O mundo está tão errado assim ou é só a gente que está entediado?
Tédio, substantivo masculino. Sensação de enfado produzida por algo lento, prolixo ou temporalmente prolongado demais. Sensação de aborrecimento ou cansaço, causada por algo árido, obtuso ou estúpido.
Se identificou com essa sensação? Curioso que em uma época como a atual, onde a liberdade individual nunca foi tão defendida, com acesso a boa parte da informação que já foi concebida na história do planeta, onde todo mundo parece ter uma vida incrível nas fotos do Instagram, este seja um sentimento onipresente.
Ao mesmo tempo que pipocam reportagens sobre gente que largou tudo pra viajar o mundo, se dedicar ao próximo ou mesmo procurar uma carreira que tenha mais a ver com a própria personalidade, ignorando a perda de grana decorrente disso, vemos as pessoas claramente frustradas em posts e comentários de Facebook, quase como se a administração da empresa onde trabalha, as regras sociais (casamento, filhos, sucesso financeiro, etc) ou até o governo fossem os responsáveis pela falta do sentimento de realização de cada um.
E não são, né? A verdade é que cada um pode fazer o que quer, mas não é tão fácil, então isso quase nunca rola. Viver de acordo com nossos desejos tem um preço, e esse preço é alto, seja ouvir familiares cobrando filhos e a sua casa própria, chefes pedindo ainda mais entrega ao seu emprego ou mesmo aceitar que seu estilo de vida é baseado diretamente na fatura do seu cheque espacial.
É nesse clima que acontece a trama real de A Vida Privada dos Hipopótamos. A figura central do documentário é um gringo com o saco na lua de viver como se espera, se sentindo preso a um estilo de vida e seus hábitos, que decide se jogar num grande salto no vácuo com joelhada para longe daquela vidinha besta.
A aventura de Chris Kirk começa quando ele decide ir pra Colômbia conhecer os hipopótamos de Pablo Escobar. Eu explico: o falecido megatrafica colombiano, que já foi o sexto ser humano mais rico do planeta, não sabia mais o que fazer com tanto dinheiro e começou a construir um zoológico para visitação de crianças e familiares.
Ele tinha diversos bichos, inclusive uma família de hipos vindos dos rincões da África. Com a morte de Escobar, alguns animais foram para zoológicos colombianos, outros, faleceram, alguns “sumiram”, mas os hipopótamos ficaram por lá, ninguém sabe até hoje o que fazer com eles. Surreal, né?
A partir dessa viagem em busca dos gigantes ele conhece uma mulher chamada V. e, bem, não vou contar mais, mas a real é que a vida dele sai completamente do lugar comum. Provavelmente muito mais do que jamais tinha imaginado.
Embora tenha momentos parados, por opção dos diretores Maíra Büler e Matias Mariani para ilustrar o tal do tédio, vale pela visita ao mundo atípico de Kirk e a reflexão potente dos dias atuais: até onde estamos dispostos a parar de mimimi, de culpar os outros, e encarar o custo de viver como queremos?