Documentário, produzido pelo baixista do Metallica, será exibido durante o festival In-Edit Brasil, em São Paulo
“Meu nome é John Francis Anthony Pastorius III e eu sou o melhor baixista do mundo”.
Esta frase, que alguns consideram uma espécie de lenda urbana, seria a forma do homem que atendia pelo apelido de Jaco se apresentar a qualquer um que conhecesse pela primeira vez.
Se é verdade ou não que o músico usava a frase pouco modesta como introdução, pouco importa. O fato é que ele seria capaz de fazê-lo. Porque a sua personalidade forte e sem papas na língua permitiria isso. E, bom, porque a frase é totalmente verdadeira.
Ele era MESMO o melhor baixista do mundo.
Sabe o virtuosismo que a gente costuma destacar nos estilos de sujeitos como Joe Satriani, Steve Vai, Eddie Van Halen, Ritchie Blackmore e a insuportável dupla John Petrucci (Dream Theater) e Yngwie Malmsteen – todos guitarristas? Pois é. Jaco era assim. Só que nas quatro cordas. “Jaco tinha muita pegada, muita atitude – e uma presença de palco sensacional. É por isso que ele mexeu com tanta gente”, opina Robert Trujillo, baixista do Metallica, em entrevista para a Rolling Stone.
Trujillo é o produtor e principal financiador de Jaco: The Film, o primeiro documentário a respeito da vida do reverenciado músico, conhecido por seus trabalhos solo e também pela banda Weather Report, além dos projetos ao lado de nomes como Joni Mitchell e Pat Meheny.
Embora fosse originalmente um músico de jazz, o peso do som único de Jaco serviu de influência direta para uma série de músicos, de Flea (Red Hot Chili Peppers) a Geddy Lee (Rush), passando pelo próprio Trujillo, que cita Pastorius e Geezer Butler (Black Sabbath) como seus maiores ídolos. Pense que Trujillo fez parte de bandas como Infectious Grooves e Suicidal Tendencies, que não poderiam estar mais distantes do que se pensa quando se fala a palavra “jazz”, e já dá para entender a extensão da influência de Jaco.
E, ironia das ironias, hoje Trujillo toca no Metallica. Justamente a banda que fez aquela atrocidade com o baixo no disco ...And Justice For All. :D
Em São Paulo, o filme será exibido como parte do festival In-Edit Brasil, dedicado especialmente a documentários com foco em música, que começa esta semana. As sessões rolam na próxima quarta, dia 8, no Cinesesc, a partir das 21h; e depois na sexta-feira, dia 10, começando às 20h, lá na Sala BNDES da Cinemateca.
As exibições devem ser bastante disputadas por fãs de música, já que o documentário demorou exatos cinco anos para ficar pronto e deixou uma baita expectativa no ar. “Me custou um bocado de dinheiro”, afirma Trujillo. “Sei que muita gente pensa ‘oh, você é um rock star ricaço’. Mas na verdade tivemos que levantar grana para finalizar o filme (via Pledgemusic). Eu gastei aproximadamente US$ 800.000 do meu bolso. Eu sempre digo, ‘ei, eu estou no Metallica, mas não estava no Black Album’. (...) Eu sou motivado pela paixão e é sobre isso que este filme trata. Sou eu tentando compartilhar as minhas influências”.
O baixista do Metallica conta que viu Jaco ao vivo pela primeira vez em 1979, durante um show no Santa Monica Civic Auditorium. Trujillo tinha apenas 14 anos e considera que aquele momento mudou a sua vida. “Eu nunca tinha visto o baixo ser apresentado como um instrumento melódico e no papel de protagonista antes. Ele estava tocando com o Weather Report, que não tinha um guitarrista, e era o cara mais descolado ali. Era praticamente o show DELE”.
Nascido na Pennsylvania, no meio de uma família musical (seu pai era cantor e baterista numa big band), Jaco Pastorius montou sua primeira banda ainda na escola – e começou, na real, tocando bateria como o pai. Mas depois de machucar o pulso jogando futebol, aproveitou que o baixista do grupo no qual tocava no momento estava saindo, comprou um baixo usado numa lojinha por U$ 15 e resolveu bancar o substituto.
Totalmente autodidata, aos 17 anos passou a se interessar pela sonoridade do jazz. Mas logo desenvolveria um estilo muito próprio de tocar, mais forte, mais pesado, misturando harmonias clássicas com um groove funkeado da black music (batendo nas cordas do baixo quase como se esteve tocando percussão) e uma pitada de gêneros latinos. As fronteiras entre o rock e o jazz estavam definitivamente derrubadas – e Jaco se tornaria figura central no chamado jazz fusion, que consiste de uma série de misturas musicais.
Por outro lado, no entanto, sua persona de palco furiosa e sem controle combinava com o que ele fazia em sua vida pessoal: usuário abusivo de drogas e álcool, acabou sendo diagnosticado com bipolaridade apenas em 1982, atravessando períodos em que se afastou da família, dos amigos e foi morar nas ruas, por conta própria, depois de ser expulso de seu apartamento em Nova York.
Na Flórida, em 1987, tentou invadir o Midnight Bottle Club e acabou entrando numa briga com Luc Havan, segurança do local. O resultado foram múltiplas fraturas faciais e ferimentos no olho direito e braço esquerdo, levando-o a entrar em coma. Pouco depois, ele morreria, vítima de uma severa hemorragia cerebral, aos 35 anos.
Além dos depoimentos de nomes como Flea, Sting, Geddy Lee, Jimmy Page e Bootsy Collins, um dos pontos marcantes do filme é a presença de Joni Mitchell, lendária cantora canadense, parceira musical de Jaco e conhecida por ser bastante arredia a entrevistas – e que resistiu durante quatro anos até finalmente concordar em sentar diante das câmeras.
“Foi uma coisa enorme para nós, porque finalmente tivemos uma presença feminina”, revela para a Billboard Paul Marchand, que se juntou ao projeto em 2011 como editor e acabou se tornando diretor do filme em 2012. “Ela ajudou a costurar as coisas todas. Quando ele estava crescendo como artista, eles trabalharam juntos e ela o apresentou para um monte de gente – e ambos voltariam a se encontrar de novo no final da vida dele. Ela foi uma linha condutora emocional e cheia de esperança para a história”.
“Você tem que desenvolver uma amizade com Joni antes que ela concorde com algo”, revela Trujillo. “Kirk [Hammett, guitarrista do Metallica] e eu encontramos com ela numa festa. O guitarrista dela cresceu na mesma vizinhança que eu, conhecíamos alguns músicos em comum... Dali, corta para a gente jantando junto e desenvolvendo uma amizade”.
Além do disputado filme sobre Jaco, o In-Edit Brasil vai exibir produções a respeito de nomes diversos como James Brown, Elza Soares, Alice Cooper, Racionais MC’s, The Clash, Premeditando o Breque e Paco de Lucía.
In-Edit Brasil – 7º Festival Internacional do Documentário Musical
1 a 12 de julho (São Paulo)
14 a 19 de julho (Salvador)
In-Edit-Brasil.com
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