Eterno coadjuvante da galeria de antagonistas do Cabeça de Teia, o fracassado favorito de roupa acolchoada deve estar no novo filme do herói – proporcionando a abertura ideal para a trama :)
Já virou uma espécie de tradição nos gibis do Homem-Aranha: a história começa com o herói impedindo um roubo a um banco ou a uma joalheria, qualquer coisa assim, e geralmente quem está cometendo o crime é um vilão-merda — você sabe, um daqueles vilões com um codinome ridículo, poderes ridículos, uniforme ridículo... ou, quem sabe, um combo disso tudo — que o Homem-Aranha impede com uma mão nas costas, fazendo piada e pendurando o cara numa teia, geralmente com um bilhete pra polícia, “um presente do seu Amigão da Vizinhança”.
Mais do que qualquer super-herói, o Aranha tem uma verdadeira galeria destes vilões B, que são ameaças menores que acabam servindo também (ou muito mais) como alívios cômicos. Na série A, estão o Duende Verde, Dr. Octopus, Abutre, Escorpião, Homem-Areia, Kraven, Rhino, Electro, Lagarto, esta galera toda. Já na divisão de acesso, tentando um lugar ao sol, estão Coelha Branca, Morsa, Urso, Gibão, Bumerangue, Corisco, Besouro... E, claro, tem o eterno campeão. Aquele que é o saco de pancadas favorito do Homem-Aranha. Herman Schultz, o Shocker.
A gente já sabia que o Bokeem Woodbine (o Mike Milligan da série Fargo) estaria no elenco de Spider-Man: Homecoming, o vindouro filme do Escalador de Paredes. Mas algumas fotos do set de filmagem reveladas esta semana meio que mostram que boataria estava certa e ele será mesmo o Shocker no filme. A roupa, pelo menos, não deixa lá muitas dúvidas. Resta saber se é mesmo Bokeem debaixo da máscara e da roupa acolchoada.
Sabemos que o Abutre será o principal ANTAGONISTA da trama (vivido, pelo menos em teoria, por Michael Keaton) e que Michael Chernus deve muito provavelmente ser Phineas Mason, o Consertador, um cientista maluco que cria toda uma série de artefatos mecânicos geniais e letais para a comunidade de supervilões. Tudo, claro, pelo preço certo. ;)
Mas vamos combinar: colocar o Shocker no filme está longe de ser “vamos ter um OUTRO vilão”. Pode ser, no máximo, uma distração cômica para abrir os trabalhos e ajudar a dar o tom. Ou, quem sabe, Herman em seu papel favorito, o de capanga de algum chefão do crime ou supervilão maior, pra justificar a existência do Consertador e, quem sabe, o interesse do Abutre por seu trabalho, para que então ele crie as asas artificiais, garras e demais artefatos que Adrian Toomes vai usar para ameaçar o mundinho já complicado de Peter Parker. Numa trama repleta de gênios científicos e traquitanas tecnológicas, faz ainda mais sentido pensar no motivo da participação especial de Tony Stark.
É bom que se diga que Herman Schultz não é o tipo de vilão guiado por uma vingança pessoal ou então por aquele clássico desejo de conquistar o mundo. Ele é muito mais um sobrevivente, que tenta a todo custo ganhar uns trocados e proteger sua reputação. Por vezes, chegou a ser retratado como alguém que sofre de ansiedade crônica e um tantinho de paranoia. Ele sabe bem das suas limitações. É meio covarde, até. Sabe que não tem superpoderes ou grandes habilidades especiais, apenas um par de luvas que ele mesmo criou e que projetam uma explosão concentrada de ar comprimido vibrando em uma freqüência intensa, gerando ondas de choque poderosas. Dá pra dizer que ele está mais para criminoso profissional do que para maníaco de carteirinha.
Criado pela dupla Stan Lee e John Romita, Sr., o Shocker fez sua primeira aparição em The Amazing Spider-Man #46 (1967). Nascido em Nova York, Herman perdeu os pais quando era muito jovem e teve que cuidar de seu irmão mais novo, Marty.
Iniciou então uma carreira de pequenos furtos, largando a escola e se dedicando à extorsão e à venda dos itens que roubava no mercado negro. Por conta própria, totalmente autodidata, aprendeu pra caramba sobre engenharia e passou a inventar uns cacarecos com sucata para se dar bem na arte da picaretagem. “Me tornei o melhor arrombador do mundo”, disse ele, algum tempo depois. Mas, em determinado momento, ele acabou preso.
Foi na cadeia que desenvolveu, em seus períodos na oficina, a primeira versão de suas luvas vibratórias e foi usando o equipamento que conseguiu escapar. Já aqui fora, sentiu que usar o aparelho era uma experiência bastante intensa para o seu corpo — o baque que a vibração do ar causava quase o matou.
Aí, ele foi lá e desenvolveu por conta própria o traje amarelo de proteção para absorver o choque. Máscara na fuça para não ser reconhecido, pimba, estava criada a identidade de Shocker. O ponto é que o uniforme não era exatamente o mais estiloso da comunidade da malvadeza e logo virou o objeto das piadas do Homem-Aranha, o primeiro herói que cruzou o seu caminho quando resolveu voltar a roubar bancos.
É bom que se diga que, na primeira luta entre os dois, o Shocker até que se deu bem – afinal, o aracnídeo estava com o braço avariado depois de uma porradaria contra o Lagarto no número anterior, mas não demorou até que o Homem-Aranha fosse atrás do sujeito e, usando a teia para afastar seus polegares do gatilho ativador das luvas, garantisse o primeiro de muitos retornos pra prisão. Além de sua falta de aptidão, Hermanzinho conta com uma boa dose de azar, que também ajuda a atrapalhar os seus planos. Não foram poucas as ocasiões em que teve o Aranha praticamente derrotado sob seus pés mas acabou interrompido e depois levou uma surra de seguranças comuns ao caçador de recompensas Dominic Fortune, passando por um sujeito que fingia ser o Carrasco do Submundo (que depois se tornaria uma obsessão para o Shocker, achando que estava na lista de alvos potenciais do matador).
Shocker já teve a chance de lutar não apenas ao lado do Sexteto Sinistro do Dr. Octopus em uma de suas muitas formações, mas também integrou o sindicato do crime do Capuz e os Mestres do Terror do Barão Zemo. Só que nenhuma destas participações durou lá muito tempo, já que o vilão prefere mesmo atuar sozinho.
Na ótima série Os Inimigos Superiores do Homem-Aranha (de 2013, que você DEVERIA ler, aliás), escrita por Nick Spencer e desenhada por Steve Lieber, Shocker é justamente o integrante de uma versão merda do Sexteto Sinistro que se distancia do resto mais rápido. Tudo bem que o fato de Fred Myers, o Bumerangue, não confiar nem um pouco nele também ajuda bastante...
Sendo honestíssimo, sempre foi o meu sonho ver um filme do Aranha no qual o Shocker aparece e leva umas bordoadas, devidamente temperadas com uma dose das boas e velhas piadas infames de Peter Parker. Faz parte de uma boa história clássica do personagem. Se a opção da Marvel para este retorno do Teioso aos cinemas for realmente esta, já estão começando bem. Resta saber se o que vem depois vai fazer jus ao “momento Shocker”. ;)
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