A tal da introdução da Magia ao Universo Marvel dos Cinemas não passa disso… É um filme lindo de se ver, mas sem consistência nenhuma.
Das coisas que se esperava de um filme do Doutor Estranho, é compreensível que a GRANDILOQUÊNCIA tenha ficado mais com os trailers, já que este é, e sempre foi, um filme “menor” da Marvel, como bem disse o nosso Thiago Cardim na sua resenha. O problema é que a incursão em universos múltiplos, o surgimento da magia no Universo Marvel dos Cinemas e as viagens no espaço e no tempo acabaram fazendo com que ele fosse também pequeno.
Doutor Estranho é um filme fraco. Beeeem fraco.
Começa com a tal comparação com o primeiro Homem de Ferro. Sim, é um filme que conta a origem de um herói que também é um humano normal, cheio das certezas sobre a vida que, de repente, precisa rever os seus conceitos sobre tudo o que conhecia até então. Mas as semelhanças (e eventuais esperanças) acabam por aí.
Além de perder todo o seu rico dinheirinho em sua busca pela cura, Strange não tem um traço do carisma de Tony Stark. Não é culpa de Benedict Cumberbatch, que se fosse necessário aguentaria a bronca de liderar o MCU pós-Guerra Infinita, sem maiores problemas. A questão é que as coisas não se encaixam no filme.
É como um enorme quebra cabeças em que é possível enxergar a imagem que ele forma, mas com todas as peças tortas, em lugares errados, de ponta cabeça, uma em cima da outra.
“Então agora temos magos na Terra?”, pergunta alguém em determinado momento do filme. A resposta todo mundo sabe antes mesmo de entrar no cinema, mas Doutor Estranho acaba tendo como única razão de existir a introdução da magia no Universo Marvel dos Cinemas — mais ou menos como Guardiões da Galáxia fez com o ESPAÇO SIDERAL, com a diferença óbvia de que Guardiões é um filme que funciona sozinho, em si, tendo sua própria história, seu próprio universo. Doutor Estranho, enquanto isso, força a barra.
As barras.
A Anciã tem um CARGO que pessoas aleatórias assumem e etc, a gente entendeu. Mas o filme não apresenta nenhuma outra razão pra que ela seja uma mulher branca além de que queriam escalar a Tilda Swinton para o papel, ponto final. Não há absolutamente NADA na sua atuação que nos faça, no mínimo, aceitá-la. E simplesmente despejar a informação de que ela celta, como se isso fosse resolver o problema... Sério? Fica claro que QUALQUER um poderia ser aquele personagem e chega a incomodar essa DISCREPÂNCIA com todo o resto do filme.
Já diria Tati Quebra-Barraco: “cê num tinha nem que tá aqui, linda”
O humor e os alívios cômicos sempre fizeram parte dos filmes da Marvel, desde o início, sabemos disso também. “No gang signs, please” disse Tony Stark logo nos primeiros minutos dessa história, ajudando a moldar o tom do que veríamos a seguir e, principalmente, do personagem que lideraria a cultura pop pelos próximos anos.
O que acontece em Doutor Estranho é como se o tempo todo o roteiro e a direção estivessem dando PISCADINHAS para o público, algo no nível “Hey, você viu o que a gente fez aqui? Hein? Hein?”. Deixou de ser algo que funciona dentro do filme, da história, do universo, parecendo um pedido desesperado de ajuda do público para que aquilo funcionasse... E não funciona em 99.9% das vezes, chegando a constranger nas interações entre Strange e Wong (dois nomes bastaria).
Sabe aquela coisa de que se uma piada é engraçada na primeira vez, contá-la várias vezes acaba tirando a graça? Doutor Estranho, o filme, não sabe.
A Marvel ainda perdeu uma oportunidade mágica (sem trocadilhos aqui) de fazer a ligação tão esperada com as séries do Netflix: pelo que a Christine Palmer (Rachel McAdams) faz no filme, podiam ter aproveitado a Claire Temple (Rosario Dawson). Se é pra precisar de ajuda e chamar uma pessoa pra tratar, desenvolvendo muito pouco ou quase nada da personagem, ela já estava por aí.
E nem precisava inventar desculpa pra ela trabalhar naquele hospital. Qualquer coisa que fosse dita já bastaria, exatamente como aconteceu na série do Luke Cage. :P
Desenvolvimento de personagens é algo que Doutor Estranho não tem e nem chega perto de ter
Sabe uma coisa boa, porém? O vilão. Não o Kaecilius do Mads Mikkelsen, que segue a cartilha Marvel Studios de piores vilões da cultura pop, mas sim o Mordo, de Chiwetel Ejiofor. E não, não nesse filme... No próximo. É nele que mora a esperança de que o Doutor Estranho possa viver boas histórias, além de ter um antagonista interessante, com uma motivação real, representando algum perigo de fato. É lá na frente, sem a necessidade de apresentar nada a ninguém, que mora a possibilidade de uma história mágica (agora sim, com trocadilho) ser contada.
Doutor Estranho é um filme lindo que merece ser assistido em IMAX ou em qualquer grande tela perto de você (não precisa ser 3D, ainda que eu não acredite que seja possível separar uma tela de tamanho considerável e aqueles óculos malditos), mas não tem consistência. Não é ruim, mas é absolutamente esquecível. Introdução por introdução à magia e ao sobrenatural, Agents of SHIELD tem feito de maneira muito mais interessante em sua quarta temporada.
E se até Agents of SHIELD funciona melhor que o filme... :P