Vem aí um pacotão de novidades, com foco na diversidade de personagens e enredos. Parte das novidades já havia sido adiantada pelo JUDÃO em dezembro ;)
Vai mudar tudo. Ou quase tudo. De novo. A DC Comics anunciou nesta sexta-feira (06) a maior mudança na linha de gibis mensais desde o reboot de 2011.
Os Novos 52 estarão, a partir de junho, oficialmente mortos. Começa a fase da Divergência.
Lançados em setembro de 2011, Os Novos 52 representaram uma grande mudança de rumos para a editora na época, parte do aumento do interesse da Warner pela DC. Praticamente toda a cronologia foi zerada, introduzindo um grande ponto de partida para novos e antigos leitores. Depois de três anos e meio, ficou bem claro o que deu certo – e o que falhou miseravelmente – nessa iniciativa. Veio então a segunda fase do aumento de controle da Warner, com a DC Comics mudando de sede para Burbank, na Califórnia. Pra dar tempo de empacotar e desempacotar a mudança, o grupo deu uma parada nas publicações mensais, substituídas por gibis especiais que revisitam personagens de diversas cronologias do passado. Era a saga Convergence.
Como já tínhamos adiantado em dezembro, a editora agora vai dividir as suas revistas mensais em dois grandes grupos: o primeiro, formado por 25 títulos sobreviventes d’Os Novos 52, com aqueles que deram melhor resultado, muitos com novas equipes criativas. Superman, Batman e Mulher-Maravilha, entre outros. São heróis conhecidos internacionalmente, que vendem relativamente bem, sempre estão aparecendo em outras mídias...
O segundo, com 24 gibis, vai ser das experimentações, das novidades, com títulos como Bat-Mite (o famoso Bat-mirim), Bizarro, Canário Negro, Martian Manhunter, Omega Men, We Are Robin, Midnighter (estrelado por um super-herói gay)... Alguns desses gibis inclusive já surgem como minisséries, revelando que a ideia é realmente fazer testes.
Teremos também Batman Beyond, aquele da série animada dos anos 90, por Dan Jurgens e Bernard Chang; Constantine: The Hellblazer, por Ming Doyle e Riley Rossmo; a minissérie Section Eight, por Garth Ennis e John McCrea; e Justice League of America, com roteiro e arte de Bryan Hitch – sim, aquele mesmo de Os Supremos.
Outras novidades nem são tão novas assim, como Earth 2: Society, que deve continuar com as histórias sobre a galera da Terra 2; Dark Universe, provavelmente ampliando os conceitos da agora cancelada Liga da Justiça Sombria; e Justice League 3001, uma clara continuação da Liga da Justiça 3000, inclusive mantendo Keith Giffen e Howard Potter na equipe criativa.
“Nós queremos expandir a experiência com publicações para que existam histórias em quadrinhos para todo mundo”, disse o co-publisher Jim Lee no comunicado que anunciou as mudanças. “Por exemplo, fãs da série Arrow podem querer mais histórias sobre a Canário Negro. Agora eles encontram uma versão moderna da personagem, com toques atuais em uma série própria, tanto física quanto digitalmente”.
Jim Lee também explicou mais alguns detalhes dessa história toda de diversidade. “Além de personagens e criadores, junho irá mostrar diferentes estilos e abordagens para contar histórias enquanto adicionamos títulos um pouco diferentes, irreverentes e engraçados como Bizarro, Bat-Mite e Prez. Realmente vai ter algo para todo mundo simultaneamente enquanto celebramos o nosso rico legado ao abraçar novas vozes e conceitos”.
Para quem não conseguir aguentar até junho, será publicado no começo de maio, como parte do Free Comic Book Day, o especial DC Comics: Divergence, com três previews de oito páginas das novas publicações. Entre eles, o primeiro VISLUMBRE da saga Darkside War, com o conflito entre o Senhor de Apokolips e o Anti-Monitor, que sairá nas páginas de Justice League. A lista completa de títulos e equipes criativas de junho – que inclui os nomes dos brasileiros Ivan Reis, Joe Prado e Gustavo Duarte – pode ser vista diretamente no site da DC.
