história da Toho foi justamente King Kong VS. Godzilla.

É fácil entender o pensamento de Tull nessas horas: se você tem limões, faça uma limonada.

Claro que a galera na Universal, internamente, não tá deixando barato. Uma das brincadeiras por lá é que, pra enfrenter o Godzilla, o Kong vai ter que ter o tamanho do Empire State, ao invés de escalá-lo. Se você lembrar que a própria Toho já tinha aumentado o Gorilão na produção dos anos 60, não seria impossível de fazer agora, mas sabe como é dor de cotovelo...

King Kong, Eiji Tsuburaya e Godzilla. Todos com o mesmo tamanho, merecidamente ;D

King Kong, Eiji Tsuburaya e Godzilla. Todos com o mesmo tamanho, merecidamente ;D

Enquanto isso, os Irmãos Warner vão ter apenas um acordo limitado com a Legendary. A ideia é ficar numa trilogia: Kong: Skull Island, Godzilla 2 e King Kong vs. Godzilla. Depois, grana no bolso e adeus. A Warner está contente com os atuais financiadores, a RatPac Entertainment, e não querem mais reviver os tempos ruins com Tull. O carinho da torcida!

Nisso tudo, quem deve sofrer o golpe mais duro é Círculo de Fogo. O filme do Guillermo del Toro foi produzido ainda na época do acordo com a Warner e a Legendary quer fazer uma continuação, principalmente porque uma boa parte da bilheteria de US$ 411 milhões veio da China – onde a empresa possui muitos investidores. Só que a continuação, que teria estreia prevista pra 2017, teve a produção pausada “indefinidamente” e é fácil imaginar o motivo: a Universal está reticente com o parceiro, enquanto a Warner quer só ver a cara deles o mínimo possível...

Mas... Se esses três filmes do Kong e do Godzilla fizerem muito sucesso (potencial tem), será que a mão não vai coçar pra fazer ainda outros, consolidando todo um universo – e incluindo Pacific Rim, de alguma forma, nele?

Dinheiro vicia. E costuma ter voz bastante ativa... ;D