Batman VS. Superman não é o filme que a Trindade merece e os fãs queriam | JUDAO.com.br

God Save the Amazon Princess!

Ver a chamada TRINDADE se formando em Batman VS. Superman é inegavelmente emocionante. O uso dos poderes, a união por um mesmo objetivo e um sentimento de empolgação tomam conta de todo mundo que não tem um pedaço de pedra congelado no lugar do coração. Mesmo que a gente já tivesse visto os três juntos em trailers, imagens e onde mais a Warner conseguisse mostrá-los, o momento em que os três se unem pela primeira vez na tela gigante rende sorrisos dos mais diversos tipos e tamanhos dos mais COMEDIDOS e aplausos daqueles que há tanto tempo esperavam por esse momento.

O problema é que isso só acontece no clímax, quando o terceiro ato já se DOBRA em direção ao fim do filme. São quase duas horas até o único grande momento de Batman VS. Superman, mas caberia tudo tranquilamente em uma só ou até menos. É como uma enorme colagem de cenas que, em sua maioria, não servem pra absolutamente nada e nem necessariamente tem ligação entre elas. E ainda assim é tudo apressado demais, com referências demais...

Uma preocupação tão grande com quadrinhos que às vezes parece que alguém, em algum momento, se esqueceu de que aquilo deveria ser um filme.

Batman VS. Superman

Bruce Wayne ficou realmente puto com aquela treta no final de Homem de Aço, que acabou RESVALANDO em Gotham City (!) e derrubando um dos prédios das Empresas Wayne, entre outros, enquanto o Superman vê a humanidade dividida entre os que o aceitam praticamente como um Deus e aqueles que enxergam mais problemas do que soluções na sua presença na Terra.

Mas Batman VS. Superman não existe. É uma simples vingança que coloca o tal do “VERSUS” entre os dois, culpa de ideias completamente equivocadas na hora de se construir esse novo universo e um roteiro absurdamente problemático, escrito por Chris Terrio e David S. Goyer. Bruce Wayne quer acabar com o mito do Superman e, com tantos ESCORREGÕES na narrativa, fica a impressão de que é só por ter destruído seu prédio e matado seus funcionários, e não uma cidade e meia e milhares de pessoas (isso porque eu tou dando o benefício da dúvida, já que existe a chance de ele estar realmente sendo egoísta nesse ponto). Do outro lado, parece que o Superman só tá querendo seguir sua vida enquanto salva Lois Lane uma vez ou outra. Não fosse por uma ida ao México no Dia de Los Muertos, é como se o Superman não fosse o Superman. O Batman... Bom, o Batman não parece o Batman em momento nenhum, ainda que seja legal vê-lo virando o pescoço, o novo uniforme, Ben Affleck e fazendo as coisas que faz nos jogos da série Arkham.

O que quer que tenham tentado contar de história com Batman VS. Superman, não deu certo. Ela não se garante, não tem personalidade, em certos momentos beira o absurdo — a sacada / saída que tira o “VERSUS” do filme e transforma em Batman & Superman é absolutamente ridícula, especialmente se levarmos em consideração o tom escolhido pra esse universo — e não se preocupa com consequências.

Já sabíamos disso desde Homem de Aço, sim, mas com Batman VS. Superman essa desconexão entre os arcos da história acaba escancarando todos os problemas da produção, que mais se parece como uma prévia de Liga da Justiça do que uma sequência do filme do Superman... Ou qualquer coisa desse tipo.

Batman VS. Superman deveria se chamar algo como Trindade ou ficado apenas com o “A Origem da Justiça” do subtítulo, sem se preocupar em criar conflitos entre os protagonistas pra depois colocá-los pra lutar juntos. Me vem à cabeça a tal Liga da Justiça do George Miller, especialmente depois de Mad Max: Estrada da Fúria, um filme com ação do início ao fim, que diz tudo o que precisa dizer enquanto isso, que não pega na mão de quem tá assistindo e soletra o que tá acontecendo (o e-mail que a Diana Prince recebe, olha... ) e nem joga coisas na tela e espera que dêem certo de alguma maneira.

(O Apocalypse, mais genérico do que nunca, é a exceção que confirma a regra)

Batman VS. Superman

A Mulher-Maravilha é a melhor coisa do filme. O Perry White interpretado por Laurence Fishburne está ótimo, mas é a Princesa Amazona que dá graça, razão e personalidade ao filme, ainda que não tenha sido o filme que planejaram inicialmente. Primeiro porque esse roteiro assustador não se preocupou em tentar mostrar quem ela é — a Mulher-Maravilha simplesmente é. Segundo porque Gal Gadot segurou muito bem a onda da mulher de saco cheio da humanidade e do patriarcado, mas que se vê forçada a nos defender, mais uma vez.

O Lex Luthor de Jesse Eisenberg é EXATAMENTE o vilão que você podia esperar, especialmente depois de ter assistido à Rede Social. Tem um QUÊ de Mark Zuckerberg, uma certa INAPTIDÃO social misturada a um excentricismo e dinheiro, MUITO dinheiro mas que, assim como Batman e Superman, se perde com o roteiro.

Zack Snyder ou não conhece exatamente o material que tem em mãos ou está muito preocupado em ser a versão noite pro dia que é a Marvel Studios, a mando de alguém ou por vontade própria. É uma sucessão de erros de escolha, do tom à história, passando pela maneira que ele escolheu contá-la, que assusta um pouco ao pensar no que vem pela frente.

Batman VS. Superman vai dividir o mundo, sim, mas não como o Warner esperava. Até porque, o grande momento do filme é justamente ver o Homem-Morcego, o Azulão e a PRINCESA DE THEMYSCIRA numa telona, juntos, pela primeira vez. Será que em momento nenhum alguém percebeu isso?

PS. Não se preocupe com 3D ou cenas pós-créditos. Um porque é inútil, mesmo. O outro porque tá tudo no meio do filme. :P