Festejar e peitar autoridades e consensos, principalmente numa época como a atual, onde o conservadorismo decidiu encher o saco alheio com tamanha dedicação, é de suma importância.
Eu curto muito uma suingueira brasileira, dessas requebrantes mesmo, que tu sabe de onde vem, que tem a ver com macumba, com resistência, com amor pela comunidade, que rola sempre acompanhada daquela deliciosa sensação de festejar a sobrevivência logo após uma surra.
É como diz o BNegão em “Essa é pra Tocar no Baile”:
O clipe desse som maneiríssimo, último single do álbum Sintoniza Lá, aliás, acaba de ser lançado. Dá uma olhada e me diz se ele não banca a própria letra.
Haja habilidade pra casar questionamento da ordem social, barulho, diversão e empatia, embora pareça que o matrimônio entre metaleira e batuque, muitas vezes conectado a efeitos eletrônicos num ménage irresistível, pinte naturalmente.
Festejar e peitar autoridades e consensos, principalmente numa época como a atual, onde o conservadorismo decidiu encher o saco alheio com tamanha dedicação, é de suma importância. A exemplo de outros tempos, denegrir o Brasil é uma questão de honra e beleza. Afinal, com uma canção também se luta, irmão.
Né não, Simonal?
Isto posto, me coloco aqui na qualidade de pajé boliviano deste espaço e assumo a missão de mostrar umas curvas nessa reta tão chata que tenta endireitar nosso cotidiano.
Pela razão da zoeira não conhecer limites, separei aqui 15 discos recentes, que mesclam a santíssima trindade MÚSICA-RESISTÊNCIA-BAGUNÇA, a fim de baratinar as cucas maravilhosas das gentes que frequentam este maloqueiro espaço.
! Nancyta e os Grazzers
Conheci numa noitada em Salvador, Bahia, em 2003. Foi paixão à primeira vista por essa banda descabelante. Abaixo está a música mais emblemática deles, Capas de Celular, mas dá pra ouvir e baixar mais aqui.
! Outubro ou Nada
O segundo álbum da Bidê ou Balde é tão exageradamente descompromissado e pop que virou um clássico instantâneo do rock gaúcho. Bromélias é uma jóia, tome nota.
! Sem Gravidade
Este é o terceiro, e meu preferido, disco da trilogia do Otto ao lado do produtor Apollo 9. Tem uma variedade de batidas que vão da Índia ao brega de Odair José, e garantem uma clara sensação de volta ao mundo, onde você troca ideias, ingere substâncias ilegais e se apaixona umas três ou quatro vezes continentes adentro.
! Babylon by Gus – Vol. 1 – O Ano do Macaco
Em algum momento dos dez anos que passei na MTV, me contaram que o Black Alien às vezes atendia o telefone e desandava a rimar no meio da conversa. A real é que o cara é o mais inspirado rapper que Niterói já produziu e sua metralhadora vocal, tão suburbana quanto subversiva, vai te levar pra dar um esfumaçado rolê no quarteirão.
! Carnaval Só Ano Que Vem
Coletivo, essa palavra tão judiada na imprensa modernete, faz um sentido danado com a Orquestra Imperial. Nina Becker, Thalma de Freitas, Rodrigo Amarante, Kassin, Bernna Cepas, Pedro Sá e mais uma cambada de músicos fodões dos anos 2000, acompanhados por alguns convidados de décadas anteriores, levam a gente por um carnaval pé na jaca fora de época que vai da gafieira à avenida, passando pelo bolero e, obviamente, pela ressaca.
! Padê
Juçara Marçal vai te fazer sentir gosto de cachaça na boca e dançar ponto de macumba dentro do busão. Liga ela logo.
! Carnaval no Inferno
Ouvir este disco dos recifenses da Banda Eddie vai te fazer se questionar, essencialmente, uma única vez, e a pergunta vai ser: “por quê eu nunca tinha ouvido isso antes?”.
! Japan Pop Show
O músico paulistano Curumim é um dos poucos bateristas brasileiros que também encara o vocal principal de uma banda, além de compor e descarregar barulho do bom direto no oco da nossa cabeça. Fora que ele é casado com ninguém menos que Anelis Assumpção, então dá pra imaginar que o homem não é fraco.
! Vagarosa
Céu faz graça justamente onde a gente faz nosso achego, nosso alento, e monta casa no nosso cangote. A pegada é suavidade na voz e um soquinho no estômago aqui e ali pra desbaratinar. Derreta-se.
! Eu Menti Pra Você, Karina Buhr
Karina Buhr já foi da Banda Eddie e atriz do Teatro Oficina. Enfim, ela está onde a loucura está, mas tudo isso numa boa. Discaço.
! Pitanga em Pé de Amora
É um disco de choro e todo disco de choro é uma obra de resistência.
! Sintoniza Lá
Esse é disparado o disco que mais ouvi nos últimos três anos, forte companheiro de freelas de redação na madrugada. As letras, as batidas e o clima que B Negão e Os Seletores de Frequência criam vão te fazer se sentir muito feliz e meio puto ao mesmo tempo. E isso é viver!
! Mundo Livre S/A vs. Nação Zumbi
Projeto tão legal para iniciados quanto para iniciantes. Basicamente é uma banda fazendo versões matadoras dos clássicos da outra.
! Bixiga 70
Assim, sem letra, totalmente instrumental, mas com pegada alucinógena, a banda vai fazer ferver sua vontade de acordar de manhã e viver a vida como bem entender. Vai na minha, patrão.
! Anelis Assumpção e Os Amigos Imaginários
Como ela deixa claro logo no começo do disco, ela tá aqui pra jogar conversa dentro. É uma força irresistível da paulistanidade suingueira. Ah, e também é filha de ninguém menos que a lenda Itamar Assumpção e esposa do citado Curumim.