As mudanças na DC chegam em um momento que fica clara a importância de se expandir o mercado de quadrinhos para além dos fãs habituais dos gibis. Nos EUA, os super-heróis dominaram essa mídia no passado, mas a partir dos anos 90 foram surgindo dois grandes problemas.
O primeiro deles é a competição com outras formas de HQs, principalmente os mangás. Os títulos japoneses conseguem ser mais diversos em suas histórias, enredos e conflitos, indo muito além do velho esquema do “cara superpoderoso contra o vilão”. Eles estão lá, claro, mas são apenas parte do todo.
Com as novas HQs, a DC quer atrair mais o público feminino, mais o humor, o divertido, o sombrio – mesmo que, pra isso, ainda continue usando personagens e conceitos criados com base nos super-heróis. Trazer o Gustavo Duarte para desenhar o Bizarro é um claro exemplo disso.
O segundo problema é a cronologia. Por mais que os filmes e séries de TV tragam novos leitores, eles esbarram em uma enorme barreira quando compram o gibi e percebem não só que a história ali é diferente, como tem muita coisa anterior pra ler até entender o que está pegando. O reboot de 2011 resolveu isso por algum tempo, mas é impraticável fazer reboots de 3 em 3 anos.
A partir de Convergence e com a nova fase, a DC está se libertando das amarras da continuidade. Há sim uma cronologia, mas isso não impede a editora de ir lá e apostar em um novo título que não se encaixe necessariamente com aquilo. Acabou também o rótulo de “Os Novos 52”. Agora a editora pode publicar quantos gibis quiser, dentro da cronologia que quiser. Como Convergence vai estabelecer em breve, tudo vai contar.
Assim, a DC Entertainment, braço da Warner que controla a editora, irá tentar manter o crescimento de leitores que vem sendo registrado desde 2011. Afinal, eles já estavam atingindo o potencial máximo do público que tem interesse em super-heróis, ficando cada vez mais difícil ampliar esses números. Agora eles vão poder atingir outras pessoas. Vão conseguir? Bom, a história aí já é outra.
Como já falamos, boa parte dessas mudanças já haviam sido adiantadas aqui no JUDÃO – basicamente, a parte de dividir a linha atual de HQs em duas, uma para os medalhões, outra para as apostas. Só que havia um outro detalhe: essa segunda parte seria digital, sem versão física.
Era uma mudança muito arriscada, claro, e a editora não quis assumir esse risco. A DC preferiu focar no certo, no garantido, mantendo toda a linha principal de HQs ainda com venda física nas comic shops dos EUA. Em parte, acreditamos que esse caminho também tenha relação com as recentes derrapadas do ComiXology, que, apesar de não falar isso abertamente, claramente deu uma esfriada na venda de revistas em quadrinhos digitais.
Outro detalhe é que a DC Entertainment faz parte de um grande grupo, precisa dar resultados onde todo mundo fica de olho – e lançar metade das publicações sem versão física não ajudaria nisso. Tanto é que acabaram de sair os números das vendas de HQs físicas nos EUA em janeiro, divulgados pela distribuidora Diamond. A Casa das Ideias abocanhou 41% de todo o dinheiro gasto nas comic shops, muito por conta do enorme sucesso de Star Wars #1, contra 24% da Distinta Concorrência. Foi uma derrota grande.
Porém, faz sentido também que futuros lançamentos do segmento de “apostas” saiam primeiro em versões digitais e, se der certo, daí sim seriam impressos. Isso deve acontecer principalmente com materiais mais autorais, e já é algo que a editora faz com alguns gibis, como Batman ’66.
Bom, pra resumir: tudo isso aqui tem só um objetivo: inverter esse jogo e mostrar, de uma vez por todas, que gibi não é coisa de criança ou de homem-adulto-branco-nerd, mas sim um entretenimento pra qualquer um. Afinal de contas, é isso que representa “diversidade”.
Marvel, now it’s your turn! :D