Archie Clayton, o caminhoneiro, não é um novo alterego definitivo do personagem. Na verdade, é apenas mais um degrau no atual status quo do herói, que não deve durar muito
Toda quarta-feira é “comic book day” lá na AMÉRICA, já que é sempre nesse dia, todas as semanas, que os gibis são lançados. Eventualmente, também é dia de algumas surpresas com personagens famosos. Nessa última quarta (7), foi publicada Action Comics #45 e nela descobrimos que o Superman, depois de todo mundo descobrir que ele é Clark Kent, se tornou o novo parceiro de Pedro e Bino nas estradas sob o alter-ego de Archie Clayton. Oi?!
Como você leu aqui no JUDÃO, o Homem de Aço tá passando por uma fase de transformações nos últimos meses, lá nos EUA. Lois Lane revelou pro mundo que ele é o Clark, os poderes do cara foram drasticamente diminuídos e ele, basicamente, se tornou um PÁRIA que vaga por aí de camiseta e calça jeans, enquanto ainda tenta fazer algo de bom. Tudo isso parte do arco Truth, que acabou mês passado.
Mas isso é o que rolou e continua rolando em Superman, a revista principal do personagem. Sim, ele tem outras publicações, mas o que estamos vendo nelas já há algum tempo é, basicamente, o Homem de Aço após os efeitos de Truth.
É esse justamente o caso de Action Comics, revista escrita por Greg Pak (de Hulk Contra o Mundo) e Aaron Kuder, com artes de Scott Kolins. Na publicação temos, resumidamente, o Superman lutando contra o vilão Wrath e abandonado por (quase) todos aqueles que considerava amigos.
Nesse contexto, o Azulão deixou de lado as necessidades mundanas. O que ele quer é prender o vilão. Ponto. Pra isso, ele cria uma base secreta, usa tecnologia pra ninguém reconhecer seu rosto (o que lembra um dos poderes dele da Era de Prata...) e, com poucos poderes, precisa se infiltrar nos lugares. É aí que entra Archie Clayton.
Clayton, o caminhoneiro, é apenas uma forma de Clark Kent, o ex-repórter, entrar onde ele precisa e reunir informações. Não é nada pra ser definitivo. Mal comparando, Archie Clayton tá pro Superman como Fósforos Malone – a identidade secreta do Bruce Wayne pra se infiltrar no crime organizado – tá pro Batman.
Então pode ficar tranquilo. Isso não é uma cilada.
De qualquer forma, não dá pra dizer que se trata de uma boa história. Repito o que disse quando Truth começou, há alguns meses: querem transformar o Superman em um anti-herói. Só que numa tentativa de criar alguma ligação com os leitores de hoje, fizeram com que o personagem soasse genérico e comum. É apenas mais um, não é o Superman.
O desafio deveria ser se manter fiel às origens do Homem de Aço – que sim, é um Escoteiro em essência – e saber fazer com que ele soe moderno, com uma identificação com os leitores. Fazê-lo ser, eventualmente, um caminhoneiro não é algo que vai resolver isso.
Mas é possível mergulhar na essência do personagem e entender de onde ele veio para poder traçar melhor para onde ele vai. Quando o herói foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938, ser um repórter se jornal fazia sentido. Era a forma ideal para estar onde precisavam dele sem chamar a atenção.
Só que o jornalismo mudou muito de lá pra cá. Chegaram a colocar Clark Kent como repórter e âncora de TV nos anos 70, pra tentar acompanhar essa evolução. Ele voltou aos jornais, com grandes momentos para o repórter Clark nos anos 80 e 90. Até mesmo a série de TV Lois & Clark soube dar uma nova roupagem para esse lado profissional do super-herói.
Mas, ainda assim, o jornalismo continuou mudando. Grandes veículos estão definhando, os jornais estão fechando, há uma enorme crise sobre como rentabilizar conteúdo, sites e blogs independentes vão conquistando espaço (mas sem, necessariamente, serem rentáveis), as redes sociais transformaram o que é a informação e a desinformação...
Talvez fosse aí onde a DC deveria brincar com o Superman. Indo nessa linha do garoto que cresceu no Kansas, que vê o jornal que ele tanto venerava falir e se vê obrigado a, pra continuar a ser jornalista, se aventurar na internet. Não pra ser um blogueiro, como tentaram fazer em certo momento recentemente, mas talvez um empreendendor. Alguém que tenta fazer uma grande ideia na comunicação realmente dar certo.
E, nesse mundo dos negócios, no qual a informação pode valer dinheiro, ter esse lado idealista do interior poderia ser um grande tempero. Isso tudo enquanto, entre uma reunião de pauta e com investidores, ainda tem que usar roupa azul, capa vermelha e salvar o mundo.
Aliás, não deixa de ser um caminho que a Marvel está fazendo com o Homem-Aranha ao colocar Peter Parker como dono da própria empresa de tecnologia.
Eu sei, DC, que já tão falando que os editores estão pedindo que os roteiristas voltem ao feijão com arroz, então essa fase do Superman deve acabar logo. Que então aproveitem para evoluir o personagem da forma correta. Não queremos ver uma mistura de Batman com Wolverine. Pra isso você tem o Batman. E o Wolverine.
Às vezes, um temperinho bem pensado pode deixar interessante até o arroz com feijão mais sem graça do mundo, não é? ;)