Tão querendo boicotar Mad Max: Estrada da Fúria... | JUDAO.com.br

Se você ainda precisa de alguma razão pra assistir a Mad Max: Estrada da Fúria, saiba que um “Ativista pelos Direitos dos Homens” resolveu pregar um BOICOTE ao filme.

“Uma aula de como se fazer um blockbuster do grande caralho.”

“Não, este não é um filme tão bom quanto você está imaginando. É ainda MELHOR.”

“Um dos grandes filmões da temporada. Deixa os grandes heróis da Marvel comendo poeira. E com certeza vai dar um trabalhão para os jedis, sith e o que mais vier por aí.”

“DE LONGE, o melhor filme de ação desse ano. Em MUITOS anos. Do passado... E provavelmente do futuro.”

Além de trechos da nossa resenha de Mad Max: Estrada da Fúria, estes me parecem ser argumentos bastante convincentes pra se querer assistir ao filme nos cinemas. Já estou bastante convencido de que devo fazer isso ONTEM, mas enquanto passava meu tempo no twitter nessa madrugada, me deparei com aquele que deve ser o melhor argumento para que eu, você e todo mundo estejamos, nesse exato momento, dentro da sala do cinema: “Men’s Rights Activists Call for Boycott of Mad Max: Fury Road”.

Yup. Ativistas pelos Direitos dos Homens pedem um boicote a Mad Max. ATIVISTAS PELOS DIREITOS DOS HOMENS. A razão? “Ninguém late ordens para Mad Max”. Não, pelo menos, se esse alguém for a Imperatriz Furiosa, personagem de Charlize Theron.

“Charlize Theron apareceu demais nos trailers, enquanto Tom Hardy parecia ter só uma participação. Charlize Theron falou muito nos trailers, enquanto eu não acho que ouvi uma palavra do Tom Hardy. E, finalmente, Charlize Theron latiu ordens pro Mad Max”, diz Aaron Clarey, responsável pelo blog Return of Kings que, entre outras coisas, tem posts como “Mulheres precisam ganhar seu respeito”, “Porque a vitória de Floyd Mayweather sobre Manny Pacquiao é uma vitória para a Homensfera”, “Estaria Bruce Jenner mudando de sexo porque as mulheres da sua família tem mais atenção?”, “12 razões pelas quais sua mulher vai acabar traindo você” e, com uma imagem de um cara se preparando pra bater numa mulher e a legenda “Women! Know your place”, o genial “Por que eu tenho orgulho de ser chamado de misógino”.

Mad Max

Segundo o nosso querido El Cid, o Thiago Cardim, que já assistiu ao filme e é o responsável por aqueles trechos que usei pra começar aqui, “Max fala pouco mesmo. Porque isso tem TUDO a ver com a personalidade do sujeito. Faz sentido pra história. Mas toda a ação gira em torno dele AND da Furiosa. De ambos. Os dois chutam bundas. Cada um a seu modo. Um salva o outro em determinado momento. E todo mundo meio que depende dos dois. Qual é a porra do problema em ser assim?”

Aaron não assistiu ao filme. Mas, baseado em dois artigos que leu, resolveu que o melhor a se fazer é convocar um boicote ao filme, que estreou no Brasil nessa quinta-feira (14). O primeiro deles era sobre a consultoria que Eve Ensler, autora de Monólogos da Vagina, prestou a George Miller, diretor de Happy Feet, Babe – O Porquinho Atrapalhado e, bom, Mad Max, sobre as escravas sexuais do filme; o segundo vem da revista Time (que ele, ironicamente, chama de “desatualizados e obsoletos”, além de “Baby boomers esquerdistas”), sobre o mesmo assunto, que afirma que Charlize Theron é que é a estrela do filme e que a consultoria de Eve Ensler fez do filme bastante feminista. E, aí, ele foi à loucura. “Estrada da Fúria não seria um filme feito pros homens. Seria propaganda feminista posando de guy flick”.

O primeiro ponto aqui é o trabalho da Eve Ensler. Além de autora de Monólogos..., Eve é fundadora do V-Day, uma organização que luta contra a violência a mulheres e crianças. No congo, o V-Day criou o City of Joy, “uma comunidade para mulheres sobreviventes da violência (...). City of Joy floresceu desde que abriu suas portas, em Junho de 2011, curando mulheres dos seus traumas através de terapia e outros programas, provendo a elas os ingredientes essenciais necessários pra seguir a vida”. Só pra se ter uma noção da importância do que ela ajudou a criar, “a República Democrática do Congo foi descrita como a ‘capital mundial do estupro”, de acordo com esse artigo da Wikipedia.

