Weezer e o delicioso karaokê do indie bêbado | JUDAO.com.br

Em novo disco lançado de surpresa na última quinta, o quarteto liderado por Rivers Cuomo tá claramente se divertindo com versões de clássicos diversos que vão do Tears for Fears ao Black Sabbath, passando por Michael Jackson, a-ha e, claro, Toto

No geral, quando se trata de versões de uma banda/artista para a música de OUTREM, os populares covers, eu geralmente gosto mais daquelas que imprimem a sua personalidade à faixa, dando uma outra cara pro som — basta ver algo como I Will Survive, que o Cake reinterpretou completamente do original da Gloria Gaynor, ou então o suave e igualmente tétrico sabor que a Tori Amos deu para Raining Blood, do Slayer.

Se você também costuma pensar assim, bom, então talvez o disco-surpresa que os heróis do “rock alternativo” Weezer lançaram na última quinta (24), não seja pra você. Mas só TALVEZ.

Mais um da série “este é um álbum autointitulado mas cuja cor da capa vai ser um apelido praticamente oficial”, aquele que DORAVANTE chamaremos de The Teal Album (sendo que “teal” é o chamado VERDE ÁGUA) traz covers dos caras pra dez canções diferentes, algumas delas já conhecidas dos fãs que os acompanham nos shows.

Provavelmente a grande FAGULHA criativa para este projeto tenha sido mesmo toda a “saga” para que eles enfim gravassem Africa, do Toto, a música-meme favorita da internet e que, não por acaso, abre os trabalhos com uma dose considerável de fofura. Mas se você já tinha ouvido antes a versão dos caras, então vai sacar muito bem a ideia aqui: não, não são REINTERPRETAÇÕES do Weezer para Black Sabbath, Michael Jackson, a-ha. Os arranjos são praticamente os mesmos. Mas, por incrível que pareça, as faixas soam total e completamente Weezer.

E tudo isso por um motivo bem simples: o vocalista Rivers Cuomo e seus comparsas não apenas entenderam a piada como resolveram se divertir com ela. Então, a cada faixa, tá claríssimo o quanto eles tão curtindo o que tá rolando. É tudo bem num clima de festa mesmo, quase como se eles tivessem convidado a indiezada toda para uma noite no karaokê e enchido a cara pra celebrar. E isso é maravilhoso. Porque você sente muita vontade de sair cantando junto com eles.

Pra aumentar o clima de karaokê, o Weezer ainda resolveu escolher talvez as músicas mais óbvias de algumas das bandas homenageadas — e, de novo, zero problema com isso aqui. “Ah, vamos tocar Black Sabbath!”. Porra, certeza que eles vão pegar uma das pesadonas, surpreender, sentar a mão. Porra nenhuma. Foram no garantido de Paranoid e simbora, junta todo mundo em torno do microfone pra cantar “Can you help me / Occupy my brain, OH YEAH!”. Se a aposta é em Eurythmics, então vamos lá com Sweet Dreams, mas sem o jeitão macabro do Marilyn Manson, nada disso, vamos fazer a festança dançante da Annie Lennox mesmo.

Tal qual eu e você, por MUITO POUCO o Rivers não dá aquela desafinada básica em Take on Me, ao tentar EMULAR o agudinho poderoso de Morten Harket no refrão. E o mesmo vale, aliás, para os trejeitos vocais do Rei do Pop em Billie Jean, na qual dá pra se imaginar claramente os quatro, nestes figurinos meio Choque de Cultura, meio Miami Vice, arriscando uns passinhos de moonwalking no palco do Arte Pizza. Mais claramente ainda, no entanto, os caras não tão dando a mínima.

Dá a maior vontade de sair cantando junto com eles em Happy Together, em Everybody Wants to Rule the World (podiam ter ido de Sowing the Seeds of Love ou Woman in Chains, ambas igualmente farofa? Ah, podiam. Mas fizeram a escolha certa para ESTE disco em particular) e mesmo em Mr.Blue Sky, do Electric Light Orchestra, talvez aquela que os brasileiros não reconheçam tão imediatamente assim, pelo menos. Mas basta dar o play e deixar a lembrança dos primeiros minutos de Guardiões da Galáxia Vol.2 fazer o restante do trabalho pra você.

A grande surpresa aqui, ou a maior estranheza, por assim dizer, talvez tenha sido No Scrubs, do TLC, que fica com um jeitinho meio ska desacelerado, até um pouco esquisita, desajeitada... mas MUITO cool. E sem a frescura de mudar o gênero da canção, já que é um homem cantando (perceba que MUITOS cantores fazem isso quando executam versões de músicas cantadas por mulheres). “Eu tava tentando decidir sob qual perspectiva de gênero eu cantaria quando vi um tweet que dizia ‘se você é um cara fazendo o cover de uma música de uma garota, mantenha os pronomes. Durante aqueles três minutos, você é gay’. E aí pensei ah, legal, vamos tentar, então”, afirmou Cuomo em entrevista ao Apple Music.

Rozonda “Chilli” Thomas, do trio original, não apenas aprovou como sugeriu: “a gente bem que podia cantar isso juntos, né?”. Que momento este seria, não? :)

The Teal Album é disco pra dias de sol, pra ir ouvindo no caminho pro trampo, preparando o espírito para aquela reunião pentelha. É diversão sem compromisso, como toda banda deveria se sentir à vontade pra fazer sempre que quisesse, sem medo de ser julgada pelos críticos e principalmente pelos fãs, “ai, se venderam” ou “ai, eles mudaram, não são assim, que absurdo”. Pega aí este “foda-se” delícia em forma de disco e vai dançar um pouco. Aí em Março, quando o Black Album sair, você volta ao seu normal. Pode ser? :)