Não é só Derry que o Clube dos Otários impede de ser consumida pelo mal | JUDAO.com.br

Uma adaptação que conseguiu fazer com que as três longas e desnecessárias horas de uma resolução não sejam tão cansativas merece nosso respeito. Mas daí a a dizer que It – A Coisa: Capítulo 2 é um bom filme, bem…

Ao contrário das adaptações anteriores, It – A Coisa de 2017 resolveu se focar apenas e tão somente no Clube dos Otários, criando toda uma ligação entre aqueles garotos ~estranhos que sofriam na mão dos valentões, se unindo contra o mal encarnado em Pennywise, o Palhaço Dançarino. Uma ligação tão forte que fez com que o público também se unisse em torno de Bill, Ben, Bev, Richie, Eddie, Mike e Stan e fizesse o filme bater recordes e mais recordes de bilheteria, garantindo toda uma antecipação para a estreia da sua sequência, anunciada pouco antes dos créditos do filme.

Eis que, enfim, It – A Coisa: Capítulo 2 chega aos cinemas com a mesma base do primeiro episódio: é o Clube dos Otários que faz com que o longa seja legal, interessante e divertido. O problema é que eles não são mais o foco principal e, bem... O que acaba sobrando pra gente é uma resolução bem chata e sem graça, de 3h, que é impossível não sentir que não precisava existir. Não porque “nossa, deixa o primeiro filme em paz”, mas porque simplesmente não faz jus à sua primeira parte. E, novamente, não porque é um filme ruim, mas porque simplesmente a segunda parte da história não tem graça suficiente.

Não sei se poderíamos esperar qualquer coisa diferente de uma história de Stephen King, que não costuma ser conhecido por dar bons desfechos às suas histórias — algo que é DIRETAMENTE mencionado durante o filme, aliás — mas It – A Coisa: Capítulo 2 abandonou completamente o terror e as ligações entre as pessoas em torno do mal pra se focar em cenas de ação e todo um plot envolvendo alienígenas que faz com que tudo o que vimos antes se perca como um navio de papel navegando pelo meio-fio em um dia de chuva.

Otários pra sempre

A escolha de Jessica Chastain, Bill Hader, James McAvoy, Jay Ryan, James Ransone, Isaiah Mustafa e Andy Bean para interpretar os agora quarentões Beverly Marsh, Richie Tozier, Bill Denbrough, Ben Hanscom, Eddie Kaspbrak, Mike Hanlon e Stanley Uris é ridiculamente boa. Assim... REALMENTE sensacional. É uma das coisas mais divertidas do filme, isso de o tempo todo ficar comparando com os JOVENS — são tão parecidos, TÃO parecidos que é impossível não ficar impactado, abrir um sorriso e pensar “PUTAQUEPARIU SÃO IDÊNTICOS!” a cada aparição.

O fato de eu ter assistido ao primeiro filme horas antes de assistir ao segundo pode ter ajudado nisso? Pode sim. Mas as INTERSECÇÕES com o passado, mostrando o que aconteceu com cada um desses personagens durante o tempo em que eles ficaram separados depois da primeira INCURSÃO na Casa do Poço, são a outra coisa legal do filme e ajudam bastante nessa coisa de comparar os atores adultos com as crianças. Ao mesmo tempo, ambas as coisas depõem demais contra It – A Coisa: Capítulo 2.

Enquanto It – A Coisa: Capítulo 2 tenta nos vender toda uma história sem graça alguma de como o mal chegou em Derry e de como ele pode ser derrotado, é o Clube dos Otários e sua ligação direta com a história do primeiro filme que faz com que as tais 3h de filme não pareçam tão cansativas na prática. São, em resumo, cenas deletadas de um filme de dois anos atrás que fazem com que It – A Coisa: Capítulo 2 seja interessante. Isso não parece muuuuito certo assim...

Milagres acontecem. Mas eles costumam mais não acontecer.

Nada disso, porém, é um problema do filme que, como FILME, é bem amarradinho. Andy Muschietti, o diretor argentino dos dois capítulos, está definitivamente mais solto, citando nominalmente Buenos Aires e colocando seu time de coração, o Clube Atlético Independiente, bem no centro de umas das cenas mais divertidas de It – A Coisa: Capítulo 2. É bastante claro que o problema, mesmo, é a história e não havia muito o que se fazer em relação a isso.

Talvez fosse possível inventar alguma coisa pra gerar toda a ATMOSFERA de horror dentro de Derry novamente, fazendo com que os novos desaparecimentos de pessoas não fossem só uma citação muito rápida. Talvez fosse o caso de fazer com que o Clube dos Otários reunido não partisse direto pra porrada e que essa porrada não fosse o foco da produção. Mas só de pensar nisso já consigo ouvir fãs puristas de Stephen King, se bobear até o próprio, reclamando.

Não é uma adaptação ruim, veja bem. Pelo contrário. Conseguir juntar tudo isso em 3h e ainda não fazer com que elas sejam insuportavelmente cansativas, é um ponto MUITO positivo pra direção, pro roteiro e pra edição. Mas tem coisa que não dá pra fazer milagre, mesmo.

Não é como se fosse possível dizer que é um bom filme...

Fiquei pensando um bom tempo sobre como eu iria me encerrar essa resenha, como eu poderia resumir o que senti pelo filme, e acho que entendi: It – A Coisa: Capítulo 2 é uma boa adaptação. Isso diz mais do que qualquer coisa: o fã da história talvez se contente com a simples ideia de que vai ver no cinema boa parte do que conhece dos livros; mas o fã do primeiro filme, aquele mesmo que se surpreendeu por enfim gostar de algo que vem de Stephen King, sabe que não vai ver muito além disso.

Tirando, é claro, Jessica Chastain, Bill Hader, James McAvoy, Jay Ryan, James Ransone, Isaiah Mustafa e Andy Bean e algumas cenas deletadas (e até retcon) do primeiro filme. Mas aí... Será que vale mesmo a pena encarar essas 3h de cinema, caro espectador? Deixo com você.