RESENHA! The Post - A Guerra Secreta

Mais do que cinema, uma história que todo mundo deveria conhecer

Cinema é um negócio bom demais porque é uma forma de arte que você pode usar para os mais diversos propósitos, das mais diversas maneiras. Nem tou aqui, mais uma vez, socando a tecla de “olhar pros filmes sob pontos de vistas diferentes” (embora isso seja algo que você sempre deva fazer, independente de qualquer coisa) não. Tou falando mesmo das intenções, das ideias, do que um diretor / roteirista / produtor pretendia com aquele filme.

The Post – A Guerra Secreta está longe de ser mais um clássico de um Steven Spielberg clássico, o ser humano que melhor consegue contar histórias através de imagens. Nem mesmo as presenças de Tom Hanks e Meryl Streep, que já tá sendo indicada a Oscar simplesmente porque sim, são algo dignos de muita nota além das letras garrafais no pôster.

Como um filme do verbo cinema, The Post não é nada demais. Mas como uma história a ser contada, bom... Numa época em que muito pouca gente entende o que é e pra que serve o jornalismo, esse filme se torna realmente necessário.

Em 1971 deu no New York Times os chamados Pentagon Papers, documentos sigilosos do Governo dos EUA que mostravam que praticamente tudo de oficial sobre a Guerra do Vietnam era uma mentira. Pistolaço por precisar repercutir o que um concorrente estava publicando, o editor-executivo do Washington Post, Ben Bradlee, fez de tudo pra conseguir que o seu jornal reportasse diretamente dos tais documentos.

Ele conseguiu ter acesso aos documentos, ao mesmo tempo que a administração do presidente Nixon foi à justiça pra proibir a continuidade da publicação dos documentos pelo NYT, o que poderia gerar um precedente perigoso ao Washington Post, que ainda era um jornal em crescimento, considerado “local” e estava em vias de abrir o seu capital na Bolsa de Valores, e à Democracia americana.

Do momento em que Daniel Ellsberg resolveu XEROCAR os tais documentos aos quais tinha acesso e enviá-los, dois anos depois, ao New York Times, toda a tensão da chegada do deadline e a possibilidade de a dona do jornal, Katharine Graham, decidir não publicar as matérias, à sensação de alívio e dever cumprido de pessoas que, poucos anos mais tarde, seriam responsáveis pela queda de Nixon do poder — uma história que talvez você já tenha visto (ou deveria ver) em Todos os Homens do Presidente — Spielberg resolveu, muito mais do que fazer uma obra de arte, contar essa história que pode ser muito empolgante pra qualquer profissional, aspirante ou ENTUSIASTA do jornalismo.

Ben Bradlee e Katharine Graham

The Post é bastante direto e objetivo sobre o que quer dizer, pra quem quer dizer. Não acredito, sinceramente, que esse pessoal que sai por aí gritando “fake news” pra qualquer coisa que não concorde, ou que realmente pensa que uma opinião sobre um filme foi comprada, vá assistir ou sequer entender o que é que está sendo dito. Mas ao escolher a história sobre, vamos dizer assim, FIRULAS visuais que poderiam distrair o espectador, Spielberg tomou uma decisão arriscada, sim, mas bastante louvável.

The Post não é um filme tão bom quanto o próprio Todos os Homens do Presidente e nem é tão “YAY JOURNALISM!” quanto, por exemplo, The Newsroom (uma série que talvez você já tenha visto, ou deveria ver), mas é de uma importância, relevância e necessidade imensas nesse início de 2018, especialmente.

Talvez, daqui uns anos, seja só mais uma história. Mas, agora, é a cultura pop esfregando a vida real na nossa cara mais uma vez.