Gravadoras x YouTube: sei lá que round estamos | JUDAO.com.br

A treta nunca termina. Ela só vai ganhando novos contornos. Mas com os mesmos velhos protagonistas.

Adivinha quem está encabeçando mais uma nova empreitada contra os rumos que a música tomou na era digital? Sim, adivinhou certinho: Taylor Swift. Uma das cantoras que mais vende discos nos EUA já tinha dado porrada na Apple, já tinha se posicionado contra o Spotify e agora tá de olho no YouTube. Quer dizer, ela e mais uma tropa de cerca de 160 artistas (incluindo nomes como Paul McCartney e os caras do U2) e representantes das três maiores gravadoras do planeta: Universal, Sony e Warner.

Essa galera toda tá assinando uma petição cujo objetivo é fazer com que o YouTube compense de maneira apropriada os artistas cujas músicas rolam na plataforma de vídeo, além de permitir que músicos e selos possam ter controle sobre como e quando suas faixas serão usadas no serviço do Google.

Em uma série de tweets raivosos nos quais apoia a iniciativa, Patrick Carney, do Black Keys, explica o motivo da ação. “Me dá cinco minutos no YouTube e eu encontro 250 músicas disponíveis e pelas quais o artista não tá sendo pago. No mínimo isso”, diz. “Uma canção deve custar tanto quanto um abacate. Eles devem ser negociados de forma semelhante, pelo menos até que as pessoas descubram um fruto igualmente saboroso”.

Essa galera toda tem um objetivo bem específico: fazer o texto chegar até Washington para fazer uma pressão e atualizar o chamado Digital Millennium Copyright Act (DMCA). Transformado em lei sob a assinatura de Bill Clinton em 1998, o DMCA foi criado justamente como uma forma de proteger os direitos intelectuais dos artistas com o surgimento das novas tecnologias. Mas obviamente as coisas mudaram um bocado de lá pra cá, em especial para o mercado de entretenimento.

“O DMCA permitiu que as maiores empresas de tecnologia crescessem e fizessem muito dinheiro ao criar uma forma simples dos consumidores acessarem praticamente todas as músicas gravadas na história com um smartphone”, afirma Irving Azoff, agente de nomes como Christina Aguilera, Bom Jovi e Van Halen, além de organizador da petição, em entrevista ao Vulture. “Mas o recebimento de compositores e músicos continuou a cair e cair, ameaçando a sua viabilidade para sobreviver neste mercado”.

Além de cutucar o YouTube, Azoff também acredita que a petição pode servir como provocação para as gravadoras. “Se você é uma grande gravadora e continua fazendo negócios com o YouTube da mesma forma que antes, este é um péssimo sinal para todas as pessoas que assinaram esta nossa carta. Não é uma disputa por uma grana mensal. É maior do que isso”.

Bom, de acordo com algumas informações de bastidores, sim, definitivamente é: não parece ser por acaso que mais esta jornada contra o YouTube — que, vamos combinar aê, não é a primeira e nem será a última — aconteça agora. Porque estamos no momento em que Warner, Sony e Universal estão renegociando seus acordos financeiros com o YouTube. Faça aí a sua cara de espanto. E vamos lembrar que Universal e Sony são sócias do Vevo, que é talvez o mais importante parceiro de conteúdo do YouTube.

Peter Kafka, do site Recode, levantou esta bola numa entrevista que fez com Cary Sherman, CEO da RIAA (Recording Industry Association of America, o órgão que representa a indústria fonográfica nos EUA). Questionou o jornalista: “bom, não parece que as gravadoras são oposição ao YouTube de fato. Parece que elas são parceiros que não gostaram dos termos de um acordo”. E eis que Sherman respondeu: “creio que as gravadoras adorariam ser parceiras do YouTube. Mas é difícil chamar de parceria quando só um dos lados leva vantagem”.

O executivo afirma que 70% da receita do mundo da música agora vem do digital – ou melhor, deveria vir. “Licenciamos a utilização de música para os mais diferentes modelos, mas o dinheiro não vem. Claro, a pirataria continua sendo um grande problema. Mas o outro é a monetização abaixo do devido, e é isso por causa de coisas como a DMCA, sob a qual diversas empresas ganham o benefício de distribuir nosso conteúdo mas sem pagar o que é justo em termos de licenças”.

Taylor Swift

Do seu lado, os caras do YouTube se defendem e dizem que a parada não é bem assim. Afirmam que, até o momento, já pagaram mais de US$ 3 bilhões em royalties e este é um número que aumenta a cada dia. Descartam qualquer comparação com um Spotify da vida, por exemplo, por enxergarem um jeito completamente diferente de consumir música. E lembram até que o recente lançamento do aplicativo YouTube Music e do serviço de assinaturas YouTube Red têm justamente o objetivo de gerar mais grana aos artistas.

Em um post publicado no final de abril em seu blog oficial, o YouTube diz ainda que leva bastante a sério a questão dos direitos autorais e ainda traz de volta a discussão sobre o chamado Content ID, seu sistema automatizado de gerenciamento de direitos que teria cerca de 99,7% de margem de acerto na identificação de conteúdo protegido por direitos autorais. “Embora não concordemos sempre, a história nos mostra que, se trabalharmos juntos, podemos criar belas harmonias”. AIQUELINDO.

No fim das contas, o youtuber americano Hank Green escreveu um artigo defendendo a plataforma que coloca comida no seu prato na eterna discussão com as gravadoras e faz uma pergunta interessante. “Essas empresas parecem estar sempre reclamando sobre o quão ruim é o seu jantar”, diz. “Eu tenho que perguntar, se eles odeiam tanto, por que eles continuam comendo?”.

E o jantar está servido. ;)