OITO momentos em que Picard mostrou porque é o melhor capitão de Star Trek | JUDAO.com.br

Podia ser apenas porque ele é interpretado pelo Patrick Stewart, que por sinal vai voltar ao personagem numa nova série. Só que tem bem mais do que isso.

Era pra ser “apenas” mais uma edição da Star Trek Las Vegas, convenção de fãs da icônica criação de Gene Roddenberry. A carismática e iluminada presença de Patrick Stewart, claro, seria como uma cereja de um bolo — aquela expressão que a gente usa pra dizer que é algo super especial mas, bem, é bastante fácil encontrar cerejas em bolos pra ter todo esse significado de ~exclusividade.

Agora se esse mesmo cara resolve confirmar a boataria e anunciar que, no serviço de streaming CBS All Access (que produz a ótima Star Trek Discovery, exibida no Brasil pelo Netflix), teremos uma nova série protagonizada por Jean-Luc Picard, capitão clássico de Star Trek: Nova Geração e personagem que ele interpretou ao longo de sete temporadas e quatro filmes... OH FUCK YESSSSSSSS!

Liderado por Kirsten Beyer (roteirista de Star Trek: Discovery e escritora de diversos livros baseados em Star Trek: Voyager), o time de produção da série contará com Alex Kurtzman. “Talvez ele não seja um capitão. E talvez ele não seja o Jean-Luc que vocês conhecem tão bem. Alguém que acabou sendo modificado por suas experiências. Afinal, vão ter se passado 20 anos”, explica Patrick, reforçando que ainda não existem roteiros e nem nada do tipo, mas informando que a história deverá se passar depois de Nemesis (2002). “Garanto que será algo bem diferente – só que feito com a mesma paixão, determinação e amor pelo material original e pelos fãs”.

Toda a empolgação que veio depois, por mais que não se tenha quaisquer detalhes adicionais, é totalmente justificada. Mais do que a estrela dos melhores memes para se usar como resposta na história das redes sociais, indo de “facepalm” a “sorrisinho envergonhado pro crush”, Picard é de longe o melhor capitão de Star Trek em toda a história da franquia. Amamos o Sisko e, bom, não tem nem o que dizer da Janeway, mulherão da porra. Mas Picard ainda tá na ponta. O quê, Kirk? Pfff. Pra provar, selecionamos aqui OITÔ! momentos que provam que, quando o assunto é liderar a ponte de comando da Enterprise (e ser um personagem multifacetado, claro), não tem pra ninguém.

| Quando ele mergulhou em seu lado sombrio e conseguiu voltar
Em Best of Both Worlds Parts 1 & 2 (S03E26 e S04E01), a Enterprise responde a um sinal de socorro vindo de uma colônia da Federação e, quando chega lá, descobre que tudo se foi. A suspeita é de que a consciência coletiva cibernética da civilização dos Borg tenha sido responsável pela assimilação... e eles tavam mais do que certos.

Quando a nave se depara com um dos cubos dos Borg, eles exigem que Picard se entregue. O capitão se recusa a abandonar seu time mas, quando o cubo ataca a Enterprise diretamente e a invade, Jean-Luc acaba sendo capturado AND assimilado. Resistir é inútil e ele se torna então um instrumento de destruição, Locutus, com sua humanidade totalmente arrancada. A ideia seria transformá-lo numa espécie de “emissário” no processo de assimilação da Terra, o próximo alvo dos Borg.

