Segue o jogo, Max Cavalera | JUDAO.com.br

O vozeirão da família Cavalera construiu uma vida em torno de não apenas uma, mas duas bandas, mas insiste em bancar a viúva sofrida do Sepultura

Tá lá, na capa da Playboy brasileira deste mês de maio, Ivi Pizott, bailarina do Domingão do Faustão — a nona negra a estampar a capa da revista, em QUARENTA anos de história. Que mulher linda.

Mas confesso que, ao olhar pra a capa, a coisa que me chama a atenção de imediato é aquele destaque no canto superior direito. A entrevista com Max Cavalera, o ex-vocalista do Sepultura. Aliás, não, este lance de “ex-vocalista” já era. O cara saiu da banda em 1996. Ano que vem, faz DUAS FUCKING DÉCADAS. Mas ele, rapaz, não consegue superar, não é mesmo?

“Derrick Green não foi a pessoa certa para a banda”, diz Max na entrevista, referindo ao seu substituto. Mas eis que, na sequência, afirma que nunca se interessou em conferir o trabalho do Sepultura após sua saída. Bom... então como diabos ele sabe se o Derrick era ou não a pessoa certa para a banda? Intuição? Bola de cristal?

PlayboyVolta e meia, a questão dos irmãos Cavalera, Max e Iggor, versus os atuais integrantes de sua ex-banda se torna mais uma vez pauta do dia no meio do rock pesado. É praticamente uma novela versão heavy metal – que tem como pico as lamúrias do vocalista. E que eu achei, depois de uma declaração que ele fez para o site Live Metal, fosse ter um fim. Que fosse mostrar que, caralho, enfim ele superou. “Pra mim, eu meio que não me importo com o que eles fazem”, começou ele. Sim, sim, era isso mesmo. Era por aí que a coisa tinha que seguir.

“É um assunto um pouco complicado porque eu criei a banda e ainda a considero parte de minha vida. E é realmente difícil lidar com o fato de que eles continuam com o nome sem mim e sem qualquer Cavalera. Depois de meu irmão sair, ficou ainda mais difícil pra mim levar eles a sério. Não há ninguém original na banda. É assim que eu vejo o Sepultura, e eu acho que muitos dos fãs compartilham da mesma opinião”. Como se não bastasse, eis que então ele arremata, com chave de ouro: “Eu já estou no Soulfly há mais tempo do que estive no Sepultura, e eu amo o Soulfly e eu amo o que o Soulfly criou. E estou muito ocupado aqui, então eu realmente estou pouco me fodendo pro que aqueles caras fazem”.

Ninguém original na banda? Amigão, será que você não se esqueceu do Paulo Xisto Jr., baixista do Sepultura desde o primeiro disco? Esqueçamos esta história de que ele não tocou nas gravações de estúdio, que foi o Max quem gravou as linhas de baixo. Aqui, isso não importa. Porque quem estava no palco, desde o começo, empunhando e espancando o baixo, era o Paulo. Então, mais respeito.

Da mesma forma, não faz qualquer sentido tanta desconsideração com o guitarrista Andreas Kisser – que entrou para a banda em 1987, apenas dois anos depois que ela se formou. Antes dele, a banda tinha lançado apenas Bestial Devastation (85, no formato de split LP com o Overdose) e Morbid Visions (86). A partir de Schizophrenia (87), o álbum que alçou o Sepultura ao estrelato, ele esteve em nada menos do que 12 discos do grupo, completando exatos 28 anos empunhando as guitarras da banda. Sério mesmo que, pra você, isso é pouco? E o Derrick Green, que já é vocalista do Sepultura há 17 anos, tendo gravado sete álbuns – o mesmo número do Max, aliás. Isso é praticamente uma vida, muito mais do que duram muitas outras bandas.

Max e Iggor

Max e Iggor

Sejamos honestos: quantas vezes vocês já não ouviram Max Cavalera falar sobre a tal turnê de reunião do Sepultura? Eu já li, contando por baixo, pelo menos umas vinte entrevistas nas quais ele diz que adoraria que ela acontecesse. Isso não é, nem de longe, o comportamento de um cara que não liga para o que sua antiga banda faz.

Porque um cara interessado em seguir em frente com a carreira simplesmente não tocaria mais no assunto. Falar sobre o passado, beleza. Revisitar as antigas canções no palco com o Soulfly e com o Cavalera Conspiracy, a banda ao lado do mano Iggor, excelente. Mas remoer em toda e qualquer entrevista as causas de sua saída e, principalmente, o futuro do grupo, honestamente, é um saco. Já deu o que tinha que dar – ainda mais porque a outra metade, o próprio Sepultura, refuta esta reunião sempre que questionada a respeito.

Dias antes da tal entrevista para o LiveMetal, outra publicação especializada, o MetalPaths, publicava uma outra entrevista do Max, na qual ele falava sobre, guess what?, uma possível reunião com o Sepultura. “Eu acho que é por isso que a banda não vai para lugar nenhum. Aproximam-se do chão mais e mais a cada ano. Menos pessoas gostam deles. Por alguma razão parece que eles não percebem que uma turnê de reunião seria a melhor coisa a fazer para os fãs e para o nome da banda. Eu gostaria de fazer isso por mim e pelos fãs, especialmente porque estamos todos aqui e isto é possível”, disse o camarada.

