Mercado cresce puxado pela Marvel, enquanto a DC tenta se ancorar no Batman
Há algum tempo virou lugar comum dizer que os quadrinhos tradicionais, aqueles de papel e vendidos em revistinhas mensais de 32 páginas, iriam morrer. O mangá seria mais importante culturalmente, ou o digital viria pra acabar com impresso, entre outras teorias. Até você olhar os números do mercado direto dos EUA em novembro.
De acordo com a distribuidora Diamond, em números REFINADOS pelo ComiChron, no último mês houve um crescimento de 23% em relação a novembro de 2014, no número de exemplares entre os 300 títulos mais vendidos. Comparando com 2010, esse crescimento foi de 51%. E se você quiser comparar com 2000, as vendas foram 45% maiores.
Quando você pensa nos dólares arrecadados, a diferença é ainda mais brutal – motivada, claro, também pelo aumento dos preços dos quadrinhos. Ainda nos 300 títulos mais vendidos, foi arrecadado 38% a mais que novembro do ano passado, 124% a mais que novembro de 2010. Até agora, todo o mercado direto de HQs (aka “venda pras comic shops”) movimentou US$ 526 milhões, um aumento de 6% em relação ao último ano.
Isso tudo sem contar outros canais de vendas. Tem as livrarias de tijolo, e-commerces (como a Amazon) e edições digitais (como o ComiXology) que não entram na conta. Vários motivos pra sorrir, né? Bom, nem tanto.
Quem tá puxando esse crescimento no mercado é a Marvel. Em outubro, os 20 primeiros gibis mais vendidos eram da Casa das Ideias. Agora em novembro, ficaram com 17 entre os 20. No último mês, abocanharam 47% dos dólares gastos nas comic shops. Esse resultado todo tem duas justificativas: Star Wars e o relançamento chamado All-New Marvel.
Star Wars: Vader Down #1, primeira parte do primeiro crossover da saga na Marvel, teve 384 mil exemplares. “Ok, primeira edição, quero ver manter esse gás depois”. Bom, eles tão mantendo: Star Wars #11 vendeu 126 mil, o #12 ficou com 123 mil. Com O Despertar da Força estreando agora, deve bombar ainda mais.
Já o All-New Marvel, com várias edições número 1 de diversos personagens, também deu uma turbinada nos números. Foram cinco publicações do tipo que passaram dos 100 mil exemplares.
Mas aí fica aquela coisa: será que isso continua? Amazing Spider-Man #3, por exemplo, já baixou pros 93 mil de tiragem, depois dos 245 mil da primeira edição. Invincible Iron Man caiu dos 279 mil pros 59 mil no número 3, chegando próximo da média da série anterior. Para contornar isso, a Marvel tem zerado a numeração dos seus gibis de forma cada vez mais constante – o próprio Homem-Aranha teve dois números 1 com diferença de poucos meses. Só que uma hora a fórmula se desgasta...
Já na DC, bom... Dá pra comemorar as boas vendas (e já esperadas) de Dark Knight III: The Master Race #1. Pra falar português claro, a revista vendeu PRA CARALHO. Foram mais de 440 mil exemplares distribuídos para as comic shops. Isso deu uma bela ajuda.
Porém, só o Batman se deu bem em novembro. Nos 20 mais vendidos, a editora só emplacou, além do líder DKIII, Batman #46 e o aguardadíssimo Batman Europa #1. Superman, que é uma marca icônica, ficou apenas na 46ª posição, com 41 mil exemplares. É menos que a Mulher-Aranha, Arlequina, Venom, Carnificina, Spider-Gwen... Até mesmo os especiais da boa saga Darkseid War, da Liga da Justiça, venderam menos que 35 mil por edição.
Não é por falta de relançamentos. A DC usou sim essa estratégia, no chamado DC You, com novas fases do Batman, Superman, Lanterna Verde, Mulher-Maravilha e um cronologia menos restritiva. Só não recorreu ao recurso de relançar tudo do número 1, como fizeram no reboot em 2011. Dá pra ver agora que a estratégia não só fracassou ao tentar trazer leitores novos, como também acabou afugentando uma parte dos antigos.
Para os próximos meses, a DC prepara algumas poucas novidades pra tentar reverter esse quadro. Entre elas, The Dark Knight Returns: The Last Crusade, escrita pelo Frank Miller e pelo Brian Azzarello, além da arte do John Romita Jr, que funciona como uma prequência pra clássica Cavaleiro das Trevas. Outra novidade é o retorno de Bruce Wayne ao manto do Batman e do Superman à fase “poder total e sem calça jeans”, que já está programada para março. Ainda assim, parece pouco pra quem deveria estar com a luz laranja ligada.
Há outra preocupação, também, chamada graphic novels. Enquanto cresce a venda de revistas mensais, os encadernados não se dão tão bem. Houve uma redução de 25% nas vendas em relação a novembro do ano passado, enquanto no ano todo o crescimento acumulado é de apenas 2%. Nem mesmo o lançamento de Sandman Overture no formato, mês passado, ajudou.
Uma das justificativas pode ter sido uma maior venda em outros canais, como as livrarias e lojas online. Outra, mais problemática, é que, talvez, os leitores estão simplesmente gastando mais dinheiro com os relaunchs das mensais, sobrando menos dinheiro para encadernados.
No geral, dá sim pra falar que o mercado de quadrinhos nos EUA anda bem, muito bem. Pode ser uma bolha? Sim, pode – mas falavam a mesma coisa em 2012, quando esse crescimento começou, motivado pelo reboot da DC.
De qualquer forma, uma coisa é certa: o papel e os quadrinhos norte-americanos continuam fortes em seu próprio mercado. O apocalipse foi, ao menos por algum tempo, adiado. ;)