O lance é que, mais do que apenas uma mente brilhante, Picard é dono de uma força de vontade inabalável. E depois de ter, por algum tempo, seu conhecimento sobre a Federação usado para servir de combustível contra ela, o capitão consegue resistir e se torna essencial na derrota do cubo, tendo logo depois os implantes cirurgicamente retirados. Jean-Luc se recupera, é claro, e se torna uma lenda por ter conseguido romper com a abdução da colmeia. Mas as memórias deste lado sombrio permanecem como cicatrizes em sua mente ao longo de toda a vida, fazendo com que ele fique constantemente lutando contra pensamentos obscuros.

| Quando ele deixou o uniforme de lado e encarou seu lado mais humano
Depois de toda a treta com os Borg, bastante intensa para toda a tripulação, eles ganham algum tempo livre para colocar a cabeça em ordem. No caso de Picard, isso significa ir para casa (S04E02, Family), em La Barre, na França, revisitando um passado que ele não encarava há 20 anos enquanto pensa em largar a Federação e assumir um cargo em um projeto de pesquisa marinha chamado Atlantis. Quando, porém, ele se depara com o irmão Robert, que formou sua própria família e agora toma conta da vinícola dos Picard depois que Jean-Luc partiu para o espaço, acaba se formando um embate tão intenso quanto aquele dos Borg.

Olha, o Shatner é uma figura, sabe? É um cara que transborda carisma. Mas, com todo o respeito, é num episódio pessoal como este, que se passa fora da Enterprise e faz com que se rasgue o coração de um personagem naturalmente reservado como Picard, que a categoria de interpretação de um ator como Stewart faz a diferença. É quando os dois irmãos brigam, pelo medo de que René, filho de Robert, resolva se lançar numa “vida de aventuras” como o tio, que Jean-Luc entende que vai ter que conviver para sempre com o que aconteceu com ele. Que existe um ser humano cheio de defeitos por baixo do uniforme. E que estar em contato com este lado que pode vencer mas também pode ser derrotado é o que vai fazê-lo ser um líder ainda melhor.

| Quando ele foi capturado, torturado e mesmo assim não se rendeu
Quando, nos episódios chamados de Chain of Command (S06E10+E11), a Federação designa Picard, Worf e a Dra. Crusher para uma missão secreta envolvendo os Cardassians (favor não confundir), raça brutal e xenófoba do Quadrante Alfa, a Enterprise fica sob comando temporário do capitão Edward Jellico, que tem um estilo de comando totalmente diferente daquele que veio substituir e acaba ajudando a deixar claríssimo o tipo de líder que Jean-Luc é, mesmo em sua ausência. Enquanto isso, o trio tenta adentrar secretamente a base de Celtris III, em busca de uma série de armas biológicas... mas acaba que é justamente tudo uma armadilha para capturar Picard.

Nas mãos do comandante Gul Madred, o capitão da Enterprise é submetido a uma série de torturas, incluindo privação de água e comida, humilhação, privação de sentidos, dores intensas... A ideia é “quebrar” Jean-Luc para tentar conseguir informações sobre os planos da Federação para o planeta Minos Korva, território próximo e que taticamente seria de importante uso para os planos de guerra dos Cardassians.

Totalmente inspirado no clássico 1984, de George Orwell, Madred tenta inclusive fazer Picard admitir que as quatro luzes que ele mostra ao prisioneiro são na verdade cinco. “There are four lights!”, grita o oficial, quando finalmente é liberado, numa cena intensa e que se tornou icônica para Star Trek. Mesmo assim, de volta aos seus aposentos, na Enterprise, Picard confessa para Deanna Troi que, por muito pouco, não se rendeu para que a tortura então parasse — e que, em certo momento, chegou mesmo a ver cinco luzes. Mas resistiu. Força e fraqueza, mostrando um humano real, longe do estereótipo “caubói cabeça-quente que ataca primeiro e pergunta depois” que representava um ooooutro capitão da embarcação.

| Quando ele foi escolhido para representar as últimas memórias de uma raça moribunda
Em The Inner Light (S05E25), uma misteriosa sonda espacial cruza o caminho da Enterprise e acaba, depois de escanear a nave, atingindo Picard em cheio com um raio que o faz desmaiar. Ele fica fora de si durante cerca de 25 minutos, enquanto sua tripulação tenta acordá-lo a todo custo. Mas para ele, em sua consciência, se passam nada menos do que 40 FUCKING ANOS. Porque ele acorda do lado de lá como Kamin, residente do planeta Kataan, fora do Federação. Sua esposa, Eline, e seu amigo Batai o convencem de que aquelas memórias de Enterprise e tudo foram apenas sonhos — e que a vida real é aquela, no vilarejo de Ressik.