Possível é, meu velho. Mas não precisa acontecer. Porque o nome da banda, que tem um contrato com a maior gravadora de heavy metal do planeta e vem se apresentando no palco do maior festival de heavy metal do mundo, vai bem obrigado. Falei que eles lançaram recentemente The Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart, que é aquele que considero o melhor disco de sua trajetória com Derrick nos vocais? Mano, se isso é “se aproximar do chão mais e mais a cada ano”, rapaz, eu vou me jogar com a cara nele agora mesmo.

Sepultura

Isso me lembra claramente daqueles longos e agonizantes anos anteriores à reconciliação de Dave Mustaine com o Metallica, quando tudo que o cara sabia era, a cada entrevista, falar de novo e de novo sobre sua antiga banda. Mas ele é simplesmente o líder do Megadeth, porra. E o Megadeth é uma banda ótima, que tem lançado consistentemente discos excelentes (por mais que você não concorde com Super Collider, pelo menos Endgame e Thirteen são uma dupla e tanto). Preocupe-se, então, com o diacho do Megadeth e deixe o Metallica pra trás, no passado, que é onde ele ficou para você.

Querem outro exemplo? Paul Di’Anno, o eterno recalcado. Embora prefira muito mais a voz e a postura de palco do frontman Bruce Dickinson, sei admitir a importância que Di’Anno teve para a história do Iron Maiden, dando voz aos memoráveis Iron Maiden (80) e Killers (81). São discos incríveis, com clássicos fantásticos como Wrathchild e Running Free, só para citar aqueles mais ouvidos (o que dirá, então, de Charlotte, The Harlot e Phantom of the Opera?). Isso é óbvio. O que não é óbvio, pelo menos para mim, é perceber que mais de trinta anos depois, Di’Anno simplesmente não conseguiu decolar uma carreira solo decente sem se desvincular do Iron Maiden.

Por que esta obsessão ridícula em atacar o Maiden e especificamente Bruce Dickinson, tentando conseguir alguma atenção por meio da polêmica? Será que o cara não percebe que isso só tira todo e qualquer brilho que seu trabalho solo possa ter? Já encheu o saco esta história de ver o sujeito fazendo a sua carreira sempre e sempre em cima do passado, usando até a tipologia do Iron Maiden em seus discos solo e flyers de seus shows, e batizando a si mesmo como The Beast – termo que, como todos os fãs sabem muito bem, só surgiu relacionado à banda de Steve Harris no disco The Number of the Beast (82), já sem a presença de Di’anno.

Soa demais como picaretagem de um cara que adora pregar a autenticidade da cena metálica, mas que tem mais discos com covers do Maiden do que com faixas inéditas. Agindo desta forma, Di’Anno parece ainda mais marketeiro do que os ex-companheiros de banda que costuma acusar desta forma.

Quem vive de passado é museu, diz o velho e batido ditado. Isso vale para Dave Mustaine, para Paul Di’Anno e sim, vale bastante para Max Cavalera. Deixe o chororô de lado, esqueça esta bobagem de reunião do Sepultura e pare, de uma vez, de falar sobre os caras.

Concentre-se no Soulfly e no trabalho com o seu irmão, que é a oportunidade de entregar aos fãs que sentem a falta de vocês no Sepultura o que eles estão querendo. Simples assim. Pare de querer ser lembrado eternamente como “o ex-vocalista do Sepultura”. Isso é pouco, é limitador. Você está agindo como um mala, mas é um ótimo músico, merece bem mais. Se o Sepultura, pra você, está horrível, está se afundando, pois bem, deixe que eles se afundem. Você criou a banda quando era um adolescente e parece ter uma relação quase obsessiva com um nome que, para você, agora não deveria significar mais nada.

O legado ficou. Está escrito, na forma de sete discos memoráveis. Siga em frente. Corte, de uma vez, o seu cordão. Este não é o seu bebê, como alguém certa vez disse. Não se convença desta bobagem. Esta é sua ex-banda. Cante os clássicos nos shows, curta com o seu irmão e com as novas gerações de Cavaleras que estão se juntando a vocês. Mas faça isso sendo Max Cavalera, o vocalista do Soulfly. Isso é você. Porque caminhar só faz bem se for pra frente, sujeito.

Pra mim, como fã, não existe qualquer necessidade de uma turnê de reunião ou do retorno desta ou daquela formação. Saudosismo besta. Estou feliz em ter Sepultura, Soulfly e Cavalera Conspiracy juntos, co-existindo. Helloween, Gamma Ray, Unisonic e Masterplan. Metallica, Megadeth e Newsted. Angra, Shaman, Noturnall e André Matos.

Cardápio farto e variado. Assim é que eu gosto.

Cavalera, meu velho? Segue a porra do jogo.