Carol Pimentel vai substituir Rogério Saladino em suas funções como editor na Panini – assumindo um papel que pela primeira vez será desempenhado por uma mulher! :D
Se você acompanha o JUDÃO com frequência, sabe que a cultura pop, quadrinhos incluídos, vive um saudável momento de discussão a respeito de diversidade e inclusão. A Marvel é exemplo vivo e pulsante deste cenário. Do lado dos personagens, temos uma formação futura dos Vingadores que tem Thor mulher, um Homem-Aranha e um Capitão América negros (e o Aranha ainda é hispânico), uma Miss Marvel muçulmana... Nos bastidores, temos as editoras Sana Amanat, Emily Shaw e Katie Kubert (sobrinha de Adam e Andy) cuidando de alguns dos títulos mais renomados da Casa das Ideias, em meio a um ambiente que sempre foi tipicamente dominado pelos homens.
O legal é que este é um movimento que, de alguma forma, parece ter infectado também a Panini, editora que publica os gibis da Marvel aqui no Brasil. Rogério Saladino, um dos nomes mais conhecidos do mundinho nerd tupiniquim, saiu da empresa para se dedicar a um novo trabalho na editora Jambô – que, vejam só, inclui cuidar dos RPGs da série Tormenta, que ele criou originalmente ao lado de Marcelo Cassaro e JM Trevisan em 1999, ainda dentro da finada revista Dragão Brasil.
Saladino era, até semana passada, o editor das revistas do Homem-Aranha, dos X-Men e e da linha Ultimate. Agora, a responsabilidade ficou nas mãos da simpática e divertida Carol Pimentel, que bateu um rápido papo com o JUDÃO sobre esse momento. “Pelo que eu sei, sou sim a primeira mulher a entrar na redação da Panini e consequentemente a primeira a assumir a linha das revistas mensais”, revela ela. “Isso é algo com o que ainda não me acostumei, uma responsabilidade de peso para representar a mulherada”.
Carol vai cuidar de todo o processo referente a estas três publicações e seus variantes, desde a separação do material a ser traduzido até os últimos retoques. “Lemos o material algumas vezes, verificamos as traduções e os detalhes de letreiramento. É bastante trabalho e requer muito cuidado...”.
Fã de quadrinhos desde a infância, a editora confessa que nunca foi uma menina “convencional”, identificando-se bem mais com o que se aprendeu a chamar de menina-moleca. “Gostava muito de ler quadrinhos de super-heróis enquanto as meninas liam coisas de meninas. Nos anos 80 eu li muito, mas depois com a vida adulta batendo nas costas, tive que correr atrás de trabalho, faculdade etc. e acabei deixando essa paixão em segundo plano. Mas sempre mantive os quadrinhos por perto, via filmes, participava de encontros de fãs e sempre que podia puxava um assunto ou outro a esse respeito”.
A formação original de Carol pode até parecer surreal, num primeiro momento: física, exatamente como os personagens principais de The Big Bang Theory. Mas o motivo... “Resolvi estudar isso para entender melhor os famosos transístores da armadura do Homem de Ferro que sempre me fascinaram desde criança”, confessa. “Mas como não tenho a grana do Stark foi difícil projetar algo parecido”. Em 2013, decidiu mudar de área e botou na cabeça que ia fazer o que realmente gostava. “No início pensei em voltar à graduação e até fiz um ano e meio de Letras novamente, mas percebi que não iria me aproximar verdadeiramente da área. Assim eu decidi procurar um orientador, na área de tradução, que topasse trabalhar com quadrinhos e felizmente dei essa sorte!”.
Foi este mestrado que fez com que ela chegasse à Panini, onde trabalha há cerca de um ano, apresentada pela amiga Germana Vianna – quadrinista e casada, vejam só, com Saladino. Inicialmente, o contato foi apenas acadêmico: ela só precisava entender melhor os processos de produção editorial e foi colocada em contato com o Fernando Lopes, gerente editorial. “Alguns meses se passaram após essa visita e eu recebi um convite, do próprio Fernando, para ser Assistente Editorial. Depois de quase desmaiar lendo o e-mail eu respondi prontamente que SIM!”.
A primeira reação, assim que soube da saída do Saladino, foi de tristeza. “Fiquei tão chateada que nem tive tempo de pensar em mais nada. Eu estava cuidando de algumas edições especiais da Salvat e confesso que fiquei sem ar quando o Paulo França (editor sênior da Marvel) me chamou para conversar, foi o segundo melhor presente que recebi na vida”. O que viria a seguir seria um momento de surto, porque “esse tipo de coisa a gente nunca pensa que vai acontecer com a gente”. Depois que se lembrou de respirar, Carol confirma que não aguentou e começou a pular, abraçou a equipe e gritou baixinho de felicidade.
Até agora, nos primeiros dias na nova função, ela afirma que ainda não sentiu o peso de “ser mulher” neste cargo, à medida que a notícia vai se espalhando entre os fãs, mas sim a responsabilidade por estar no lugar de um profissional como o Saladino. “O conhecimento que ele tinha (e tem) é algo surpreendente e eu espero poder ter um pouquinho disso”. Assumir uma linha tão importante de revistas vem acompanhado de um tantinho de medo, o que é bem natural. “Juro que tremi na base – e ainda estou tremendo – mas conto com a ajuda dos outros editores e farei o meu melhor para manter o nível de excelência em tudo que puder”.
Carol acha que, sim, vai rolar uma cobrança dos fãs mais xiitas justamente por ela ser mulher – ela não pode entender da intrincada cronologia X ou das idas e vindas do mundo aracnídeo tanto quanto um nerd macho alfa autêntico, certo? “Os meninos vão ter que se acostumar com a mulherada que já está ganhando terreno neste mundo de HQ”, crava ela. “Temos diversas produções independentes incríveis saindo por aí e muita mulher parruda abrindo caminho neste universo. Acho que, como em todas as outras áreas, aos poucos a coisa se torna comum e as pessoas deixam de apontar o dedo para o gênero e passam a observar o desempenho”.
E pra encerrar, deixa o recado: “Avante Mulherada!”.