Um estudioso da natureza, ele constrói sua família, com a filha Meribor, e vai envelhecendo, à medida que descobre que o planeta está ameaçado graças à radiação do sol ao redor do qual ele orbita.

A extinção da vida no planeta é inevitável e os líderes, que a princípio se recusavam a acreditar nele, admitem que sabiam do que estava acontecendo mas mantiveram tudo em segredo para evitar o pânico e que não têm o nível de tecnologia esperado para evacuar o planeta inteiro. Já avô, Kamin descobre que está prestes a ser lançado um foguete com uma sonda que carrega as memórias da cultura deste planeta inteiro, na esperança que ela alcançasse alguém que pudesse contar a sua história. “Oh, sou eu, não sou? Este alguém”. E é aí que ele acorda na ponte de comando da Enterprise e, dentro da sonda, agora inativa, está uma caixinha com uma pequena flauta... a flauta que Kamin tocava em seu planeta natal.

Uma história que ajudou não apenas a humanizar ainda mais Picard, mas também a torná-lo mais sensível em sua função como diplomata.

| Quando ele mostrou que seu lado mais diplomático também é uma arma preciosa
O título do episódio, Conspiracy (S01E25), já entrega: conspiração. Enquanto a Enterprise tava em rota para Pacifica numa missão científica, o Capitão Picard recebe uma mensagem altamente confidencial de um antigo amigo, o Capitão Walker Keel da USS Horatio. Ele está usando uma frequência de comunicação segura mas, mesmo assim, insiste para que Jean-Luc venha discutir um assunto urgente com ele pessoalmente. Estranho...

Quando a tripulação chega em Dytallix B, descobre outras naves da Federação por lá e, além de Keel, outros capitães chegam pra falar com Picard. E começa uma história sobre mortes secretas de membros da Federação, implicando numa tal conspiração. Mas ainda não existem provas e, apesar de confiar no amigo, JL está cético. Depois de analisar uma série de dados, o capitão começa realmente a ficar desconfiado.

É na Terra, no entanto, durante um encontro de Picard e Riker com um trio de almirantes que as coisas começam a ficar estranhas, ainda mais quando outro de seus amigos, Quinn, se comporta de maneira bastante evasiva. Então, vemos Picard, desarmado, fazer uso de sua diplomacia, de seu talento nato como debatedor e, principalmente, de seu vasto conhecimento sobre a Federação para desvendar uma nuvem de paranoia e descobrir que existe um grupo de parasitas, que usam seres humanoides como hospedeiros, tentando se infiltram nos bastidores da Federação.

| Quando ele voltou no tempo e descobriu que é mais do que um uniforme que faz um capitão
Durante o que parecia ser uma missão diplomática comum no episódio Tapestry (S06E15), o Capitão Picard é atingido por uma arma bastante peculiar e é levado para a área médica em estado grave... e ele morre, para o espanto de toda a sua tripulação em desespero.

Numa outra realidade, ele encontra com o ser alienígena de poderes divinos chamado Q. É ele quem explica que aquela arma destruiu o coração artificial de Picard — mas que se fosse um natural, provavelmente ele teria sobrevivido. A perda aconteceu quando o capitão ainda era jovem, tendo o peito atravessado durante uma briga de bar, num evento do qual ele se arrepende profundamente mas que foi responsável por tê-lo tornado o homem disciplinado que é hoje. Picard diz que se arrepende daquele dia e, num passe de mágica, é levado para o passado, dois dias antes da briga acontecer. Desta forma, ele surpreende os antigos colegas cadetes e muda seu comportamento, fazendo tudo diferente, sem a atitude impulsiva de outrora.

