Estes três marinheiros continuam dando um rolê na moto do Vidal – e sempre usando óculos, claro.
OBRAS DO ACASO Nos últimos meses eu ando revisitando a obra do Paralamas do Sucesso. E, após me deslocar até Itatiba com a Fernanda no último final de semana só para ver um show da banda no glorioso Itatiba Esporte Clube, gostaria de fazer uma afirmação bombástica:
Para os poucos que não tiveram o privilégio de conviver com o Bruno dos anos 90, explico. No colegial, duas amigas queridas e eu tínhamos uma questão pendente e eterna: qual seria a melhor banda brasileira?
A Laura dizia ser a Legião Urbana. A Margarida, o Paralamas. Eu, com meu inseparável boné dos Titãs, brigava com unhas e dentes pela banda de Arnaldo, Nando, Paulo e cia. E hoje, mesmo ainda sendo grande fã dos Titãs — apesar de tudo — eu preciso reconhecer que a Margarida estava certa.
Que banda espetacularmente maravilhosa é o Paralamas do Sucesso.
Sei que é um pouco irritante essa galera que não se desapega das bandas dos anos 80. Então me desculpe se você acha que eu deveria estar ouvindo o Maglore, o Dingo Bells ou o Letuce. Eu até estou. Mas bem menos que o Paralamas.
A consistência da obra de Hebert, Bi e Barone é absurda. E a força da banda no palco, seja no Rock in Rio — como rolou duas vezes nesta edição do Arraial do Medina — seja em um clube em Itatiba, é impressionante.
Essa longa turnê, que vem celebrando os 30 anos da banda, pode produzir um show um pouco óbvio. Mas, especialmente para quem não via o Paralamas ao vivo há mais de 15 anos, é diversão garantida pular e se emocionar com tantos hits. E ver sua mulher escorrer lágrimas por Lanternas do Afogados depois de se acabar pulando em Alagados é lindo demais.
Eu te desafio a encontrar uma banda nacional que tenha acertado tanto quanto o Paralamas. Descontado talvez o seu primeiro disco, que apesar dos hits Vital e Sua Moto e Cinema Mudo ainda mostrava uma banda se encontrando e longe do potencial que viria a atingir, não existe um disco ruim dos caras.
Isso porque eles raramente se acomodaram. Após a consagração entre baladas matadoras (Romance Ideal, Me Liga) e pérolas pop (Óculos, Meu Erro) em Os Passos do Lui, de 1984 e o mítico show do Rock in Rio de 85, o Paralamas mudou tudo em Selvagem (86). Ska, reggae e reverência a nomes da MPB fizeram do disco um divisor de águas no rock nacional.
Já no disco seguinte, Bora Bora (1988), os ritmos latinos — que marcariam a carreira da banda por muitas vezes a partir dali — ganharam força com a entrada de naipe de metais. Sem abrir mão, é claro, das baladas destruidoras, que também viraram marca registrada do Paralamas. Nesse caso, a linda Quase Um Segundo.
A inquietação artística do Paralamas chegaria ao seu ápice com Severino, de 1994. Fracasso de vendas na época, o disco mostrava uma banda focada em seguir criando uma identidade única dentro da música brasileira. O resultado é impecável e a recompensa viria no ano seguinte, com as incríveis Vamo Batê Lata e Dos Margaritas tocando nas rádios em versões ao vivo saídas do disco Vamo Batê Lata.
O Paralamas voltaria a encontrar o sucesso ainda no fim dos anos 90, com 9 Luas (1996) e Hey Na Na (1998), de onde sairiam hits das rádios e da MTV como Lourinha Bombril, Ela Disse Adeus, La Bella Luna e O Amor Não Sabe Esperar.
Nem o grave acidente sofrido por Herbert em 2001 fez o Paralamas diminuir o ritmo. Já no ano seguinte começou uma nova fase da carreira da banda, com Longo Caminho. Com guitarras mais pesadas e mais crueza, o disco foi uma espécie de catarse para a banda, que voltou aos palcos assim que Herbert teve condições. O Calibre e Cuide Bem do Seu Amor estouraram em um disco que em nada deve aos clássicos dos anos 80 e 90.
O mesmo pode ser dito de Hoje (2005) e Brasil Afora (2011). O fato de eles terem sido bem pouco ouvidos é muito mais uma consequência da atual condição da indústria musical do que de uma suposta falta de qualidade desses álbuns.
32 anos após ter lançado seu primeiro álbum, o Paralamas seguiu uma cartilha louvável e admirável para bandas tão longevas. Segue tocando ao vivo, lançando discos novos, criando de forma criativa e inquieta, sem se acomodar e apenas assumir um papel de lendas vivas em eventos celebratórios.
Por tudo isso, eu me pergunto: seria o Paralamas a maior banda nacional de todos os tempos?
No que se refere a regularidade, criatividade e capacidade de se reinventar, eu acredito que sim.
A grande maravilha de serviços como Spotify, Deezer e afins é permitir mergulhos em obras de artistas de forma tão prática e fácil. Se eu tivesse acesso a tal maravilha nos anos 90, talvez tivesse concordado com a Margarida. Por isso, fica aqui meu reconhecimento, Margot.
E vamos todos ouvir Dos Margaritas pra celebrar! :)
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