Vimos os SEIS primeiros episódios e dá pra dizer: Danny Rand não é mais aquele personagem INSUPORTÁVEL, isso é fato. Mas que neste ano 2 a trama ainda precisa comer muito feijão com arroz pra deslanchar, ah, isso não dá pra negar…
A aparição de Danny Rand na ótima segunda temporada de Luke Cage foi um verdadeiro sopro de esperança pra quem se frustrou com o quão INSUPORTAVELMENTE CHATO o personagem se mostrou não apenas em sua série solo mas também em Os Defensores. ALGO tinha mudado ali. E isso era bom. Talvez o bastante pra acreditar que a segunda temporada pudesse operar um milagre?
Bom, o JUDAO.com.br assistiu aos SEIS primeiros episódios da segunda temporada de Punho de Ferro e podemos dizer que de fato ESTA é a grande boa notícia. Acabou esta merda de dizer “eu sou o Imortal Punho de Ferro” a cada cinco minutos, de ter que se comportar como um guru de autoajuda com uma frase de efeito de sabedoria oriental pra cada situação. Finn Jones parece estar mais leve, mais solto no papel. Ele consegue até sorrir mais, vejam vocês. E as lutas convencem mesmo, estão mais intensas, menos dança, coreografia, mais PORRADA de fato. AGORA parece que ele tá socando alguém — e se estamos falando de uma série de um especialista em artes marciais que atende pelo título de Punho de Ferro, era o mínimo que se esperava.
Temos aqui um Danny Rand em contato com a vida real, ralando, trabalhando, carregando coisas pra ganhar a vida, olhando o mundo sob uma nova perspectiva. A discussão sobre “legado” continua, mas não apenas aquele que veio de K’un Lun, mas também o que ele herdou de Matt Murdock. Enquanto Jessica Jones e Luke Cage são vigilantes relutantes, Rand se convence de que precisa pelo menos tentar trazer a paz às ruas, justamente num momento em que um vácuo de poder deixando pela ausência do Tentáculo parece tentar ser preenchido por uma nova guerra entre as Tríades. Pra quem lê há anos os gibis de heróis urbanos da Marvel, nada mais típico. E tudo bem com isso.
Legal, então. Guarda isso com carinho porque esta aí era a única boa notícia da vez. Porque se a segunda temporada de Punho de Ferro tá LONGE de ser tão ruim quanto a primeira, digamos que ainda tem um longo caminho a trilhar pra ser chamada de BOA. Porque, rapaz, que timing ruim da porra. Que desenvolvimento chaaaaaato. Que roteiro enrolado e confuso.
Assim que saiu a primeira temporada, eu mesmo a comparei com um filme ruim de ação dos anos 80, tipo terceiro escalão, aquele ruim que é tão ruim que não, não dá a volta e você não consegue curtir nem pelo lado tosqueira. Este aqui digamos que ganhou uma medalhinha a mais, subiu de nível. Não é mais Lorenzo Lamas mas, cara, não chegou a Steven Seagal ou tampouco Chuck Norris.
Da coleção de coisas que ainda incomodam, definitivamente o roteiro está entre elas. A história faz conexões inacreditáveis, tentando te fazer engolir vários golpes de sorte e coincidências que, apresentados um atrás do outro, assim, na sequência, começam a soar como saídas fáceis de roteiro. Gozado como a pessoa certa sempre estava ali, na hora certa, para que aquela outra pessoa pudesse então aparecer e fazer aquela OUTRA coisa, né? É tudo tão rápido, tão aleatório, que você mal tem tempo de se importar com a trama, com os personagens, com o aprofundamento daquela discussão. Porque rapidamente ela pula pra outra. Nada ganha o peso devido. Nem o lado vigilante do Punho de Ferro.
O didatismo da primeira temporada dá lugar ao discurso raso na segunda
E... não, simplesmente não dá pra engolir os personagens dando uma pausa na treta pra fazer uma DR familiar. Mais de uma vez ainda, aliás, enquanto as ruas da cidade tão pegando fogo. “Gente, cêis tão ligados do que tá acontecendo lá fora neste exato momento?”, eu me peguei falando sozinho pra tela do computador.
