Novo livro de Neil Gaiman vai recontar histórias da mitologia nórdica | JUDAO.com.br

Sejam elas profundas, divertidas, heroicas ou sombrias, tanto faz: o fato é que o escritor vai dar a sua visão bastante particular às tramas do panteão de Odin e sua turma

Uma das primeiras coisas que a imprensa especializadas destacou ao anunciar Norse Mythology, o novo livro do britânico Neil Gaiman, foi “será uma obra de não-ficção”. HEY, PERAÊ. A ideia da obra, encomendada pela editora W.W.Norton, de Nova York, e com lançamento previsto para fevereiro de 2017, meio que se explica pelo seu título: “uma releitura quase romantizada de mitos famosos sobre os deuses de Asgard”. É o olhar da Neil Gaiman sobre a mitologia nórdica, portanto.

Mitos, como se sabe, são narrativas simbólicas criadas como parte de uma determinada cultura para explicar a origem das coisas. Porque, vamos combinar, é muito mais legal imaginar que um trovão seja obra das marteladas de um deus barbudo e cabeludo lá no céu do que o som de uma onda de choque causado pela expansão supersônica do ar.

Logo, não dá pra dizer exatamente que mitos sejam “não-ficção”, não é mesmo?

“Ter a oportunidade de recontar e reinterpretar estes mitos e poemas que herdamos dos nórdicos é bom demais para ser verdade”, diz o inglês descabelado, em comunicado oficial. O livro deve começar com a gênese dos lendários nove mundos, passando pelas façanhas das divindades e de criaturas diversas como elfos, anões e gigantes (de onde diabos você acha que Tolkien tirou inspiração?), e enfim chegando ao Ragnarok, o crepúsculo dos deuses e o renascimento de um novo mundo. Claro, tudo estrelado por personagens que, de alguma forma, a gente conhece bem, como o pai-supremo Odin, o poderoso guerreiro Thor e o trapaceiro Loki.

O próprio Gaiman admite, para o New York Times, que sua relação com os deuses nórdicos (cultuados durante séculos na região que hoje compreende países como Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) começou aos 7 anos de idade — quando, é claro, ele lia o Thor de Stan Lee e Jack Kirby. Depois partiu para uma edição de Myths of the Norsemen, do escritor Roger Lancelyn Green, que leu e releu até que o livro se desfizesse em suas mãos.

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Portanto, espere muito menos por coisas como “Loki é aquele cara com um capacete de chifres e que, adotado por Odin, odeia o meio-irmão loiro de cabelo comprido e capacete” e mais como o mentiroso sem escrúpulos e nenhum charme que, em alguns textos, é tratado não como irmão de Thor, mas sim do próprio Odin. Porque, você sabe, a Marvel tomou um bocado de liberdades poéticas nas histórias do Deus do Trovão. E tá tudo bem. Mesmo.

Não vai ser, claro, a primeira vez que Odin e seus filhos vão dar as caras numa obra de Gaiman. No icônico arco Estação das Brumas, de Sandman, por exemplo, o senhor de Asgard vai até a região do Sonhar acompanhado de Thor e Loki (que ironicamente tem o sobrenome de “Skywalker”, gerando um trocadilho divertido), pedir a chave do inferno para Morpheus em pessoa. Já no livro infantil (ou quase isso...) Odd e os Gigantes de Gelo, de 2008, o autor cruza o caminho do protagonista com os temíveis bárbaros congelados de Jotunheim e também com um urso, uma águia e uma raposa que vão se revelar seres bem peculiares.

Obviamente, em uma de suas obras-primas, Deuses Americanos, tão recheada de referências às mais diferentes mitologias, não poderia faltar algo relacionado às entidades nórdicas. Mas como o livro está virando uma aguardadíssima série pelo canal Starz, existe um detalhe peculiar a respeito deles que, se for revelado, será um spoiler tão gigantesco que é melhor fechar esta menção por aqui. ;)

“Tomara que a dose de conhecimento seja boa”, fecha Gaiman. “Só que, mais do que isso, espero que eu reconte histórias que possam ser lidas como as originais: algumas vezes profundas, algumas vezes divertidas, algumas vezes heroicas, algumas vezes sombria... e sempre inevitáveis”.