E vamo lá minha gente, deixem a porra do pânico de lado: TÁ TUDO BEM. Com esta suposta mudança, pelo menos. ;)
Tudo começou, na verdade, com uma matéria sobre um filme que NÃO É o do Flash, vejam vocês.
Era só uma matéria sobre o roteirista Dan Mazeau sendo contratado pela Universal pra adaptar para os cinemas o livro Armada, do mesmo Ernest Cline de Jogador Número 1. Beleza. Mas, em determinado momento da matéria do THR, o repórter Borys Kit relembrou o currículo de Mazeau, pra contextualizar o leitor, e mencionou que “ele trabalhou no projeto do filme do Flash, pra Warner Bros., quando ainda se chamava Flashpoint“.
Êpa, êpa, êpa. Como é que é, companheiro?
Ano passado, durante o painel da WB na San Diego Comic-Con, o estúdio anunciou com toda a pompa e circunstância que o título seria aquele, com direito a mostrar o logo do dito cujo no telão, coisa e tal. E agora ele fala isso assim, como quem não quer nada, na surdina? Ah, mas é claro que a internet não perdoou.
“Eu não disse que eles não iam adaptar mais Flashpoint“, tentou se justificar o jornalista, horas depois, no Twitter. “Tudo que eu disse é que ele não se chamaria mais Flashpoint. Mas talvez eu tenha falado demais”.
Flashpoint é o nome de um famoso crossover dos quadrinhos da DC estrelado pelo Homem Mais Rápido do Mundo, publicado em 2011 e lançado no Brasil com o nome de Ponto de Ignição.
Na história, Barry Allen descobre que algo mudou a cronologia da DC. Sem poderes, ele vê um mundo sem Superman (já que Kal-El foi capturado pelo governo) ou mesmo a Liga da Justiça. O Batman é, na realidade, o paizão Thomas Wayne, que viu o filho Bruce ser morto por um ladrão e a esposa Martha se transformar no Coringa. No final, o Flash descobre que o culpado dessa confusão toda é ele mesmo, que voltou no tempo para evitar que o mesmo Flash-Reverso matasse a mãe dele, Nora, e acabou causando um Efeito Borboleta que bagunçou toda a cronologia. Sem perceber, eis que então ele causa o reboot da DC nas HQs, o tal d’Os Novos 52.
É bom que a gente diga, antes de qualquer coisa, uma parada aqui: o fato de que o filme do Flash se chamaria (ou, sei lá, ainda pode se chamar, né) Flashpoint não quer dizer RIGOROSAMENTE nada sobre a trama do filme. Importar um nome dos gibis nunca quer dizer que a história será a mesma — sabe aquele nosso mantra, filme é filme, gibi é gibi, esqueça os quadrinhos? Pois é, continua valendo, mais do que nunca.
Porque, assim como o terceiro filme do Capitão América não foi uma Guerra Civil idêntica à das HQs, assim como a Guerra Infinita dos Vingadores nem de longe vai lembrar a sua contraparte em formato papel, um Flashpoint poderia, no máximo, ser uma história sobre paradoxo. Sobre Barry encarando a morte da sua mãe e tentando tirar o pai injustamente acusado da cadeia, sobre o Flash Reverso. Um pouco, talvez, como a série de TV tentou fazer no começo de sua terceira temporada, falhando miseravelmente e dando origem a uma sequência de episódios tão insuportável que, ao longo desta quarta temporada, os caras ainda tão suando pra tentar apagar da nossa memória.
Mas é preciso dizer aqui TAMBÉM que a crença de que a DC usaria a trama do velocista escarlate para dar um reboot em seu universo cinematográfico exatamente como nos gibis é rocambolesca demais. Ousar fazer seu próprio Novos 52 nas telonas seria uma admissão de fracasso que duvido que os Warners estivessem dispostos a bancar — até porque tem muita coisa vindo por aí neste calendário de lançamentos dos caras, sem qualquer julgamento de valor sobre os títulos, e, cá entre nós, é uma baita notícia incrível saber, por exemplo, que eles tão bem dispostos a dar um “foda-se” pra esta história toda de cronologia e universos compartilhados e fazer aquele tal filme do Coringa sem o Jared Leto numa boa, sem medo de ser feliz, sem ficar “putz, mas e como isso se encaixa com o filme da Liga da Justiça e do Esquadrão Suicida mesmo?”.
Ter este tipo de consciência e liberdade criativa te desobriga totalmente de ter que sequer sonhar com a caralha de um recomeço oficial e propriamente dito, esta praga que assombra os leitores de quadrinhos há DÉCADAS.
Talvez a decisão tenha, de alguma forma, relação direta com o tom do filme. Porque claramente o Barry Allen de Ezra Miller herdou um tanto da leveza do Barry dos gibis da Era de Prata, mas principalmente muito da juventude de Wally West em sua fase como Flash, depois da morte do tio famoso na época da Crise nas Infinitas Terras. No filme da Liga, o Flash é o alívio cômico, ainda que sejamos apresentados EM VELOCIDADE MÁXIMA (e, neste caso, não, não de um jeito bom) ao seu drama pessoal, visitando o pai na prisão e aquela história toda que dura no máximo uns 15 minutos.
Pode ser que, apesar dos pesares, apesar do pai na cadeia, do tal assassinato da mãe, este filme do Flash seja mais LEVE. Mais colorido. Mais bem-humorado. Cheio daquelas piadinhas que já nos fizeram dizer aqui, com todas as letras, que o Flash é quando a DC se dá ao luxo de ser um pouco Marvel (ah, os comentários no Facebook assim que alguém ousar chegar neste pedaço do texto...). Todo o peso que Flashpoint carrega, seja pra quem leu os gibis, seja pra quem viu a série de TV ou mesmo a animação longa-metragem Justice League: The Flashpoint Paradox, de 2013, pode passar imediatamente uma impressão errada.
Agora, muito aqui entre nós, FODA-SE a porra do título. Porque depois que Seth Grahame-Smith (roteirista de LEGO Batman) e Rick Famuyiwa (Dope: Um Deslize Perigoso) abandonaram a cadeira de diretor por conta das famigeradas “diferenças criativas”, a dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein (ambos roteiristas de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) assumiu uma responsabilidade aparentemente bem maior e casca grossa do que imaginaram, diante de um novo roteiro, cortesia de Joby Harold (Rei Arthur: A Lenda da Espada – OUCH). Segundo consta, caberia a Harold a honra de REESCREVER completamente o filme pela 3a vez. E o resultado, bom, pode não ser lá muito Flashpoint, no fim das contas.
Quando a dupla de cineastas FINALMENTE conseguir tirar a parada do papel, estando o diacho do filme programado para ser lançado em 2020 ou não, aí é que o título e as malditas teorias sobre ele vão passar a valer alguma coisa.