A preparação para o que deveria ser a coisa mais importante da série, a grande virada, acaba diluída em meio as muitas tramas paralelas que vêm e vão (tipo a busca pelo passado da família da Colleen Wing, que some da narrativa de um jeito inexplicável) e no fim das contas, quando chega o momento PAM-PAM-PAAAAAM, não tem metade do impacto. O plano de Davos para retomar o que acredita ser seu por direito vira um plano infalível do Cebolinha, na pior ACEPÇÃO da expressão, ensanduichado entre gangues de Tigres e Machadinhas e umas tentativas de resolução na diplomacia que a turminha do Bairro do Limoeiro resolveria de forma bem menos desastrada.
Aliás, o Davos... Pô, gente. Ele foi uma das poucas coisas legais na temporada anterior, vai. O ator Sacha Dhawan acabou dando um sabor interessante pra coisa toda, uma pegada mais intensa, apaixonada, e a sua transição de fato pro Serpente de Aço, um dos grandes antagonistas do Punho de Ferro nos gibis, prometia ser tããããããão bacana... FUÉN. Não. Não rolou. Na verdade, o vilão virou o Danny Rand de outrora só que na versão dark, dependendo de uma única expressão de malvado pra tudo e repetindo sem parar um chatíssimo discurso unidimensional.
Outra decepção? Mary Walker, aka Typhoid Mary. A participação dela na trama é um desperdício principalmente porque não tem razão de ser: não apenas poderia ser qualquer um pra desempenhar a função dela como, para ser totalmente honesto, nem precisa de alguém pra desempenhar aquele papel específico na trama toda. Qualquer parte do papel dela no plano infalível do Cebolinha/Davos, aliás, é forçada e não faz sentido algum. ELE MESMO poderia ter feito tudo que ela fez e tudo bem. Junte a isso o fato de que a questão da personalidade múltipla dela é tratada de um jeito bobo, que beira o babaca, um liga e desliga que deixa a Alice Eve sempre com uma expressão de paisagem, como se ela estivesse eternamente procurando algo dentro da cabeça dela... Dá pra fazer um retrato MAIS óbvio de alguém com problemas mentais?
E, em nome de Bast, mas como demora pra termos Misty Knight e Colleen juntas! Isso já tinha sido construído na série dos Defensores, alinhado na segunda temporada do Luke Cage, o que mais cêis tavam esperando, caramba? Tamos falando, isso sim, de um BAITA desperdício, porque é óbvio que elas funcionam juntas, a dinâmica entre as atrizes é incrível, o jeito que elas se entreolham e já sabem o que fazer. Não é exagero algum dizer que uma série das Filhas do Dragão seria algo ainda mais divertido do que, no fim das contas, os Heróis de Aluguel com Luke Cage e Punho de Ferro. Elas são REALMENTE a coisa mais interessante desta zona toda.
A segunda temporada de Punho de Ferro até que começa bem OK. A discussão em torno de quem é Danny Rand de verdade, sobre ele ter criado toda a sua identidade em torno do Punho de Ferro e agora ter perdido um pouco o seu próprio eu, a discussão sobre o código de honra ser menos ou mais importante do que o propósito, o dragão rugindo mais alto em seu peito e fazendo com que ele perdesse um pouco do controle... Este caminho era bem interessante. Mas, tal qual Davos diz sem parar sobre o próprio Danny, os roteiristas parecem ter se perdido em seu próprio caminho, algo entre K’un Lun e Albuquerque.
Então, acho que a lição que fica é: já deu, né? Não precisa insistir mais no que já vimos que não funcionou. Bora pular pro próximo porque, se finalmente vocês encontraram um jeito de fazer este Danny ser coadjuvante direitinho, não precisa forçar a barra MAIS UMA VEZ pra colocar o cara como protagonista, né?