Pelo trailer, Polar é um filme que mistura RED, Sin City e John Wick com Mads Mikkelsen. Por mim, tudo ótimo. | JUDAO.com.br

Obra do espanhol Víctor Santos, que nasceu na internet mas depois se tornou hit via Dark Horse, chega ao Netflix no dia 25/1, com Mads Mikkelsen no papel principal

Nascido em Valencia, na Espanha, Víctor Santos Montesinos é, do alto de seus quase 42 anos, uma cria da internet. Roteirista e desenhista de gibis desde que se entende por gente, respirou Mike Mignola e Bruce Timm na criação de Los Reyes Elfos, HQ de fantasia com um quê óbvio de Tolkien mas que se tornou uma espécie de sucesso local. Ainda integrante do coletivo Los 7 Monos, que montou com colegas da escola de artes, conseguiu fazer a parada se tornar uma porrada de volumes impressos, realizando aquele sonho de todo autor iniciante, ter o gibi em mãos, folhear, aquela história.

Os anos passaram, ele continuou trabalhando sem parar, quase sempre independente, até conseguir entrar no mercado americano. Em 2009, teve sua arte publicada em três títulos que saíram por três editoras diferentes: com roteiro de Brian Azzarello, ilustrou Filthy Rich pra Vertigo; na Image, fez dupla com Bryan J. L. Glass, substituindo Michael Avon Oeming à frente de Mice Templar: Destiny; e, pra Antarctic Press, fez parceria com Miles Gunter (que escreveu BPRD, o spin-off do Hellboy) no satânico título Demon Cleaner. Mais tarde, ao cair na IDW Publishing, ficou responsável pelos desenhos da expansão pros gibis de Witch & Wizard, saga literária YA do premiado James Patterson.

O currículo que o cara começou a montar era dos bons, mesmo. Mas a sua grande explosão profissional, quem diria, viria com uma HQ autoral. Que começou, na real, no mercado europeu e depois foi parar onde? Ora, ora, na internet.

O protagonista, o matador de aluguel internacional Black Kaiser, surgiu como anti-herói de uma graphic novel noir que Victor publicou via editora Planeta-De-Agostini na Espanha e na Itália, ainda em 2010.

O autor descrevia a obra como sendo principalmente inspirada nos lisérgicos gibis de Nick Fury de Jim Steranko, numa mistura de Marvel, mangás, filmes de Jason Bourne e livros de Trevanian — o alter-ego do americano Rodney William Whitaker, autor de Shibumi, com o assassino Nicholai Hel. Eventualmente, no entanto, a editora perderia o interesse no personagem, por mais que Victor ainda tivesse muitas ideias para desenvolvê-lo.

Cerca de 1 ano depois, quando tinha acabado de entregar um trampo pra IDW e tava esperando chegar o roteiro de outro, ele voltou. Não querendo ficar muito tempo sem desenhar, ele trouxe de volta o Black Kaiser para a HQ que batizou de Polar, uma webcomic, que ele usava como treinamento. Ou melhor ainda: um experimento.

Experimento de história totalmente improvisada, de linguagem silenciosa e sem diálogos, de narrativa widescreen, de um estilo minimalista e estilizado em branco, preto e laranja, com páginas que não demoravam mais do que poucas horas para ficar prontas.

“Eu acho divertido fazer uma história mensal e ver a reação dos leitores com cada uma das páginas”, explicou ele pro Newsarama, quando sua obra aparentemente despretensiosa foi descoberta e começou a se tornar rapidamente cult entre os fãs de quadrinhos. Pra quem não conhece a produção dele, a lista de inspirações cinematográfica que o quadrinista faz é bastante promissora: O Samurai (1967), Tóquio Violenta (1966) e o thriller À Queima-Roupa (1967), com Lee Marvin. Basicamente, o assassino resolveu se aposentar e levar uma vida tranquila... até que seu passado, na forma de uma nova geração de matadores trabalhando pros mesmos empregadores com medo de um vazamento de informações, veio bater na sua bunda. Mas coitado de quem inventou de tirar o cara de sua paz, não é?

Victor Santos fez, sem dever nada a ninguém, nada menos do que três “temporadas” de Polar... até que a Dark Horse entrou no seu caminho. E na San Diego Comic-Con de 2013, eis que a editora anunciou: a história seria publicada em uma graphic novel de capa dura com 160 páginas. E o encadernado Polar: Came From the Cold enfim ganhou diálogos, aqueles com os quais o autor começou a flertar conforme a história foi ficando mais complexa, levando inclusive o Kaiser a fazer investigações, mas que acabou descartando pelo receio do desafio que seria escrever em inglês. Agora era a hora.

O negócio deu tão certo que acabou virando CINCO volumes, incluindo o prelúdio original — a compilação final, que encerra a trama, The Kaiser Falls, sai no mês de Abril. Só que a Dark Horse, que tá longe de ser besta, sabia bem da pérola que tinha em mãos, um gibi que, da mesma forma que o Sin City de Frank Miller, era praticamente um storyboard esperando pra ser filmado. Então, a divisão Dark Horse Entertainment fechou um acordo com a Constantin Film e, de posse de um SPEC SCRIPT escrito por Jayson Rothwell (Natal Sangrento), se lançaram no mercado pra fazer o negócio acontecer.

Demorou? Demorou: os caras tinham planos de começar a rodar em 2015, pensa nisso. Mas a gestação valeu a pena. E um gibi que nasceu na internet, claro, ironia suprema do destino, se tornaria filme na internet — no caso, no Netflix mesmo.

Polar, o filme, que estreia no serviço de streaming no próximo dia 25, é dirigido pelo sueco Jonas Åkerlund, ex-baterista da banda de black metal Bathory e que depois se tornou um conceituado cineasta especializado em videoclipes, começando com o duo Roxette, passando pelo controverso (?) Smack My Bitch Up, do Prodigy, e então acrescentando ao currículo nomes estrelados como Metallica, Christina Aguilera, U2, Blink-182, P!nk, Britney Spears, Lady Gaga, Smashing Pumpkins e Madonna.

No papel do Kaiser, ninguém menos do que o igualmente lindo e assustador Mads Mikkelsen, uma espécie de John Wick mais coroa (incluindo o cachorro, pelo jeito), com Vanessa Hudgens interpretando a jovem protegida do assassino e que dá algum fiapo de sentido à sua vida repleta de sangue, suor e pólvora. Cuidando da trilha sonora original, está o produtor e DJ canadense deadmau5, aquele mesmo que toca com uma máscara meio Mickey Mouse.

“So many Kojima references I can’t believe it”, brinca um dos comentários do trailer oficial no YouTube. Bom, considerando o tanto que a internet pirou com as fotos do bromance entre Mads e Hideo Kojima desde que o ator gravou as vozes para o jogo Death Stranding, dá até pra aceitar que o tapa-olho seja mais Solid Snake e menos Nick Fury, vai... ;)