Pra quem quer colocar seu serviço de streaming proprietário no ar, todo belo e formoso, digamos que a franquia vai fazer certa falta, né?
Lá em 2012, quando a Disney quebrou o seu porquinho e desembolsou a bagatela de US$ 4 bilhões pela Lucasfilm, digamos que a turma do Mickey Mouse sabia muito bem que não tava só comprando uma empresa — ela anexou um novo império ao seu próprio. Conforme o Business Insider bem recorda, se formos considerar APENAS a grana que deram os filmes da saga produzidos pela Disney (O Despertar da Força, Rogue One e Os Últimos Jedis*), adivinha só, cinco anos depois, a Lucasfilm se pagou.
Isso porque a gente não coloca Han Solo nesta conta (e, goste você ou não, o filme fez lá o seu dinheiro, por menor que tenha sido pros padrões margaridianos) e tampouco o quanto estas produções geraram em merchandising, uma verdadeira enxurrada de camisetas, bonequinhos e todo o tipo de tranqueira licenciada. Foi isso que o Tio Patinhas comprou com parte da sua caixa forte: algo que garantiria tranquilamente que a piscina de grana não apenas se enchesse de dinheiro novamente mas que transbordasse pra tudo quanto é lado.
A primeira providência, claro, foi nos cinemas, com a garantia de que teríamos novos filmes da saga, uma nova trilogia e as tais histórias paralelas. Os gibis saíram da Dark Horse e foram, obviamente, pra debaixo da asa da Marvel, o braço quadrinístico da galera do Pateta. No caso do universo estendido literário, deram um jeito na bagunça, organizaram o CANON e criaram o tal selo Legends. Quando o assunto são joguinhos, rolou o acordão com a EA em 2013 e, depois de uma queda de braços que durou algum tempo com a Fox, enfim não apenas os novos filmes mas também os seis antigos estavam garantidos em novos lançamentos pro mercado de home video.
Tá tudo lindo, tá tudo dominado, ainda mais agora que vai rolar um serviço de streaming do mundinho Disney em 2019, o seu Netflix particular no qual tudo que é Star Wars vai ser carro chefe pra atrair novos assinantes. Teremos novos episódios de Clone Wars, também uma nova série live-action sob a batuta de Jon Favreau e que, segundo o New York Times, vai custar polpudos US$ 100 milhões por 10 episódios. A batalha já tá ganha, né?
Então... não.
Onde está uma das forças do Netflix, por exemplo? Não só no conteúdo original, mas também no catálogo. Aqueles filmes que você já viu mas que gosta tanto que, porra, assistiria e reprisaria milhões de vezes. A partir do filme da Capitã Marvel, em Março do ano que vem, já se sabe que a janela da Disney pro streaming não inclui mais o Netflix na jogada, direcionando suas produções diretamente pro seu próprio Disneyflix. Beleza pura, contrato com Los Gatos encerrado, vai ter todo aquele monte de Marvel, Pixar, princesas e a porra toda pra gente rever quantas vezes quisesse. Mas então, não. Tem um buraco aí. Um buraco que atende JUSTAMENTE pelo nome de Star Wars.
Em 2016, a Disney fechou um acordo com a Turner Broadcasting, empresa do grupo Warner e agora integrante da família AT&T, pelos direitos televisivos dos filmes da saga criada por George Lucas. O contrato é válido por OITO anos, o que significa, na prática, que até 2024 a empresa pode exibir as produções em seus canais de filmes como TNT, TBS e mesmo o Cartoon Network, como já aconteceu em algum momento. O contrato inclui TAMBÉM fazer parte do catálogo ONLINE destes canais, tipo um TNT GO da vida. Tá sentindo o drama? Pois é, mas se segura aí porque não acabou: a canetada também inclui não apenas os seis filmes clássicos, das duas primeiras trilogias. Mas também o que for lançado nos cinemas ATÉ LÁ.
Ou seja, O Despertar da Força, Rogue One, Os Últimos Jedis* e Han Solo entram no balaio. Até o VINDOURO Episódio IX entra na dança.
Acho que AGORA você conseguiu sentir o drama dos advogados correndo pra lá e pra cá em Hollywood, tal qual um bando de stormtroppers desnorteados, né? ¯\_(ツ)_/¯
Em termos de janela de exibição, o que a Turner comprou foi o direito de exibir os filmes na segunda fase dos canais dedicados à Sétima Arte. Depois que o filme sai dos cinemas, alguns meses depois ele vai pra DVD/Blu-ray e, passada outra rodada de meses é que ele vai parar nos chamados canais premium, tipo uma HBO, Showtime ou mesmo o Telecine Premium. Pra efeitos práticos, até o Netflix entra neste momento aí (algumas distribuidoras, no entanto, já negociam o streaming lá atrás, junto com os lançamentos de varejo e aquela parada moribunda que atende pelo nome de locadora). Só depoooooois é que ele vai parar nos chamados canais de TV por assinatura mais básicos, nos quais se incluem um FX, uma FOX e uma TNT da vida. No final do calendário é que então a produção aterrissa na TV aberta.
De acordo com a Bloomberg, OBVIAMENTE a Disney tá lá, em ferrenhas negociações pra desfazer esta caceta toda. Só que não é tão fácil assim: a Turner pagou US$ 275 milhões pelos filmes lançados entre 1977 e 2005 e estendeu a brincadeira pros novos filmes. Ou seja, pra desfazer o negócio, além de uma compensação financeira, eles pedem igualmente uma compensação DE CONTEÚDO. Meio “me devolve uma parte do dinheiro e me dá algo em troca. Vocês não tem outros filmes aí?”.
Porra, claro, o que não falta pra Disney é esta palavra mágica, CONTEÚDO. Isso eles têm de sobra pra oferecer. Mas o que a Turner tá disposta a receber como forma de compensar a falta de um Star Wars? Chegou o Natal, feriadão, galera toda de preguiça em casa, o que o programador de um canal de TV como estes faz? Mete uma maratona de Star Wars e tá feito. E mais: o que a Disney estaria disposta a liberar pra compensar Star Wars? Porque, conforme Patópolis se agiganta ao engolir a Fox de um lado, o inimigo cresce e ganha músculos do outro. E a Turner faz JUSTAMENTE parte do OUTRO conglomerado.
Esta batalha, no fim das contas, não envolve sabres de luz, mas sim cifrões – saem os Jedis* e os Siths e entram os engravatados e suas maletas. Só que este tipo de luta pode ser ainda mais dura e muito mais sangrenta. Durma-se com um barulho destes.