Se tá tudo bem pra você que o filme de Dragon Ball Super seja só um episódio grande... | JUDAO.com.br

Personagem adorado pelos fãs da franquia finalmente se torna CANON mas, do jeito que fizeram, daria tranquilamente pra dividir a história em três episódios, incorporar na série atual e tudo bem de ver na TV

Dragon Ball, como um todo, foi uma coisa que nunca me pegou. Eu sou bem do aberto pro mundo dos mangás/animes — além de Cavaleiros do Zodíaco, que é puro amor pra mim, paradas como Cowboy Bebop, Akira, Evangelion, Yu Yu Hakusho e principalmente o clássico Zillion têm lugar certo no meu coração. Tá, eu cheguei a curtir a primeira série da franquia, o Goku ainda molequinho, coisa e tal. Mas a fase Z, que arrastou uma legião de fanáticos, passou bem batida por mim. Pra ser bem sincero, cá entre nós, achava todo aquele universo bem do chato.

Recentemente, quando a minha filhota virou otaku, foi ela quem acabou me apresentando pra coisas mais contemporâneas como Nanatsu no Taizai (Seven Deadly Sins), Yuri!!! on Ice, Boku no Hero Academia, Tokyo Ghoul e principalmente pro One Punch Man, que amei de primeira (e sobre o qual escrevi aqui). Além disso, de alguma forma, foi ela que também trouxe Dragon Ball de volta pra minha vida, nesta nova série Super. Graças ao meu prodígio de 15 anos, entendi melhor a cronologia, as relações complicadas entre os personagens e passei a, vá lá, ter algum interesse e/ou carinho por aquela galera toda do Akira Toriyama.

Por isso, preciso dizer que foi MUITO graças à minha filha (e, bom, muito também graças à pilha do meu filhote de 8 anos, cujos amigos de escola curtem um bocado), que fui de peito aberto e na maior boa vontade do planeta assistir ao longa-metragem Dragon Ball Super: Broly, diretamente conectado aos episódios atuais da série. E... pô. Fiquei genuinamente frustrado com o resultado. Quando sobem os créditos finais, considerando que a produção tem lá sua 1h40 de duração, a sensação geral é de que daria tranquilamente pra fatiar a história em dois ou três episódios com seus 20 minutos usuais e assistir tudo na telinha pequena mesmo, porque não faria diferença.

Honestamente, não precisaria de um filme pra isso. Porque tudo que eles fizeram foi apenas e tão somente um episódio grandão. O que é, vamos combinar, o principal pecado que se pode cometer ao levar uma série, qualquer que seja, para os cinemas, né? Você tem outra mídia em mãos, outra linguagem, um jeito diferente de contar uma história. Não é um filme produzido pra TV, é uma aposta maior, que te permitiria arriscar com um público que já é seu, já está ganho. Por que não fazer justamente uso disso, por que jogar somente no garantido? Por que não tentar fazer ali, antes de qualquer coisa, um bom filme pra CINEMA?

Não rolou. Podia ter dado uma incrementada diferente na animação, usado ângulos mais fora do comum, ter brincado mais com a narrativa, seja da história, seja na condução visual. Podiam tudo isso, mas não fizeram NADA disso. Não é RUIM. Só é chato o suficiente pra reforçar a opinião que eu já tinha sobre a série. Ou seja... no fim, é produto apenas e tão somente pra convertidos.

Era a chance perfeita de chacoalhar um pouco as coisas, já que a ideia aqui era tornar o antagonista Broly parte do CANON oficial da franquia. Talvez o mais poderoso integrante da raça saiyajin, o grandalhão ultramusculoso e dado a incontroláveis explosões de fúria já tinha encarado Goku em alguns jogos e em pelo menos quatro filmes, incluindo Dragon Ball Z: Broly – O Lendário Super Saiyajin, velho conhecido de quem acompanha a série. No entanto, nenhuma destas aventuras é considerada de fato parte da cronologia oficial de Dragon Ball. Toriyama mal se lembrava dos tais filmes, aliás, mas quando sua equipe cantou a bola sobre o quanto Broly tinha se tornado popular, ele resolveu pegar um pedaço da história anteriormente apresentada para desenvolver, adaptar e principalmente atualizar o personagem ao atual momento Super da série.

