Um pequeno personagem, um grande salto da Marvel | JUDAO.com.br

Homem-Formiga é mais uma das “surpresas” da Marvel, especialista em pegar personagens que não interessam a muita gente e transformar em ícones da cultura pop. Só que, dessa vez, eles tem um tal de Paul Rudd…

Um personagem pouco ou nada conhecido entre o grande público. Quem conhece e ouve falar de um filme baseado nas suas histórias, no mínimo desconfia, mas paga pra ver. Na saída do cinema, só sorrisos no rosto. Volte no tempo: foi assim com Homem de Ferro em 2008, foi mais ou menos assim com Capitão América em 2011, Os Vingadores em 2012, Guardiões da Galáxia em 2014.

Enquanto outros estúdios responsáveis por filmes baseados em quadrinhos de super-heróis infinitamente mais conhecidos e estabelecidos capengam antes de se tornarem alguma coisa dentro da cultura pop além de eternas tentativas (o que nem sempre conseguem), Marvel Studios mostra que sabe brincar dessa coisa de pegar personagens da terceira ou quarta página da busca do Google e fazer filmes com eles, muito mais do que consegue fazer com personagens já estabelecidos (volte no tempo: Homem de Ferro 2, Vingadores: Era de Ultron).

Aí chega o Homem-Formiga. Um personagem que é pouco ou nada conhecido entre o grande público, aquele que vai pro cinema, mesmo. Pessoal que leu os quadrinhos “sente medo” do que vai ver. O resultado é exatamente esse que você tá pensando que é, com algumas vantagens em relação aos outros filmes da Marvel Studios.

A primeira delas é Paul Rudd. Não tem jeito: você olha pra esse cara e automaticamente gosta dele, sem nem saber exatamente a razão. Quer sair pra beber uma cerveja, jogar um FIFINHA ou dar RT toda terça a noite, enquanto assiste ao MasterChef. É algo completamente novo nesse Universo Marvel dos Cinemas, só comparável a Robert Downey Jr. e, ainda assim, sem toda a GRAÇA que Paul Rudd tem e traz pra toda essa brincadeira. E não digo só em relação ao humor, não. O seu Scott Lang é um ladrão simpático, gente boa, exatamente como você pensa que Paul Rudd é, só de olhar. Eu muito provavelmente tiraria uma selfie com ele e me mandaria por e-mail, antes de entregar meu celular, caso ele fosse me roubar (o que ele não faz, mas ainda assim).

E, aliás, se ele aparecesse com o Luis, interpretado por Michael Peña, eu ia fazer questão de adicionar os dois no Facebook pra eles pagarem uma bebida pra mim com o meu próprio dinheiro depois de um tempo. O personagem, que não existe nos quadrinhos, é uma das coisas mais legais que eu já vi em todos esses filmes da Marvel, desde 2008. Eu arrisco a dizer que só ele, sozinho, valeria um ingresso.

Os dois são uma puta suspirada de ar fresco no meio do já desgastado e até pesado Universo Marvel dos Cinemas.

Luis <3

Luis <3

Quem também tá bem pra caralho é Corey Stoll, o Darren Cross/Jaqueta Amarela. No filme, o cara tem um puta ressentimento por ter sido escolhido como aprendiz de Hank Pym mas sem nunca ter nenhum segredo revelado — no caso, o traje do Homem-Formiga. Criar a sua própria pílula de nanicolina acaba se tornando a razão da sua vida, o que faz com que ele perca a noção de todas as consequências que as partículas em mãos erradas poderiam causar.

Outra vantagem de Homem-Formiga em relação ao que vimos desde 2008 nos filmes da Marvel Studios é que é o maior ponto fora da curva do Universo, ao mesmo tempo em que se encaixa perfeitamente em tudo.

Lang “invade lugares e rouba coisas” e, fazendo isso, salva o mundo. A grande treta final, comum em absolutamente todos os filmes da Marvel, acontece nos lugares mais inesperados possíveis, com consequências absurdas — que, aliás, vão botar a molecada pra rir. Porque essa é outra vantagem do filme do Homem-Formiga: é o primeiro filme família do Universo Marvel dos cinemas, ao mesmo tempo em que é mais um filme baseado em uma história de super-herói, com consequências grandes pro futuro — o que, aliás, significa que você não pode sair do cinema até que os créditos acabem. SÉRIO.

A molecada também vai curtir os encolhimentos e crescimentos do filme (provavelmente vai ser o Querida Encolhi as Crianças dos millenials), que são usados de forma realmente criativa e em momentos mais propícios ao humor. Mas também tão lá na hora da ação, e os resultados impressionam. Ficou REALMENTE bonito e, devo confessar, o 3D ajuda na imersão no mundo milimétrico das formigas. SÓ AJUDA, porque na hora da psicodelia rolar solta, da viagem, mal se percebe profundidade. Mas ainda assim... Até isso é novo num filme da Marvel. :)

Homem-Formiga

Mas, claro, Homem-Formiga tem seus problemas e eles se resumem aos Daddy Issues — que, no caso, são mesmo os problemas que os pais tem em relação às suas filhas. Você entende, mas não entra muito na onda do Scott Lang fazer tudo o que faz pela pequena Cassie (que, ao lado de Luis, é um dos personagens mais divertidos desse filme); o mesmo vale pra todo o negócio de “você não vai encolher” do Hank em relação à Hope, o que só piora quando ele diz que considera Darren Cross o filho que não teve.

Aliás, Michael Douglas não parece lá muito à vontade no papel do velho herói que brigou com todo mundo pra evitar que sua invenção se tornasse arma de guerra e que agora corre o risco de ver esse seu aprendiz acabando com a porra toda; e também não é nada de mais no papel do papai preocupado com a filha e traumatizado com a morte da esposa.

A sua sorte é que Scott Lang tava lá pra salvar tudo — inclusive a relação com Hope, que até agora não sabia a verdadeira história da morte da sua mãe e faz de tudo pra ela usar o traje do Homem-Formiga pra acabar com Cross, que confia (quase) cegamente nela e em seus problemas com o pai pra seguir em frente com seus planos.

Sabe, eu já escrevi algumas vezes sobre o dia em que eu assisti à Homem-Aranha, o primeiro, lá em 2002, e fiquei morrendo de vontade de sair escalando paredes (aliás, você sabia que o Homem-Aranha é conhecido como Escalador de Paredes? Porque ele escala paredes*...) e me pendurando por aí. Depois eu acabei me decepcionando demais, ou mesmo me empolgando mais com coisas relativamente inúteis (as ligações entre os filmes), eu achei que seria assim daqui pra frente.

Sabe como é, 13 anos mais velho, eu poderia ter um filho dessa idade, talvez fosse o caso de eu começar a curtir mais a profundidade dessas histórias, olhar pra elas com um lado mais de jornalista, tentando entender como elas chegaram naquele ponto.

Homem-Formiga me prova que não precisa ser só isso. Homem-Formiga é um filme bom, que você nem percebe que teve todos os problemas que teve, com tudo o que se espera de um filme “de super-herói”, o que se espera de um filme da Marvel Studios. Mas, aos 31 anos de idade eu faria de tudo pra ter uma roupa que me encolhesse. Só pela diversão. :)