Essa é época do ano, fim de Setembro, começo de Outubro, é a melhor do ano pra quem está na Cidade Maravilhosa. E não, não me refiro ao Rock in Rio: se você é um cinéfilo de carteirinha, já sabe que estou falando do Festival do Rio, uma das maiores mostras de cinema da América do Sul. E cinema mesmo, de todos os tipos, pra todos os públicos, ao contrário do que c e r t a s m o s t r a s costumam fazer (ainda que eu goste e muito) uma outra cidade, carinhosa e equivocadamente ainda chamada de Terra da Garoa.

Na real, o Festival do Rio vai um pouco além de uma simples mostra de filmes. Estamos falando de um grandioso evento que, além de exibir uma infinidade de produções das mais variadas espécies, entre produções hollywoodianas aguardadíssimas e filmes obscuros de lugares que jamais imaginávamos existir, também promove uma série de palestras, debates e seminários entre executivos, produtores e profissionais da área, através do segmento RioMarket, congresso cujo objetivo é justamente fazer a integração entre membros da indústria para o surgimento de novos projetos — muitos filmes nacionais recentes nasceram em bate-papos aqui.

Ou seja: o lugar ideal para se estar se você quer ingressar neste mercado, se está à procura de alguma santa alma para financiar o seu projeto, ou se quer apenas se divertir no escurinho do cinema e no frescor do ar condicionado. Mas não esquece de passar o protetor-solar e beber muita água, já que a maratona para conseguir participar de tudo é INTENSA. Sério mesmo, a correria de uma sala de cinema a outra para tentar pegar o máximo de filmes em exibição corresponde a três meses de academia e regime intensivo. :D

Este ano serão exibidos 280 filmes, entre longas e curtas-metragens, pra fazer a alegria de qualquer um, não importa o gosto. Tem desde retrospectivas de grandes diretores até novíssimos trabalhos que provavelmente nem chegarão ao circuito comercial e também premières de filmes mainstream que estamos aguardando com muito carinho e amor no coração.

Sicario

A Colina Escarlate

The Diary of a Teenage Girl

Claro que as coisas boas não param por aí. Há também longas premiadíssimos neste ano, como Mia Madre, de Nanni Moretti (prêmio do Júri Ecumênico em Cannes); Sol a Pino, da Croácia (grande vencedor neste mesmo festival); Mon Roi (prêmio de melhor atriz também em Cannes); Per Amor Vostro, drama italiano de Giuseppe Gaudino (melhor atriz no Festival de Veneza); o documentário Malala (sucesso no Festival de Toronto); Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer, comédia dramática indie que fez sucesso nos EUA (grande prêmio do jurí em Sundance); Mate-Me Por Favor, drama nacional que levou o prêmio de Melhor Elenco no Festival de Veneza; The Diary of a Teenage Girl, comédia norte-americana (melhor fotografia em Sundance); e a co-produção brasileira/uruguaia Boi Neon, de Gabriel Mascaro, vencedor do prêmio Horizontes em Veneza.

Além de produções recentes, há espaço também para velharias importantes. Está programado para o Festival do Rio uma bem-vinda retrospectiva de trabalhos menores de ninguém menos que Orson Welles (Soberba e o belíssimo Falstaff – O Toque da Meia Noite são os títulos mais conhecidos); nove trabalhos dos Estúdios Ghibli, dentre eles Meu Amigo Totoro, Porco Rosso (ambos de Miyazaki), O Reino dos Gatos e a obra-prima Túmulo dos Vagalumes; Wes Craven ganha uma justa homenagem com a exibição do primeiro Pânico; e o cineasta Hal Hartley, considerado o percursor do cinema indie, marcará presença física com a apresentação de alguns de seus trabalhos mais influentes (como Flerte e Simples Desejo).

Vai ter até uma sessão especial em comemoração aos 25 anos do clássico Lua de Cristal, da Xuxa com o Sérgio Mallandro! :D

Há também uma mostra de documentários premiadíssimos (com destaque para The Reflektor Tapes, que acompanha o processo de criação do último álbum do Arcade Fire, e Little Girl Blue, sobre o mito Janis Joplin); a mostra Midnight Movies, com filmes de suspense e fantasia; o Panorama dos Grandes Mestres do Cinema, com os últimos filmes de cineastas gabaritados como Amos Gitai, Wim Wenders e Carlos Saura; e o Panorama do Cinema Mundial, com filmes que prometem fazer bonito nas próximas levas de premiações.

Enfim, é coisa prá cacete!

Com tantos títulos sensacionais, não resta dúvidas de que o Festival do Rio é um excelente programa para qualquer entusiasta da sétima arte. Não à toa, o evento costuma receber cinéfilos de todos os cantos do país e coisas que jamais veríamos em circunstâncias normais (considerando que a maioria esmagadora dos filmes exibidos ali não vão mesmo chegar ao circuito). A programação completa está no festivaldorio.com.br.

Dica de quem já frequentou estas bandas: se você nunca esteve em um festival de cinema, vá sem medo de ser feliz. Mas PELOAMORDEDEUS, não misture água e bolacha de morango! Depois não diga que não avisei. ;)