Pesquisa mostra que, no primeiro semestre de 2015, as bolachas sacudiram a poeira e deram a volta por cima, faturando mais que YouTube, Vevo e Spotify JUNTOS.
Ele é redondo, tem um buraco no meio, tem um monte de chiadinhos esquisitos – mas, vejam só as senhoras e senhores, voltou a ser um hit de vendas. O mais recente relatório da Record Industry Association of America (RIAA), organização norte-americana que representa a indústria fonográfica por lá, diz que os discos de vinil geraram na primeira metade de 2015 uma receita maior do que YouTube, VEVO e Spotify. JUNTOS. É isso aí: enquanto o mercado da música digital faturou os seus US$ 163 milhões, a venda dos vinis sozinha abocanhou expressivos US$ 222 milhões.
O estudo mostra ainda que, apenas entre janeiro e março deste ano, as vendas de vinis já registraram um aumento de 53% em comparação ao mesmo período do ano passado – se formos considerar apenas os lançamentos atuais, sem reedições de discos clássicos ou qualquer coisa assim, o percentual cai para 37%. O que, vamos combinar, ainda é uma bela duma taxa de crescimento. Desde 2009, as vendas neste formato cresceram impressionantes 260%. E em termos de fatia de mercado, pensando apenas em 2014, o vinil aumentou sua participação em 52%. O CD, tadinho? Diminuiu mais de um terço a sua presença nas vendas de formatos físicos.
Olha só: estes números devem ser analisados sob a perspectiva correta, claro. Definitivamente o mercado, tanto lá como cá, não adotou o bom e velho bolachão para substituir o combalido CD. Não é o caso.
Estamos falando de uma produção que é feita para um nicho bastante específico de público, aquele tipo de colecionador que é uma espécie de audiófilo, que quer defende que ouvir um álbum em vinil permite captar melhor as nuances da música e tudo mais.
Além disso, claro, os vinis custam mais caro. Nos EUA, é possível encontrar estes itens numa média de preço que varia de US$ 19,99 a US$ 30 – enquanto os CDs costumam custar algo entre US$ 9,99 a US$ 12,99. Pensando que a assinatura mensal da versão premium de um serviço como o Spotify custa seus US$ 9,99, claro, a gente entende que a concorrência é desleal quando o assunto é arrecadação, né? ;)
Mas, deixando a matemática de lado, não deixa de ser interessante perceber que os LPs (long plays, outro nome pelo qual foram conhecidos os discos de vinil durante muitos anos), uma tecnologia surgida na década de 1940, voltaram a ser representativos para o mercado da música – aquele mesmo que, na última década, vem se engajando em uma batalha para entender o que diabos fazer da vida depois do surgimento da música em formato digital.
Pensemos que, nos EUA, a venda de discos de vinil chegou a atingir o seu maior patamar desde 1991. Curiosamente, foi no começo da década de 90 que eles começaram a perder força com o surgimento dos compact discs, aqueles disquinhos modernosos nos quais cabia muito mais faixas. Pouco antes dos anos 2000, o vinil se tornaria uma coisa obsoleta, ultrapassada, raridade que só os saudosistas faziam questão de cultivar. Hoje não. Ter discos de vinil virou um lance cool.
Quem comemora é a United Record Pressing, maior fábrica de vinis da terra do Tio Sam. Sediada em Nashville, no Tennessee, berço da música country, ela estava iniciando a construção de um novo armazém para dar conta das entregas e acomodando mais 16 novas prensas. É o mesmo caso, por exemplo, da brasileira Polysom, a ÚNICA fábrica tupiniquim de vinil – aliás, para ser mais correto, a única fábrica de vinis da América Latina.
Entre março e maio do ano passado, a Polysom declararou um aumento de vendas de 126%. Depois de declarar falência em 2007, a empresa foi reativada dois anos depois em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, e logo na sequência adquirida pela gravadora Deckdisc. Não demorou até que alguns de seus principais nomes, como Matanza, Pitty, NX Zero e Dead Fish se rendessem a este formato, seja para garantir edições especiais de discos novos, seja para colocar nas mãos dos fãs algumas raridades que nunca tiveram a chance de chegar às lojas.
E além de nomes como Nação Zumbi, Fernanda Takai (Pato Fu) e Cachorro Grande, bandas independentes também estão se rendendo a esta tendência. Os paulistanos do Ludov, por exemplo, fizeram uma campanha de financiamento coletivo e arrecadaram R$ 12 mil para a prensagem de Miragem, seu quarto disco de inéditas, em vinil. “Adoramos tudo num disco de vinil! Todo o ritual envolvido. A agulha no disco, que roda na velocidade perfeita, sem correr, e sem ficar pra trás. A capa maior, o encarte mais completo e com mais espaço. Ouvir música vira algo diferente. Parar tudo que se está fazendo e escutar faz toda diferença!”, afirmou o quarteto, em comunicado oficial.
Tiago Neves, responsável pelo blog especializado The Seventh Wall, parece concordar. “O valor nostálgico e a arte gráfica do vinil ainda são incomparáveis em relação ao CD”, afirmou, em entrevista ao JUDÃO.
“As 42 fábricas existentes no mundo não estão dando conta dos pedidos e mercados”, conta João Augusto, consultor da Polysom, em entrevista ao jornal O Globo. “Esse aumento acompanha uma tendência mundial de busca pelo formato. A impressão que se tem é que uma nova escala de consumidores tem procurado alternativas ao digital, meios de audição que permitam uma nova experiência com música. E o vinil reúne beleza e som extraordinário”.
Sabe aquela história de que o digital ia matar o analógico? De que quem escuta, assiste, lê nos formatos digitais nunca mais ia comprar nada físico? Bom, parece que é hora dos catastrofistas repensarem mais uma vez os seus cenários apocalípticos. ;)