Minissérie em quatro edições será lançada pela IDW Publishing em setembro, mostrando o que aconteceu depois que Pedro virou presidente do grêmio estudantil da escola
Se você perguntar lá pelos corredores de Hollywood, vai ouvir que Jared Hess é um bom exemplo de cineasta independente, que faz muito com pouco e sabe cravar bem sua assinatura naquilo que dirige. Mas, lá pelos idos de 2004, o americano era... ninguém. Ponto. Mal conseguia dizer que era “cineasta”, quanto mais independente. Já tinha, no entanto, dirigido um curta quando ainda estudava cinema na Brigham Young University. O nome da produção toda em P&B era Peluca, sobre um estudante bastante estranho chamado Seth. Ali tinha plantado uma semente.
A produção era de fato esquisita, mas era uma espécie de estudo de personagem que de alguma forma fez com que seus amigos dissessem “pô, investe nisso, meu”. E ele foi atrás, formatando o roteiro de cunho quase autobiográfico com a ajuda da esposa Jerusha Hess. Conseguir investimento não foi uma tarefa fácil, os endinheirados achavam aquilo muito bizarro, então ele apertou daqui e dali, arrecadou US$ 400 mil e partiu pra rodar Napoleon Dynamite. Filmado em 22 dias, o filme foi protagonizado pelo parça do aspirante a diretor, Jon Heder, que recebeu US$ 1.000 pelo trabalho. No fim, o filme foi editado no apartamento do produtor Jeremy Coon.
Descolando uma pequena exibição no Festival de Sundance, que acabou rendendo um incrível boca a boca, Napoleon Dynamite foi comprado pela Fox Searchlight, a divisão indie da 20th Century Fox. Com o apoio da Paramount e da MTV Films, a produção foi parar num pequeno porém significativo número de salas. Significativo o bastante para que a fita se tornasse um hit nos circuitos independentes e garantindo um surpreendente saldo de mais de US$ 40 milhões em bilheteria. Nascia ali mais um cult.
Napoleon é um moleque de 16 anos que vive na cidade de Preston, Idaho. Legalmente segurado contra abdução de OVNIs, ele tem um talento nato para desenhar mutações animais, como leões mesclados com unicórnios. Mora com a avó – adepta de corridas de quadriciclos motorizados em dunas – e o irmão de 32 anos, que possui uma bizarra inclinação para as artes marciais e passa os dias teclando em chats com conexão discada. Tem os lábios frágeis, mas diz a lenda que é mestre em lutar com nunchakus. Nas férias, Napoleon trabalha engaiolando galinhas numa granja, e passa as horas vagas lutando contra lobos selvagens no Alaska (!). Além disso, é dono de uma temperamental lhama de estimação chamada Tina.
Mas justamente quando ele passa por uma de suas piores crises familiares EVER, já que sua avó sofre um acidente e ele passa a ser cuidado por um tio que o trata como um idiota, Napoleon se vê obrigado a superar o medo dos valentões da escola e acaba virando amigo de um novo estudante, o mexicano de nome Pedro. O cara é demais, gente: ele não fala muito, tudo bem. Mas ele tem UM BIGODE. Como não ter um camarada destes como ídolo? E quando o novato cisma de se candidatar a presidente do grêmio estudantil, ora diabos, Napoleon jamais deixaria de apoiá-lo. Tudo no maior climão bem retrô mesmo, respirando puro anos 80 pelos poros a cada figurino, penteado ou pedacinho de trilha sonora.
Sim, foi ESTE filme que faturou esta grana toda. Mas se você assistiu esta pequena pérola, vai sacar imediatamente o motivo. Porque não tem como não se apaixonar por um cara capaz desta coleção de movimentos, que também podemos chamar de “dança”, ao som de Canned Heat, do Jamiroquai.
Durante muito tempo, a Fox Searchlight tentou convencer Hess a rodar uma continuação, mas os tais conflitos de agenda de todos os envolvidos acabavam se tornando empecilhos. O diretor, na verdade, tinha medo de que as pessoas se cansassem dos personagens, além de uma neura sobre como se encararia os atores que obviamente envelheceram voltando a papéis mais adolescentes. Tentou-se vencer este abismo da questão da idade em 2012, com a sitcom animada de mesmo nome, uma cocriação ao lado de Mike Scully, que chegou a ser showrunner dos Simpsons durante quatro temporadas. Mas apesar das vozes do elenco original e da vontade de todos os envolvidos, Napoleon Dynamite versão desenho não deu certo e durou meros SEIS episódios.
Pois agora, 15 anos depois, parece que FINALMENTE vamos descobrir o que aconteceu depois da inesperada vitória do Pedro nas eleições. Mas não vai ser numa telinha, e sim nas páginas das quatro edições do gibi Napoleon Dynamite, que a editora IDW Publishing lança a partir de setembro.
O roteiro é da dupla Carlos Guzman-Verdugo e Alejandro Verdugo, criadores do gibi indie Time Cheetah, enquanto a arte fica nas mãos de Jorge Monlongo, ilustrador espanhol que ficou conhecido nos EUA principalmente por seu trabalho nos gibis que adaptam o desenho Hora de Aventura. A capa do primeiro número é esta ao lado, cortesia do traço de Sara Richard, mas já se sabe que teremos obviamente capas variantes que vão usar imagens do filme original.
Na história, Pedro reina absoluto como presidente do grêmio estudantil da escola, mas seu mandato acaba sendo ameaçado por acusações de que ele teria fraudado as eleições. A situação força Napoleon e a terceira componente do trio, a garota Deb, a descobrir a verdade e tentar limpar o nome do camarada bigodudo antes que seja tarde.
“Napoleon Dynamite é um marco na cultura pop, um clássico cult que passou de geração para geração e que fala com o coração do esquisitão que existe dentro de cada um de nós”, afirma Alejandro, em entrevista ao THR. “É uma honra ter a chance de expandir as vidas de Napoleon, Deb e Pedro — personagens que continuam a ressoar nos dias de hoje. Eu ainda vejo pessoas usando aquelas camisetas Vote For Pedro“, explica.
Carlos complementa, dizendo que, com esta nova história, os autores estão se focando em acertar o tom único do filme, encontrando o equilíbrio perfeito entre comédia pastelão e um cativante drama intimista. “Tem sido um desafio, de fato, mas do tipo que temos certeza que vai valer a pena para os fãs das antigas”.