O Hobbit e a Desolação de Peter Jackson | JUDAO.com.br

Não que seja surpresa que, ao fim do terceiro filme, a gente perceba que exageraram. MUITO. Mas A Batalha dos Cinco Exércitos é um erro: uma simples desculpa pra agradar os fãs com uma Batalha

LONDRES ~ O grande ponto de interrogação desenhado na capa desse Hobbit que Peter Jackson resolveu levar pros cinemas, desde a sua primeira edição, é em relação à possibilidade de se chegar, primeiro, a dois filmes e, depois, a três.

Como assim O Hobbit, aquele livro de JRR Tolkien, curto e objetivo, que nem parece o Tolkien ultradetalhista de O Senhor dos Anéis, aguentaria três filmes — ou quase nove horas de tela?

Já no segundo a gente percebeu que não aguentaria. Peter Jackson resolveu desencanar da adaptação, esticando a história e usando suas próprias ideias ou os escritos extras de Tolkien pra segurá-la, o que até o momento em que Smaug, desolado, saiu da montanha, vinha dando certo. Com enorme fraqueza, mas dando certo.

Aí chega O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos e, com 20mins de filme, o livro que conhecemos foi deixado de lado e eis que a história esticada estoura. Smaug (voz de Benedict Cumberbatch), um dos principais personagens dessa brincadeira toda, toma a flecha no coração e, tal qual um ator mexicano, faz todo um drama de língua pra fora antes de perecer. A partir dali, o que se vê é Peter Jackson provando aquela teoria de Harvey Dent: “you either die a hero or live long enough to see yourself become the villain”.

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Smaug: Cumberbatch em momento Televisa

A Batalha dos Cinco Exércitos, embora importante na história, serve muito mais pra mostrar o acerto entre quem é de qual lado, pedidos de perdão e declarações de amizade. São dedicados a apenas dois capítulos, de vinte, no livro.

Mas Peter Jackson parece que não soube muito bem lidar com essa ideia, da objetividade e simplicidade de O Hobbit, a obra original. Na tentativa de recriar o que se viu em O Retorno do Rei, o que se vê são pouco mais de duas horas de uma enorme desculpa pra se ter uma batalha gigantesca nessa história — e a sua falha nesse INTENTO.

Embora, como sempre linda, a treta não tem aquele apelo do NORVANA, que une todas as tribos (inclusive a nossa, de pessoas que já não aguentam mais Terra Média nos cinemas). É muito mais descuidada, em relação a efeitos e roteiro, do que tudo o que se viu na trilogia Senhor dos Anéis.

A Batalha é mais uma punhetagem de Peter Jackson e todo e qualquer fã cego. Tocam as trombetas, orcs morrem, monstros em guerra, Legolas (Orlando Bloom) dá um jeito de se equilibrar, gritos, o mal perde. Fapfapfap, goza na cara.

Como alguém disse outro dia no Twitter, em relação à última rodada da Série B do Brasileirão 2014, “pontos corridos é como os filmes do Senhor dos Anéis: tem umas batalhas legais, mas no geral é chato pra caralho”.

Justamente na adaptação do livro em que tudo é legal e a Batalha é o de menos, Peter Jackson resolveu apelar pro fanservice que, claro, atinge a ele mesmo. Começo a, inclusive, questionar as suas capacidades de contar uma boa história.

(Só pra não esquecer: e se o Guillermo Del Toro tivesse mesmo sido o diretor, hein?)

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Peter Jackson e um amigo qualquer, tirando uma selfie de boa

Legolas nem parece o mesmo personagem, sempre olhando pro nada com cara de quem cheirou peido e não gostou, que na verdade deveria ser uma dor de corno; Tauriel (Evangeline Lilly) acaba mesmo se tornando o Samwise Gamgi dessa nova trilogia, representando o amor (e sendo a donzela que precisa ser salva por anões e elfos); Galadriel (Cate Blanchett) e Elrond (Hugo Weaving) parecem que só estão lá pra fazer uma ligação entre as duas trilogias; Beorn (Mikael Persbrandt) e Radagast (Sylvester McCoy) aparecem de um jeito que você nem lembrava que eles existiam na história — o que fica claro quando se percebe que o Mago do Cocô de Passarinho no cabelo recebe a missão de ~salvar Gandalf (Ian McKellen) que, na cena seguinte, já se levanta atrás de um cavalo e, principalmente, quando se vê por menos de um segundo um urso no meio da treta com os monstros.

Até mesmo o ódio de Azog por Thorin (Richard Armitage) se esvai quando o Baraka Branco fica só de maestro do alto de uma torre, deixando de fazer da treta, ao menos da parte dele, algo pessoal.

Você percebe, você SENTE que deveria existir algo a mais ali. O Hobbit sempre foi mais sobre os personagens e suas relações. Independente da existência dos personagens no livro ou não, a história sempre foi sobre eles. A Batalha dos Cinco Exércitos também.

Destaco, porém, a aparição de Saruman — que, é bom deixar claro, é outra dessas que só tão ali para satisfazer os fãs. Christopher Lee IMORTAL chuta algumas bundas na única treta interessante de todo o filme, tanto no sentido de empatia quanto de beleza. O efeito da galera tretando com os ~fantasmas ficou do caralho.

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Thorin: o retrato fiel do filme

Mas aquele que melhor representa o filme, além de Harvey Dent, é Thorin. Sua mudança de humor e personalidade é idêntica à do filme: do mais absoluto nada e sem aparente sentido, mas justificada totalmente pela Doença do Ouro. Thorin queria mais e mais e se perdeu.

Há um momento, inclusive, que o Escudo de Carvalho se afoga em uma piscina de ouro: é exatamente o caso dessa trilogia O Hobbit.

A diferença é que era só um pesadelo e que Thorin se ligou a tempo da merda que tava fazendo... E pediu perdão.

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O JUDÃO viajou a Londres a convite da Warner Bros.