“Tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós” | JUDAO.com.br

Uma carta aberta de despedida

Oi, Judão, tudo bom?

Não, não estou falando do Borbs – que, por inúmeras vezes, foi confundido com a própria cria. Estou falando de você mesmo, o site sobre cultura pop fundado no já longínquo ano 2000. Cara, 20 anos!

Ouvi dizer que você vai nos deixar, de vez. Vai encerrar as atividades, curtir uma outra vida. Virar memória.

E que memórias! Precisava te escrever para relembrarmos juntos de todas elas. Parece que foi ontem, em 2005, que aquela menina que achava meio turista lá da faculdade, na Metodista, me falou de você. Foi amor à primeira vista, apesar de eu ter te enrolado por um tempo e a gente ter engatado algo sério só um ano depois, em 2006.

Foram 11 anos juntinho de você. Momentos de muito suor, cumplicidade, felicidade e de conquistas incríveis. Você chegou a bancar uma parte razoável da grana em casa, lembra? Também me ajudou a ser um profissional melhor, me ensinou muita coisa, me fez experimentar mais outras tantas várias. A primeira cabine, a primeira grande cobertura, a primeira viagem internacional, a primeira visita ao set, a primeira junket.

Foram três San Diego Comic-Cons, vendo de perto meus ídolos – mas não como fã, foi como profissional. Teve balada, teve rangão, teve podcast, teve (muitas) risadas. Rolaram grandes entrevistas, mexemos com o mercado, demos furos, informamos, incomodamos e trouxemos, de alguma forma, a nossa contribuição ao universo da cultura pop, nerd, geek, como quiserem chamar, aqui no Brasil.

Tudo graças à você.

Se hoje eu posso alçar voos maiores, te agradeço muito por isso Tem um asterisco tatuado no meu coração, metaforicamente falando. E não é só pelo Red Hot Chili Peppers: é por você, também.

Agora, preciso ser sincero. Teve horas que eu me dediquei ao máximo a você e você correspondeu. Mas, em outras, tivemos nossos problemas. Nem sempre você respondia bem a certas iniciativas, vai. Eu também te deixei na mão e outros momentos, não vou negar. Relacionamento que chama, né?

“Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos”, disse Spock a Kirk no aniversário do então almirante em Jornada nas Estrelas 2: A Ira de Khan, citando ‘Um Conto de Duas Cidades’, de Charles Dickens. Eu completo a citação: “aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário”.

Como diz aquele velho clichê, o Asterisco vai virar estrela. Vai ser melhor para você. Aquela internet de 2000 não existe mais, nem a de 2005, muito menos a de 2012. O mundo é outro, também. Tá mais cinza e menos amarelo.

“O que faço hoje é muito, muito melhor do que tudo quanto já fiz. E a paz que tenho hoje é muito, muito maior do que a paz que jamais conheci”. Era essa a mensagem de Um Conto de Duas Cidades que o Sr. Spock deixou ao James T. Kirk antes de morrer. É o fim da história. O fim da nossa história juntos, de uma vez por todas.

E eu, como o Jim, me sinto jovem.

Obrigado, Judão.