Mas, pra Aaron Clarey, “sua presumida expertise nesse assunto foi baseada num trabalho que ela diz ter feito no Congo”.

Todas elas conversaram com Eve Ensler

Todas elas conversaram com Eve Ensler

O segundo ponto... O que será que ele quis dizer exatamente com “filme feito pros homens”? Por que exatamente ele quer ver um filme “feito pros homens”? Não era o caso de se querer uma boa história, um bom filme... E só? “George Miller fez um filme ainda mais legal que o primeiro Mad Max. Como filme de ação. Sem interessar qual diabos é o sexo do personagem principal”, conta Cardim. Isso deveria bastar, não?

“O real problema”, prossegue Clarey, “não é se o feminismo infiltrou e cooptou Hollywood, arruinando quase todos os potencialmente bons filmes de ação com uma forçada personagem feminina ou um romance desnecessário pra conseguir aqueles 3 milhões extras em audiência de mulher”, diz. “Isso já aconteceu. O real problema não é se Hollywood tem a audácia de remover o homônimo de uma franquia chamada MAD MAX e substituir com uma personagem feminina impossível numa tentativa de reverenciar o feminismo. Isso já aconteceu.”

“O problema é se homens na América e em todo o mundo vão ser enganados por explosões, tornados de fogo e malucos no deserto, quando na verdade verão o que é nada mais do que propaganda feminista, enquanto ao mesmo tempo são insultados E levados a assistir a uma peça da cultura americana arruinada e reescrita em frente dos seus olhos”.

Mad MaxClarey continua, ainda, dizendo que tudo VISUALMENTE parece sensacional, mas não é o filme que “desesperadamente esperamos assistir”, com um homem de princípios lutando contra vários sem nenhum; que é um veículo que força o sermão do feminismo goela abaixo. “Esse é um Cavalo de Troia que feministas e esquerdistas de Hollywood usam para (em vão) insistir na história de que mulheres são iguais aos homens em todas as coisas, incluindo físico, força e lógica“.

O negrito foi por minha conta.

É engraçado que, sempre que a gente publica alguma coisa sobre diversidade, sobre representação das mulheres na cultura pop, homens brancos e heterossexuais dizem que estamos de mimimi, que estamos chatos, que é de vomitar; #SempreTem aquele que tenta provar, de alguma maneira, que “não é bem assim”. Mas quando surge um filme como Mad Max: Estrada da Fúria, que o Rotten Tomatoes chama de “consenso crítico” pelos 99% de críticas positivas (165 contra 2, sem contar a nossa), que NO MÍNIMO representa bem as mulheres, os caras pedem boicote e que se “espalhe a palavra para a maior quantidade de homens possíveis (...) porque se Estrada da Fúria for um blockbuster, então você, eu e todos os outros homens (e mulheres de verdade) do mundo jamais poderão assistir ao filme de ação de verdade que não contenha algum tipo de lição política ou moral sobre feminismo, justiça social e socialismo. Isso e você pode esperar que Hollywood condicione as jovens mulheres para serem parecidas com a Imperatriz Furiosa e não Sophia Loren”.

É nessa hora que a gente precisa se lembrar do que disse Jeremy Renner, sobre o pessoal se ofendendo com uma piada sobre uma personagem fictícia, e do tanto de gente que o defendeu, insistindo que era só um filme. Se é só um filme, só uma personagem... Por que a irritação agora?

Mad Max

Você pode ler o post completo aqui ou ir atrás do link do blog você mesmo e se perder no chorume. Mas cuidado: se você acha que Aaron Clarey, o cara que diz que seu blog é para homens heterossexuais e masculinos e que o valor da mulher depende significantemente da sua beleza e fertilidade, um imbecil, talvez queira evitar a todo custo ler os comentários. Você corre um sério risco de pegar ebola no olho.

E antes que eu me esqueça, Mad Max é uma franquia AUSTRALIANA, e não Americana. Inclusive, apesar de ser uma coprodução Austrália / EUA, Estrada da Fúria foi filmado na Austrália, África do Sul e Namíbia, sem nenhuma cena feita dentro da América. Mas não é como se a burrice de Aaron Clarey fosse segredo a essa altura do campeonato, né?