Corta então para o presente, quando Picard não é mais capitão, mas sim apenas um oficial júnior de ciências. Nesta linha do tempo alternativa, ele seguiu uma carreira sem muito destaque, fazendo somente trabalhos de rotina — e Riker, comandante, confirma que foi justamente a sua aversão ao risco que nunca permitiu que ele se destacasse. E foi aí que o nosso capitão sacou que aquela briga de bar foi o que lhe deu um senso de mortalidade importante, mostrando-lhe que a vida era preciosa demais para jogar sempre na zona de conforto. O que ele perdeu, no fim, era parte muito importante de si mesmo. Novamente, ele volta no tempo, faz tudo como antes e o seu futuro se desenvolve da forma que deveria. E o fez perceber que é a sua coragem de tomar decisões que, de fato, lhe deu o posto mais importante da Enterprise.

| Quando ele fica saltando no tempo e descobre que pode ser responsável pelo fim da humanidade
Outra incursão de Q na vida de Picard: agora em All Good Things (S07E25+E26), em que ele fica meio perdido saltando entre três períodos do tempo, tendo que resolver situações distintas mas que, de alguma forma, estão ligadas. Primeiro, é o presente; depois, o passado, seis anos antes e pouco antes da primeira missão da nave, conforme relatado no episódio inaugural da série Encounter at Farpoint; e aí vem o futuro, 25 anos na frente, com um Picard já aposentado e cuidando da vinícola francesa de sua família. Os pulos no tempo acontecem sem aviso, deixando Jean-Luc desnorteado e cheio de perguntas, causando confusão também em todo mundo ao seu redor.

Em comum, as três situações têm uma anomalia próxima da Zona Neutra Romulana e Picard então descobre o envolvimento de Q, como parte de um julgamento no qual a humanidade tem uma última chance de provar que é digna antes de ser extinta. Mais uma vez, o capitão tem que usar uma mistura de instintos com conhecimento científico e muito de seu raciocínio lógico/investigativo para descobrir como evitar a onda de destruição. Ele tem que pensar simultaneamente em múltiplas linhas do tempo, de maneira que uma não afete a outra.

Se isso não é prova o bastante de que este sujeito é foda pra caralho, olha, juro que não sei mais como te convencer.

| Quando ele é obrigado a tomar uma terrível decisão de vida e morte
Mais uma parada envolvendo anomalias temporais, agora em Yesterday’s Enterprise (S03E15): tá lá a nossa USS Enterprise (NCC-1701-D) viajando em missão de rotina quando encontra uma fenda no espaço-tempo. Enquanto monitoram a anomalia, o que aparece de lá é a SS Enterprise-C, toda cagada, o que é realmente estranho, já que estamos falando de uma nave que foi destruída duas décadas antes. Imediatamente, a Enterprise-D passa por uma transformação radical em sua própria linha do tempo, tornando-se uma nave de combate que ajuda a Federação dos Planetas Unidos numa guerra contra os klingons. Worf e Troi não estão mais lá, Tasha Yar (chefe de segurança que foi morta ainda na 1a temporada) tá de volta e ninguém parece ter a mínima noção do que aconteceu. Quer dizer, “ninguém” é uma palavra forte, porque Guinan sente que tem algo errado e resolve falar com Picard. A Enterprise-C não pertence àquele lugar e deve retornar ao passado.

A Capitã Rachel Garrett, da versão C da Enterprise, sabe que eles viajaram no tempo — mas foi este pulo inesperado que salvou as suas vidas de um ataque romulano. E é aí que começa uma decisão dificílima para Picard: porque se a Enterprise-C voltar, é morte certa para eles. Mas se eles ficarem, a realidade permanece alterada e a Federação está prestes a sofrer uma grave derrota nas mãos dos Klingons, que pode ser gravíssima para o restante da galáxia, colocando bilhões de vidas em risco.

É uma escolha moral entre dois caminhos terríveis, mas que só um comandante do nível de Jean-Luc Picard não apenas tomaria, mas também seria seguido quase que sem pestanejar por seu time.