Episódio inaugural da 3a temporada mostra a série disposta a retomar o bom caminho da primeira, perdido ao longo de um romance água com açúcar na segunda
SPOILER! De certa forma, o primeiro episódio da terceira temporada de Supergirl conversa bastante com o primeiro season finale — digamos até que o complementa. Não de uma maneira cronológica, claro, mas em termos de mensagem. Se o primeiro ano da série se encerrou ENFATIZANDO o quão importante a Garota de Aço é como símbolo de paz e esperança, o terceiro se inicia deixando evidente o quanto a Supergirl só pode ser a Supergirl DE FATO por causa da Kara Danvers. Porque a kryptoniana nasceu e foi criada como uma terráquea.
A mensagem desta première é clara: a Supergirl só consegue ser uma heroína completa, entregando não só a salvação da cidade mas também o sorriso de quem se importa, se o seu lado humano estiver equilibrado.
Depois de ser forçada a afastar o amado Mon-El da Terra para evitar que ele fosse afetado pela substância lançada na atmosfera para derrotar os daxamitas invasores, Kara está lidando com a perda... e não tá lidando lá muito bem, a ponto de começar a se afastar de seu lado humano. Cada vez mais, ela quer ser a heroína, a Supergirl, mergulhada nas responsabilidades, nos acidentes de trânsito, nos assaltos à banco. Agarrada na responsabilidade, Supergirl deixa Kara Danvers de lado. É o seu jeito de esquecer o quanto o coração, esta coisa tão humana, tá doendo.
O conceito é MUITO legal e caberia tranquilamente como mote de uma temporada inteira — ao invés de ser rapidamente esgotado ao longo de um único episódio? Sim, sim, a gente sabe disso. Maaaas... pelo menos fica o alívio por ver a Supergirl voltar ao papel de destaque em sua própria série, o combo Kara repórter em formação da CatCo Media e Supergirl heroína de National City, a protagonista de fato, e não a mera parte 2 de um romance açucarado que só serviu pra enfraquecê-la narrativamente. A Kara que se apagou ao longo do segundo ano enfim voltou a se acender.
E quer o mais legal? Isso não tirou a importância das outras coisas bacanas que pintaram na temporada 2 e que, naquele momento, tomaram o lugar da moça da capa vermelha. Tipo o relacionamento de Alex Danvers e Maggie Sawyer, que não só continua firme e forte como interessante o bastante pra fazer a gente do lado de cá se envolver e ficar feliz, de fato, com o anúncio do casamento entre elas. Ou mesmo o retorno de Cat Grant, que não deveria nunca ter saído e que agora ocupa o cargo de secretária de imprensa da presidente dos EUA (mano, que dupla maravilhosa ela vai fazer em cena com a Lynda Carter!). Tudo isso só empolga ainda mais.
Claro, temos também uma breve introdução dos grandes vilões da temporada — de um lado, o magnata sem escrúpulos Morgan Edge (Adrian Pasdar, de Agents of SHIELD, deliciosamente canastrão e adoravelmente canalha), que não poupa esforços para conseguir deslanchar seus empreendimentos milionários. Mas, assim como sua contraparte nas HQs, que é líder do grupo mafioso Intergangue e servo pessoal de Darkseid, este sujeitinho tem uma série de bandidos em sua folha de pagamento. Ele tenta dar uma cartada pra comprar a CatCo, assim controlando a mídia como bem entender (“as pessoas acreditam mais nas coisas quando elas estão publicadas”), mas leva uma rasteira de Lena Luthor. E assim como a guerra entre os dois está declarada, também está a guerra entre Edge e a Supergirl (“agora eu também estou de olho em você”, diz a super-heroína, depois de sacar a do engravatado).
A relação de Edge com conglomerados de comunicação não é nova para os leitores dos gibis, já que a versão clássica, pré-Novos 52, era dona da Galaxy Communications, grupo que mantinha a rede de TV WGBS e que chegou até a comprar nada menos do que o Planeta Diário. Talvez a Galaxy apareça por aqui em algum momento do tipo “sou rico, se não pude comprar um veículo de comunicação, vou montar o meu próprio”.
E aí fomos apresentados à Reign, que nos quadrinhos é uma arma biológica criada por Zor-El, o pai de Kara, que mais tarde se arrepende quando a guerreira se torna, na verdade, um monstro cuja vontade de lutar é mais forte do que ela. Em Supergirl, este lado parece estar adormecido dentro de uma insuspeita mãe de família que se assusta ao erguer e esmagar uma imensa estrutura de metal para salvar a vida da filha. E os sonhos que a mulher tem com a mãe de Kara, Alura (Erica Durance, a Lois Lane de Smallville, que agora substitui Laura Benanti), podem indicar que a criação da vilã de alguma forma também seja creditada à família da Supergirl na série.
Enfim, estamos diante de um recomeço bastante promissor, divertido, leve, como Supergirl tem que ser. Vilões interessantes, um elenco de coadjuvantes carismáticos, uma personagem principal inspiradora e à altura disso tudo. O caminho pra retomar os trilhos tá aberto, ensolarado, livre pra seguir sem obstáculos e voltar a ser o grande destaque deste #Arrowverse. Vamos ver se mesmo com a volta quase que anunciada do Mon-El, este trem não para na estação e volta a circular pesado, com a locomotiva vacilando e quase tirando os outros vagões dos eixos.
Sim, eu gostei de usar esta metáfora ferroviária. Me julguem. ;)
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