Infiltrado na Klan: forte, importante e ótimo filme | JUDAO.com.br

Baseado na história real de Ron Stallworth, o longa levanta questões muito sérias e gera debates que nós precisamos ter sobre racismo sistêmico e ativismo

Imagina assim: lá nos Estados Unidos, um policial chamado Ron Stallworth tá querendo investigar crimes de ódio cometidos pela Ku Klux Klan e resolve se infiltrar no grupo. Ele encontra um contato com alguém de lá, fala uns absurdos racistas, xenófobos, homofóbicos e sexistas ao telefone e convence bem como intolerante cheio de ignorância. Ele, então, é chamado pra se apresentar à Klan, coisa que ele aceita sem nem pestanejar. Tudo isso seria um andamento normal de uma investigação… se não fosse o fato de Ron ser um homem negro.

Essa história aconteceu de verdade, no final da década de 70, e Spike Lee acabou de transformar essa história MUITO interessante em um filmão. Infiltrado na Klan (também conhecido como BlacKkKlansman) é quente, importante e levanta questões que PRECISAM ganhar destaque há muito, muito tempo mesmo.

Spike Lee tá puto. Bem puto. Lá em Cannes, quando apresentou o longa pela primeira vez, ele xingou Donald Trump por sua passividade ante aos movimentos nazi-fascistas promovidos em Charlottesville em Agosto do ano passado. “Aquele filho da puta teve a chance de dizer ‘nós queremos amor e não ódio,’ e aquele cuzão não denunciou a porra da Klan, a extrema-direita e aqueles Nazis de merda”, esbravejou na época, coberto de razão. No mesmo festival francês, Infiltrado na Klan foi aplaudido de pé por mais de dez minutos.

Não é à toa. É uma história cheia de momentos absolutamente revoltantes que te deixam com o rosto quente de raiva. Ron (John David Washington), pra conseguir seguir com o disfarce, envia seu colega Flip Zimmerman (Adam Driver) para os encontros da Klan e é ALI que o Kissuco ferve. Eles descobrem que a organização tá atrás da líder estudantil Patrice Dumas (Laura Harrier) e que planeja ataques terroristas cada vez maiores. No meio dessa coisa toda, David Duke (Topher Grace), líder máximo da Ku Klux Klan (o mesmo que, recentemente, afirmou que um dos candidatos à presidência do Brasil soava como ele), adquire um enorme carinho por Ron e tá doido pra conhecê-lo.

Lembrando: todos aqueles absurdos, ódio, burrice, nazismo, fascismo, supremacia branca, racismo, xenofobia, misoginia… tudo aquilo é uma junção de FATOS REAIS. Algumas frases ditas por David Duke, inclusive, são citações de Trump, o que é assustador. A quantidade de xingamentos racistas é aterradora – e deve ter dado um PUTA trabalho pra quem traduziu o filme. as atitudes são desprezíveis. E o filme termina com uma mensagem extremamente direta: o nazi-fascismo não tá nem perto de acabar. E precisamos fazer algo sobre isso.

Infiltrado na Klané ótimo, mas é MUITO bom pontuar: o cineasta, ativista e rapper Boots Riley criticou a produção por colocar policiais no centro da história como se eles fossem responsáveis por lutar contra o racismo. Com cenas inventadas, floreadas e fatos impossíveis de se checar, oficiais são postos como heróis e ele destacou como fazer isso no meio de movimentos como o Black Lives Matter é algo problemático. “Nós lidamos com o racismo não só em terror físico e atitudes de pessoas racistas, mas também em salários, moradias, saúde e outras coisas que envolvem qualidade de vida.”, diz. E seguiu escancarando que não são só organizações criminosas como a Klan que aterrorizam as vidas de pessoas negras: “Nós lidamos com isso [a violência] vindo dos policiais, dia após dia. E não só dos brancos. Dos oficiais negros também. [...] Então, ver Spike fabricar pontos-chave da história pra colocar esses policiais como aliados da luta é decepcionante, pra dizer o mínimo”.

Lee respondeu, dizendo que jamais dirá que “todos os policiais são racistas” e completou afirmando que precisamos deles: “Infelizmente, eles, em muitos casos, não cumpriram a lei; eles a quebraram. Mas eu também gostaria de dizer, senhor, que negros não são um grupo monolítico.”, falou.

Infiltrado na Klan levanta questões. Discussões importantes que eu e todas as outras pessoas brancas são privilegiadas demais pra compreender de bate-pronto e que PRECISAM aprender, ouvir, entender. É um filmaço, mesmo. E uma obra importante pra um ano como o nosso.

Infiltrado na Klan na Mostra

18 de Outubro, às 21h15, no Cinesesc
19 de Outubro, às 19h10, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 1
22 de Outubro, às 21h00, no Espaço Itaú de Cinema – Pompeia 1
26 de Outubro, às 18h40, na Cinesala
29 de Outubro, às 14h00, no Espaço Itaú de Cinema – Augusta 1