Apesar da narrativa não ser necessariamente uma surpresa, o filme carrega uma nostalgia que pode emocionar os mais velhos e encantar uma geração que não conhece essa história ou não tem o mesmo apego pela animação original
Qualquer pessoa que viveu os anos 1990 passou pela experiência de ver O Rei Leão, seja no cinema, na televisão ou no jurássico formato VHS – e posteriormente em DVD. Dificilmente, você encontrará alguém que não foi impactado pela história shakespeariana de um jovem leão que precisa assumir seu papel no grande ciclo da vida. Provavelmente, a morte do Mufasa pode ser apontada como um trauma infantil compartilhado por toda uma geração.
Agora, a Disney tem o desafio de repetir essa mesma emoção com novas tecnologias e para uma NOVA geração, além é claro de captar a atenção da ~velha geração, que é bastante inclinada a não gostar que toquem nos seus clássicos ou de qualquer coisa que não é feita para elas (“ai, porque destruíram a minha infância”).
Dirigida por Jon Favreau, essa versão live-action já nasce com pedigree por ser comandada pelo homem responsável pelo sucesso Mogli: o Menino Lobo. Apresentando pequenas mudanças narrativas, esse novo filme pode facilmente ser chamado de refilmagem, pois segue essencialmente a trama original atemporal sobre um jovem leão príncipe que foge do seu reino após o assassinato do seu pai, mas retorna ao aprender o significado de responsabilidade e coragem com um suricato e um javali.
Apesar da narrativa não ser necessariamente uma surpresa, O Rei Leão carrega uma nostalgia que pode emocionar os mais velhos e encantar uma geração que não conhece essa história ou não tem o mesmo apego pela animação original. E um ponto para o filme funcionar e ainda acrescentar um certo frescor para a história é o trabalho de voz de um novo elenco.
O pequeno Simba de JD McCrary é encantador e tem a energia necessária para um leãozinho que quer mostrar que é capaz de ser um rei. Já o jovem Simba de Donald Glover também entrega um bom trabalho, mas suas sequências musicais são as mais marcantes. Diferente da produção original, Nala ganha mais espaço com Beyoncé e obviamente também se destaca nos momentos musicais. Dá um quentinho no coração quando ambos cantam Can You Feel the Love Tonight, aliás.
Mas é impressionante como Billy Eichner (que canta incrivelmente bem) e Seth Rogen como Timão e Pumba roubam a cena sempre que aparecem, funcionando como o tradicional alívio cômico. Outro ótimo trabalho é o de John Oliver como Zazu ao usar o tom certo para as cenas mais dramáticas e igualmente para as mais cômicas. Já Chiwetel Ejiofor entrega um Scar mais aristocrático no papel de alguém que quer assumiro trono a qualquer custo. E, claro, ouvir o vozeirão de James Earl Jones explicando para um jovem Simba sobre o ciclo da vida continua sendo emocionante.
Velha de guerra como é, a Disney sabe muito bem o poder das suas canções e O Rei Leão teve muito cuidado com suas sequências musicais que são lindíssimas. Contratar Beyoncé é um claro exemplo disso. É difícil não cantar junto com as novas versões, mais na pegada de musicais clássicos de Hollywood do que necessariamente canções tradicionais da Disney, mesmo que você prefira as originais. Não é difícil pensar que O Rei Leão pode se tornar a primeira animação a ganhar um Oscar duas vezes, e se você sentir falta do Elton John, uma canção original do cantor aparece nos créditos.
Um elemento fundamental para a existência dessa produção é o trabalho de efeitos especiais. Existe uma atenção à todos os detalhes visuais desse filme e todos os quadros são impressionantes, desde os cenários à textura de cada animal. Assim como acontece em Pokémon: Detetive Pikachu, é assustador como cada um desses animais parece real e é quase como assistir à um documentário – mesmo que algo mágico, como a fala, aconteça. É impossível não pensar em como esse trabalho mudará os blockbusters e é quase difícil de acreditar no que é visto em tela.
Ao priorizar um visual mais próximo da realidade, existe uma clara limitação facial nos animais que não transmitem expressões humanas. Em animações tradicionais, existe mais liberdade para criar expressões faciais mais orgânicas, levantar sobrancelhas, aquela coisa toda. Inevitavelmente, não tem como comparar as duas técnicas e, talvez, em um futuro não tão distante, os animadores de VFX alcancem essa capacidade. Mas, mesmo assim, O Rei Leão é visualmente de tirar o fôlego e tem uma criação de universo impecável.
Talvez você sinta falta das expressões da animação original? Talvez, mas esse filme entrega animais inteiramente digitais que facilmente passam por reais. Particularmente, não senti que as expressões foram um grande problema e consegui aproveitar o casamento entre a história memorável e a tecnologia de ponta. Portanto, se você espera uma adaptação fiel à animação com efeitos especiais impressionantes, você sairá feliz do cinema. No fim, a animação sempre existirá e uma produção não anula a outra, né?
Com uma geração cada vez mais acostumada com efeitos especiais extremamente realistas, faz todo sentido a Disney recontar seus próprios clássicos com novas tecnologias. Mas será ainda mais incrível quando o estúdio usar todos esses recursos para contar NOVAS e incríveis histórias. Já estamos esperando.
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