Quer mais fan service do que isso? Dava pra tentar, com esta possibilidade em mãos, evitar a tentação de tornar tudo uma gigantesca sequência de luta sem fim que toma mais da metade do filme... e que, no fim das contas, é justamente o que acontece. O quebra-pau entre Broly e o Goku (que, logo depois, se funde com o Vegeta e gera o Gogeta, no que é um momento divertidíssimo, preciso confessar) deveria ser o ponto alto da coisa toda, mas acaba se tornando ENFADONHO de tão longo. Soco pra cá, chute pra lá, raio pra tudo que é lado, cabeleireiras mudando de cor a cada cinco minutos, explosões grandiosas de cenário que transformam uma geleira em uma região vulcânica... Não surpreende, não dá vontade de torcer pelo Goku, que seria o óbvio. No máximo cê fica torcendo é praquela coleção de idas e vindas, de montanhas sendo destruídas para dar a impressão de que os dois têm poderes quase divinos, acabar o mais rápido possível.

E olha que, é preciso dizer, o filme não começa mal. O potencial é interessante. Porque, pra contar a história de Broly, o saiyajin cujo poder inerente de luta ainda bebê faz a poderosa corte real do Planeta Vegeta morrer de medo do que ele possa fazer no futuro, o flashback nos dá mais detalhes justamente sobre a sociedade dos saiyajins. Sobre o pai e a mãe do Kakaroto/Goku, em sua origem BEM Superman; sobre como as pessoas comuns da sociedade se organizavam nas vilas abaixo da casta dos guerreiros de níveis mais altos em um dia a dia bem simples e até rural; sobre a ganância de conquistar mundos pela força para depois vendê-los; sobre o êxodo e consequentemente a destruição do planeta e genocídio de sua raça... e sobre o relacionamento com o filho do Rei Cold, o tirano alienígena Freeza, que também descobrimos como e por qual razão mantinha o controle sobre os saiyajins.

Aliás, além das ótimas cenas de humor com o Goku, potencializadas pela dublagem sempre carismática de Wendel Bezerra, é no Freeza, o grande vilão da história toda, que se concentram os principais momentos do filme. Um maníaco clássico com planos de dominação cósmica e em busca de uma eterna vingança contra as muitas derrotas sob os punhos de Goku e Vegeta, ele mostra uma OUTRA faceta, o que envolve um complexo de inferioridade que simplesmente não dava pra imaginar até então.

Pois aí a história caminha, chega nos dias atuais e os homens de Freeza encontram em um mundo perdido Broly e seu pai, Paragas, que vive querendo controlar de maneira brutal o potencial destrutivo do filho mas ao mesmo tempo tem um forte desejo de vingança contra a linhagem real do Príncipe Vegeta. A coisa começa a se construir de um jeito bacana, o relacionamento meio tóxico entre pai e filho que o Freeza não só percebe como começa a incentivar... e aí eles chegam na Terra. E dão de cara com Goku e Vegeta. E aí fodeu. Começa a sessão pancadaria. E tudo que poderia ser, não é.

Quando eles FINALMENTE resolvem fazer a história andar de novo, na amarração final, a solução que encerra a história é tão bonitinha e explora, de novo, muito mais do lado menos porradeiro e mais fofo do Goku, que bate imediatamente aquela sensação: “eu poderia viver tranquilamente com menos 20 minutos da sessão de luta entre os caras pra vocês me darem um pouco a mais DISSO”. Eu, pelo menos, adoraria.

Claro que fica um BAITA gancho pra usarem o Broly ativamente na série de TV a partir de agora, de um jeito inesperado pra quem já tinha conhecido o sujeito de outros carnavais. Isso tá claro e, admitamos, foi uma ótima sacada dos produtores. Mas pra fazer do jeito que fizeram, sério, não precisava de um filme. Não justifica sair de casa, comprar pipoca e curtir na telona, com o escurinho da sala. Tá bem longe de ser uma experiência de cinema. Aliás, sem exageros, chega a ser até um desperdício de potencial da poltrona, da pipoca, do escurinho. É Dragon Ball? É. Mas enquanto cinema, merecia BEM mais.