RESENHA! Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Homem-Aranha: De Volta ao Lar não é só o melhor filme desde Homem-Aranha 2. É o melhor dos cincos filmes por uma razão bem simples simples: na verdade, é um filme do Peter Parker definitivo.

Você nem se acostumou direito com a poltrona do cinema, ainda tá tentando arranjar aquela primeira e importante posição na qual ficará boa parte das próximas horas e Homem-Aranha: De Volta ao Lar já tira vários elefantes brancos da sala sendo o maior deles aquele que, com sua tromba enorme, não parava de dizer que os trailers mostraram tudo e que seria um filme do Homem de Ferro.

A presença do Tony Stark / Homem de Ferro, ao menos em termos de presença de tela, não deve chegar a 10mins, ainda que sua existência seja de EXTREMA importância para a história do filme e para o Peter Parker, o real dono da porra toda.

Porque é, como toda boa história do Homem-Aranha, ela é essencialmente sobre Peter Parker, SUBVERTENDO um pouco as coisas com que estamos acostumados nesses filmes: o super-herói a gente já conhecia desde que ele roubou o escudo do Capitão América, mas o garoto embaixo daquela fantasia nós conhecemos agora — algo que você pode tranquilamente colocar na conta do diretor Jon Watts e dos roteiristas, o que, se não é uma prova, é no mínimo um exemplo bem interessante de que a Marvel resolveu soltar pelo menos um pouco as rédeas depois de James Gunn e os seus, quase que literalmente, Guardiões da Galáxia.

Não há muita novidade na história, que fica mesmo nessa coisa de ter a roupa do Homem-Aranha by Tony Stark, perder por fazer merda e precisar se redimir pra conquistá-la. Mas Homem-Aranha: De Volta ao Lar a conta de uma maneira diferente, divertida, muito mais interessante e com um enorme coração.

Tão diferente, tão interessante que algumas das maiores críticas feitas aos filmes da Marvel Studios são quase impossíveis de serem repetidas por aqui. Trata-se de um filme realmente colorido, usando o dia e a noite muito bem (ainda que, se você for assistir em 3D, pode acabar tendo um ou outro problema com isso); a música do Michael Giacchino se sobressai em diversos momentos; e o Abutre do Michael Keaton é um vilão realmente bom.

Tem motivação pra ser do mal, tem motivação pra querer acabar com o Aranha, não sentindo nenhum pouco de remorso de nada do que faz. Talvez possamos dizer que ele seja mais um daqueles vilões que só servem pra fazer com o que a jornada do herói seja completa, mas eu não sei até que ponto isso é REALMENTE ruim. :)

Quando eu disse coração anteriormente, eu quis dizer não só pelo ACALENTO que o filme passa, mas também por dar uma bombeada no sangue, fazendo todo um universo respirar e conseguir energia — tudo personificado no Ned, o personagem interpretado por Jacob Batalon. Essencialmente ele é eu e você dentro do filme, empolgadíssimo com toda essa história, por saber que seu melhor amigo é aquele cara do YouTube, uma metralhadora de perguntas que, sem que você perceba, serve também pra contar a origem que absolutamente TODO MUNDO já conhece do Homem-Aranha.

Picada de Aranha, a morte do Tio Ben... Tá tudo lá, se você olhar um pouco mais a fundo. E é sempre o Ned que expõe.

A Michelle, que realmente se chama Michelle, é uma das partes desse coração. No final do filme, a gente já consegue imaginar absolutamente tudo o que vai acontecer até o final dessa trilogia, mas com tudo o que ela faz em cada uma das poucas vezes em que aparece na tela, a gente só torce, com vontade, pra que tudo isso realmente aconteça.

Mas é o Tom Holland que faz com que todo esse coração funcione. É o sangue que leva todo esse amor pelos mais diversos pontos do filme, que de certa maneira ajuda a quebrar um pouco mais todo o egocentrismo de Tony Stark, que coloca pra cima todos os personagens com os quais interage, seja como Homem-Aranha, o Vingador, seja como Homem-Aranha, o Amigão da Vizinhança, seja como Peter Parker, o estagiário do Sr. Stark, seja como Peter Parker, o sobrinho da Tia May.

Muito cedo pra dizer que ele é o Homem-Aranha definitivo e que, assim como ele mesmo disse em entrevista ao JUDÃO, espero que seja por milhões de anos o personagem? Eu penso que não.

O diretor Jon Watts com o “Clube dos Cinco” no set de Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Sem os estereótipos que se espera de filmes com super-heróis e de filmes que se passam no HIGH SCHOOL, ainda que totalmente inspirado na obra de John Hughes, Homem-Aranha: De Volta ao Lar não desvia a atenção de ninguém enquanto conta a sua história e, assim, e como se deve novamente esperar de uma história do Homem-Aranha, se torna muito mais próximo de quem assiste, nos mais diversos níveis, cores e tamanhos.

O Flash Thompson (Tony Revolori) é o mesmo bully paunocu que conhecemos, mas não o MACHO ALFA, quarterback dos TIGERS, como são conhecidos os times da escola. Na verdade o moleque tá no time do Decatlo de Ciências... E por aí vai.

Tia May sendo a Marisa Tomei resolve uma coisa que eu sinceramente nunca entendi e chegou a me incomodar quando revi os dois primeiros filmes, do Sam Raimi, recentemente: como é que a Tia de um adolescente consegue ter toda aquela idade? POSSÍVEL até é, mas...

Essa JOVIALIDADE também é usada em alguns dos momentos mais legais do filme, que servem até de certa maneira como educação pra molecada — pros marmanjos também, mas esses muito provavelmente tão ocupados demais com suas reclamações dentro da própria cabeça pra conseguir absorver algo tão legal num filme de super-herói que nem sequer foi feito pra ele, ainda que um enorme CARDÁPIO de referências esteja disponível.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar não é só o melhor filme desde Homem-Aranha 2. É o melhor dos cincos filmes por uma razão bem simples simples: na verdade, é um filme do Peter Parker

Talvez seus olhos rolem naturalmente pra cima enquanto você vê toda essa coisa de Homem-Aranha sendo o melhor Homem-Aranha do mundo e cagando com quem se importa com ele nos dois primeiros atos do filme. Será uma demonstração ÓBVIA de que você não tem coração, mas ainda assim, é no terceiro ato que Homem-Aranha: De Volta ao Lar deixa Homem-Aranha 2 em segundo lugar nesse ranking que nem sequer deveria existir.

É nesse último terço do filme que a gente percebe todas as bexigas de emoções que foram atacadas pra gente desde o início chegando, prontinhas pra explodir na nossa cara, seja chorando, rindo, batendo palmas e percebendo que, enfim, o Homem-Aranha tá em casa e se sentindo à vontade, relaxado, pé pra cima, sorriso no rosto.

Exatamente como você vai ficar depois de assistir a Homem-Aranha: De Volta ao Lar.