Nós vimos os seis primeiros episódios do novo ano da série — que de maneira BEM inteligente usa a tesoura pra voltar à primeira temporada, sem depender da megalomania dos Defensores
Depois daquele final da segunda temporada da série do Demolidor, que levaria ao que vimos na série dos Defensores, era natural que os produtores tivessem um “pepino” nas mãos pra descascar ao longo desta terceira temporada. Porque, dos quatro personagens do universo compartilhado Marvel / Netflix, Matt Murdock foi aquele que, de longe, acabou numa posição mais associada ao arquétipo básico do super-herói.
Como seguir a partir dali sem soar megalomaníaco em toda esta pegada “épica” de Tentáculo e afins? Simples, derruba um prédio em cima do herói, faz todo mundo acreditar que ele morreu e traz o sujeito de volta ao básico. Se fodendo. Apanhando um bocado. Se arrastando pelas ruas enquanto se recupera dos hematomas e das cicatrizes. Pega uma pitada de A Queda de Murdock, talvez o arco definitivo da história do Homem Sem Medo nos gibis, e leva ele de volta à primeira temporada.
Decisão mais acertada, impossível.
O JUDAO.com.br teve acesso aos seis primeiros episódios desta terceira temporada e o “enxugamento” da trama ficou claríssimo. Temos um Matt Murdock não apenas questionando a sua própria fé e o Deus no qual sempre acreditou, retornando à Igreja e ao orfanato onde foi criado, mas também questionando sua própria identidade. É um Matt Murdock que quer deixar Matt Murdock pra trás, que quer se assumir apenas como o Demônio. Porque, afinal, Matt Murdock pode ser um perigo para todos que ama e giram ao seu redor. É melhor mesmo que ele desapareça... antes que o Rei do Crime venha cobrar seu tributo.
Este é, basicamente, o resumo de TODA a trama. O embate entre Murdock e ele mesmo e, obviamente, entre o defensor da Cozinha do Inferno e um Wilson Fisk ainda mais focado em sua cruzada pessoal de vingança. Simples e direto ao ponto. Até as pequenas tramas paralelas da Karen Page e do Foggy não estão soltas, ficando INTRINSECAMENTE conectadas com o tema principal. Tamos falando MESMO de um único filme de 13 horas — ou, bom, considerando o que vimos até agora, de 6 horas. ;)
Tá legal, a gente gostou da segunda temporada do Demolidor, tudo bem, mas não dá pra negar que o Justiceiro simplesmente roubou a cena durante todo o seu tempo de tela. Ponto. No fim, ele acabou colocando o Matt como coadjuvante de sua própria série.
Depois de dividir as atenções com Jessica Jones, Luke Cage e Danny Rand, até isso parece ter sido uma bem-vinda correção de curso, colocando Matt de volta no papel de protagonista. A conexão é muito maior com a primeira temporada do que com a segunda — e não apenas porque ele volta, por motivos que fazem total sentido, a usar uma variação daquela primeira roupa preta com a qual começou a patrulhar as ruas da sua vizinhança.
Limpando a história e tirando todos os acessórios e penduricalhos, dá pra ter mais empatia pela luta interna do Matt, por exemplo. E dá pra ver o Rei do Crime brilhando ainda mais. Porque, nossa senhora da boa adaptação das HQs, como o Vincent D’Onofrio é filhadaputamente bom neste papel.
Ele dá uma verdadeira aula de manipulação, canalhice, tá ainda mais assustador (várias vezes, quando ele levanta da cadeira devagarinho, você logo pensa “fodeu”) e, ainda assim, você sente PENA do miserável em algumas ocasiões. Porque ele não quer apenas esmagar seu principal inimigo — ele quer fazer isso principalmente como forma de manter a sua amada bem. E segura, longe de problemas jurídicos, longe das mãos da lei americana. Impossível não ter um pequeno momento de “putz, cara, que merda, será que eu consigo te ajudar em alguma coisa?”.
Ah, sim, tem o Mercenário. Que, seis episódios depois, já dá facilmente pra cravar que é uma versão bem mais interessante que a original dos gibis.
Ah, tá bom, a habilidade do sujeito nos gibis é muito legal, a coisa de conseguir transformar qualquer coisa em arma, de ter uma mira fora do comum... Tudo isso é genial e é retratado de maneira incrível também na série, numa sequência de luta ao mesmo aflitiva e de cair o queixo. Mas o mais legal é que ele ganha uma profundidade adicional que até hoje as revistas não tinham conseguido dar.
Graças a uma sequência de flashback executada de maneira brilhante — sem exagero, um dos momentos mais legais e experimentais de toda a trajetória Marvel/Netflix até aqui — nós descobrimos uma criança cheia de pequenos transtornos que se tornou um homem perigoso e obcecado, que flertava com a morte, a quem era necessário apenas um empurrão ao invés da ajuda necessária. E o Fisk tava lá.
Resultado? Deu merda.
Focar no que realmente importa é a principal mensagem desses primeiros episódios da 3a temporada de Demolidor
Se o restante dos episódios seguir este caminho, estamos diante não apenas de uma temporada que vai diretamente pro topo da lista do que a Casa das Ideias já fez de melhor com o serviço de streaming de Los Gatos como também de uma verdadeira aula para o restante dos amiguinhos sobre como conduzir as coisas daqui pra frente. Focar no que realmente importa é a principal mensagem.
Aliás, vamos lá, talvez a lição já esteja sendo seguida porque, se a ideia era trabalhar de um jeito mais enxuto e deixando pra trás aquilo que é só penduricalho, bom, digamos que o cancelamento da série do Punho de Ferro é um ÓTIMO começo, não é mesmo? ;)
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