Mas a gente merecia mais :)
Numa resenha normal, nada do que você lê aqui é SPOILER, o famoso ESTRAGADEIRO. Mas, como sabemos que no caso desse filme nada é normal, recomendamos um certo cuidado, caso você não tenha assistido ao filme ainda. Just in case. ;)
O clima de já ganhou de Star Wars: O Despertar da Força tá aí mais ou menos desde que aqueles dois segundos de INCREDULIDADE e medo sobre a produção de uma nova trilogia passaram. Boa parte da culpa, é claro, atende pelos nomes de Episódio I, II e III, que meio que definiram que bastaria ser melhor que eles pra ficar tudo bem — ouvir “Chewie, we’re home” num trailer já era melhor que aquilo.
O que JJ Abrams decidiu fazer, então, foi não arriscar. Entregou um filme infinitamente melhor que aqueles três, como se tivesse refazendo e remixando a trilogia original em vários sentidos — quase como se fosse apenas um aviso de que, “hey, tá tudo bem agora, podemos seguir em frente”. Tem o Droid carregando uma mensagem importante, perdido no meio de um planeta DESÉRTICO, onde cresceu uma criança na qual a Força é bastante grande. A diferença é que não é uma princesa que deixa a mensagem, sim um piloto e, bom, a tal da criança quer tudo menos sair daquele lugar; tem o Lado ILUMINADO da Força parecendo mais tentador pro vilão que também tem lá seus Daddy Issues; tem o planeta Tropical que serve como base pra Resistência, tem o planeta gelado que serve como base pra Primeira Ordem; tem o ser baixinho, antigo e estranho que serve como mentor do jovem Jedi; e tem a Starkiller Base, 17x maior que uma Estrela da Morte — mas que precisa que pilotos cheguem bem perto pra tirar em um lugar muito específico, se quiserem destruí-la... Depois que os escudos são desligados, claro.
De fato, você se sente em casa assistindo a Star Wars: O Despertar da Força. Seja um fã que tava lá no cinema em 1978, quando o filme estreou no Brasil, seja o maluco que entrou na onda em 1999 ou essa pessoa que sabe apenas e tão somente que o Darth Vader é pai do Luke e da Leia e que tem o Chewbacca. Mas a vida tá lá fora, não?
Nós já tínhamos visto, de uma maneira ou de outra, essa mesma história sendo contada nesse mesmo universo, com boa parte desses personagens. Star Wars: O Despertar da Força te faz se sentir em casa, sim, mas a casa da Vó, com todos os MIMOS que isso representa, ao invés de ser a sua, que você deixa do seu jeito e, óbvio, valoriza bem mais por ser o responsável por tudo.
Apesar de ser a história da cultura pop sendo feita, Star Wars: O Despertar da Força só o faz por conta do seu passado, que não o usa pra seguir em frente. São 2h de uma busca por um mapa, pra só depois do grande EMBATE de sabre-de-luz do fim do filme sermos entregues ao que promete ser o futuro de Star Wars.
Em compensação, esse futuro parece ser mágico — e a prova de que o Episódio VII já podia representá-lo é a existência de Poe Dameron, Finn, Rey, BB-8, Maz Kanata e Kylo Ren. Diria, até, que eles representam a parte mais complicada desse futuro, já que tem a missão de substituir na nossa mente Luke, Solo, Leia, R2-D2, Yoda e Darth Vader.
BB-8 é um caso à parte. Droids costumam ser mesmo os personagens mais carismáticos de toda essa saga — o Chopper, de Star Wars Rebels, não me deixa mentir — mas ele consegue se destacar ainda mais. Ele só falta verbalizar, porque fala. E nem precisa ter uma cara e músculos faciais pra entendermos cada uma das caras que ele faz. É IMPRESSIONANTE o que JJ Abrams conseguiu por aqui.
E não precisa de muito tempo de tela pra você querer convidar Poe Dameron pra festa da firma — e saber que vai poder contar com ele pra sempre, simplesmente porque ele é tipo a melhor pessoa de todos os Universos. Finn é outro desses que a gente se apaixona por ser quem é, SEMPRE querendo o bem, sabendo que pode se foder enormemente no meio de toda essa história.
Aliás, se tem uma coisa que JJ Abrams é REALMENTE bom é em construir personagens, sempre escolhendo os melhores atores possíveis. Mas ele se superou com a Rey / Daisy Ridley.
Num ano que começou com a Imperator Furiosa, terminar com ela é um sinal MARAVILHOSO do quanto 2015 foi importante pra cultura pop. Mas mais do que ser a melhor e uma das mais importantes personagens desse ano, carrega com ela um ar de novidade, uma inocência de quem tá descobrindo as coisas e se empolgando com aquilo tudo, de quem já ouviu falar de tanta coisa e agora tá descobrindo que tudo aquilo existe, algo que, se vimos, foi em Luke Skywalker.
Kylo Ren, por sua vez, é um vilão melhor que Darth Vader. Suas camadas, além de maiores, são muito mais aparentes. Ele é mau porque ele quer ser mau. Absolutamente descontrolado e que, se não for mais poderoso, usa melhor seus poderes pro mal do que seu antecessor.
Eu queria assistir a Star Wars: O Despertar da Força mais pelo fato de ser um novo Star Wars, mais pela importância desse filme pra cultura pop do que por qualquer outra coisa — e acredito que boa parte das pessoas também. Como filme, é apenas BOM. O quarto melhor de todos esses sete episódios, que funciona muitíssimo bem pra todo mundo que for assistir, independente de quantos filmes já viu, o quanto conhece, o quanto é fã. Pecou em ser mais uma PREPARAÇÃO para o futuro do que um episódio que conta uma história, de fato. É direto demais, objetivo demais. Há muito pouco ou quase nada que se possa enxergar além do alcance. É um Darth Vader, sendo que o ideal era ser um Kylo Ren.
Mas com esse novo vilão, Finn, Poe, BB-8, Fey e aquele primeiro (e literal) cliffhanger de toda a franquia, não dá pra dizer que não foi uma boa preparação. Uma ÓTIMA. E de que o futuro... Será que demora pra chegar? :D